Moradores de Caxias temem que via rápida lhes passe em frente à janela

Via Longitudinal Sul, considerada “estratégica” pela Câmara de Oeiras, está ainda em fase de projecto, mas a versão preliminar deixa residentes de Caxias preocupados com a possível degradação da sua qualidade de vida.

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A VLS vai atravessar esta zona, em viaduto Nuno Ferreira Santos
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O terreno para onde está prevista a estrada, com prédios de habitação à direita e um centro de cuidados continuados à esquerda Nuno Ferreira Santos
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Alguns residentes da zona têm protestado com tarjas à janela Nuno Ferreira Santos

Convictos de que a Câmara de Oeiras se prepara para lhes construir uma via rápida em frente à janela, moradores de Caxias organizaram-se numa associação para tentar levar a autarquia a mudar de ideias. O município diz que o projecto ainda não está pronto e recusa-se a dar mais informações, apontando o início da obra para o próximo ano.

No centro do debate está a chamada Via Longitudinal Sul (VLS), uma estrada idealizada há quase 30 anos para ligar o concelho de ponta a ponta, que Isaltino Morais prometeu finalmente concretizar depois do seu regresso à autarquia. A câmara considera-a “estratégica” porque vai unir várias zonas agora expectantes para as quais estão a ser projectados empreendimentos habitacionais e parques empresariais. Quando estiver pronta, a VLS deverá ter quatro de vias de trânsito e vai funcionar como uma alternativa à A5, mas sem portagens.

Este é um dos pontos que mais preocupa a Associação Cidadãos por Caxias (ACC), composta por moradores daquela localidade, que temem perder qualidade de vida com a construção da estrada. Um dos troços da VLS vai unir a Cidade do Futebol ao hospital prisional e ao bairro do Murganhal, prosseguindo entre Laveiras e a Pedreira dos Italianos na direcção de Paço de Arcos. Segundo o traçado preliminar que consta em todos os documentos camarários, no Murganhal há uma parte da estrada que passará entre dois blocos de habitação e um centro de cuidados continuados.

“Estamos a falar de uma via de muito trânsito, que vai desviar o trânsito todo de Oeiras pelo meio de uma zona residencial. Vão fazer uma estrada de quatro vias encostada a um hospital, a um centro de cuidados paliativos, a moradias e a prédios”, alerta Mário Veiga da Silva, presidente da ACC.

Tanto o centro de cuidados continuados Naturidade como os prédios das ruas Carlos Pereira e Constança Capdeville são bem mais recentes do que a intenção de construir a estrada, pelo que o PÚBLICO perguntou à Câmara de Oeiras porque tinha autorizado essas construções e que medidas estavam previstas para minimizar os impactos negativos da obra. Essas e outras questões ficaram sem resposta. “Quando o projecto estiver concluído, e antes da sua aprovação, será então dado a conhecer e serão respondidas todas as perguntas”, assegurou fonte oficial. 

Centro empresarial em perspectiva

Nos últimos meses, moradores daquela zona colocaram cartazes nas varandas em que escreveram “Não valley tudo”, uma alusão à nova imagem institucional do município, que passou a ser Oeiras Valley em meados de 2018.

Mário Veiga da Silva queixa-se de estar à espera de uma reunião com o executivo há mais de um ano. “Houve um compromisso do presidente de que voltaríamos a reunir quando houvesse novidades”, afirma, referindo que houve já um primeiro encontro, em Fevereiro de 2019, em que lhes foi mostrado um estudo prévio que confirma os seus receios. Desde então, acusa, “a câmara simplesmente não dá informação”.

“Aquilo que eu disse é para cumprir. O projecto, logo que esteja em condições, será presente à assembleia municipal e será presente aos moradores”, afirmou Isaltino Morais na semana passada durante a reunião assembleia municipal, onde também disse que a estrada passará ao nível da cave dos edifícios.

No fim de Março, numa reunião de câmara, o presidente reafirmou que “a VLS é uma infra-estrutura estratégica de iniciativa e escala municipal”, cujo projecto está a ser desenvolvido pelos serviços municipais. O autarca assegurou que está a ser feito um estudo de impacte sonoro e que também “se encontra a decorrer o estudo de tráfego da VLS que permita analisar a capacidade da via e os respectivos impactes na rede viária envolvente, considerando eventuais reafectações de tráfego associados à sua abertura e taxas de crescimento que reflictam o desenvolvimento urbanístico.”

Para uma área de 42 hectares entre a A5 e Laveiras, pertencentes maioritariamente à construtora Teixeira Duarte e por onde a VLS vai passar, está a desenvolver-se o Plano de Pormenor Norte de Caxias, que segundo os seus termos de referência está vocacionado “maioritariamente para a fixação de empresas do sector económico do terciário superior.”

Decorreu já uma primeira fase de consulta pública do plano e os Cidadãos por Caxias protestaram contra a via, a que os termos de referência atribuem grande importância para o desenvolvimento urbano e económico do concelho. “A diversificação e qualificação do sector dos serviços associado ao incremento das acessibilidades permitem definir um quadro favorável à instalação de empresas e indústrias na área criativa, biotecnológica e de energias renováveis”, lê-se. “Esta via, para além de permitir uma distribuição viária longitudinal, irá colmatar uma série de constrangimentos nos fluxos viários nos troços de ligação, nomeadamente na rotunda da Quinta da Fonte.”

Mário Silva, no entanto, contesta toda a argumentação do município. “Já têm os projectos feitos, vão começar a obra e agora é que fazem os estudos. O presidente acusa-nos de sermos contra o progresso, como se o progresso de um país se medisse pelo número de estradas”, comenta.

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