Covid-19: Açores já só têm um caso activo. Foi extinta a última cadeia de transmissão

Arquipélago regista apenas um caso ainda activo de covid-19, em Ponta Delgada. A secretária da Saúde diz ao PÚBLICO que os resultados são fruto das iniciativas do executivo regional e rejeita aligeiramento das medidas de prevenção.

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Rui Pedro Soares

Os Açores já só têm um caso activo de covid-19. Com a recuperação de uma profissional de saúde do Lar do Nordeste — instituição onde ocorreu a maioria das mortes na região —, foram extintas as cadeias de transmissão local de covid-19 no arquipélago.

“Com o caso de recuperação registado, o concelho do Nordeste fica sem casos positivos activos e é extinta a última e maior cadeia de transmissão local registada na região autónoma dos Açores”, revela o comunicado da Autoridade de Saúde Regional. O Nordeste, devido à cadeia de transmissão agora extinta, tornou-se o concelho com mais casos positivos em toda a região – no total foram 54. Foi também no concelho que se registaram 12 das 16 mortes de pacientes com covid-19 no arquipélago, todos utentes do lar de idosos. Agora, dois meses depois, já não têm qualquer caso de covid-19.

“O sucesso da região na contenção da pandemia de covid-19 deve-se à assertividade das medidas adoptadas, à disciplina e conduta cívica dos açorianos e à sua condição arquipelágica”, diz ao PÚBLICO Teresa Machado Luciano, secretária regional da Saúde, descrevendo as medidas do Governo Regional na gestão da pandemia como “muito assertivas”.

Teresa Luciano enumera cinco políticas para explicar o sucesso da região para conter a pandemia de covid-19. A primeira foi a imposição de quarentenas obrigatórias a todos os passageiros vindos do exterior, medida que viria ser considerada inconstitucional. A segunda política foi a “limitação da circulação inter-ilhas”, uma vez que, por exemplo, todos voos da SATA foram suspensos. A criação de cercas sanitárias nos seis concelhos de São Miguel, “onde existiam mais cadeias de transmissão activas”, e o alargamento da definição de caso suspeito de covid-19 a todas as pessoas provenientes de áreas com transmissão local são outros exemplos das medidas “assertivas” do executivo açoriano. “Testámos todos esses casos suspeitos, mas também outras pessoas que, embora não reunindo os critérios clínicos e epidemiológicos, a equipa de saúde pública, na sua investigação, considerou deverem ser testadas”, assinala.

Por último, Teresa Luciano refere que testaram desde “muito cedo” vários “trabalhadores de lares de idosos, profissionais de saúde e comunidade escolar”. Todas essas medidas implicaram um “trabalho colossal”, mas transformaram em vantagem a “vulnerabilidade” de viver num território disperso por nove ilhas: “erigindo estas barreiras, tornámos a nossa maior vulnerabilidade, uma realidade arquipelágica de povoamento disperso, na nossa maior força”.

Desde o primeiro caso a 15 de Março, os Açores registaram 146 infectados pelo novo coronavírus: 108 em São Miguel, 11 na Terceira, cinco na Graciosa, sete em São Jorge, 10 no Pico e cinco no Faial. No total, 126 recuperaram e 16 morreram. As ilhas das Flores, Corvo e Santa Maria nunca registaram qualquer caso.

Nas últimas semanas, com o aumento dos recuperados, o grupo de ilhas açorianas sem casos de covid-19 foi aumentando. O último caso detectado nos Açores foi a 17 de Maio em São Miguel, a única ilha ainda com um caso activo, em Ponta Delgada. Sobre a recuperação desse caso, a secretária da Saúde diz apenas esperar que seja “o mais cedo possível”.

A recuperação desse utente poderá fazer dos Açores a primeira região do país sem casos de covid-19. Mas com a retoma da operação da Azores Airlines (prevista para 15 de Junho entre a região e o continente e a um de Julho para destinos internacionais) e as ligações da TAP (que nunca deixou de voar para o arquipélago), continua a existir a possibilidade de aparecerem novos casos de covid-19 nos Açores.

“Estamos a tomar todas as precauções para conter a importação de casos”, diz a secretária regional, referindo as hipóteses dadas aos passageiros que chegam à região: apresentar um teste negativo à chegada, submeter-se à realização de um teste no desembarque ou cumprir quarentena voluntária em hotel.

Por isso, mesmo com a redução significativa do número de infectados, os açorianos devem “reforçar as medidas de prevenção”. “Não é tempo de baixar armas, porque o inimigo é invisível. A retoma da actividade só será bem-sucedida se todos nós cumprirmos com rigor estas medidas”.

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