Covid-19: Hospitais estão no limite mas Índia prepara-se para levantar quarentena

Estado de emergência está a terminar e epidemiologistas temem que aliviar da quarentena seja prematuro. Em Bombaim, as camas de hospital são partilhadas por duas pessoas.

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Médicos ensinam regras de higiene num hospital em Bombaim Reuters/FRANCIS MASCARENHAS

Apesar de o número de infecções por covid-19 estar a subir a pique no país – cerca de 7500 novos casos nas últimas 24 horas – e de os hospitais estarem sobrelotados, a Índia prepara-se para continuar a levantar a quarentena e reabrir a economia. O económico do país no primeiro trimestre do ano registou o valor mais baixo dos últimos oitos anos.

Segundo os dados revelados esta sexta-feira pelo Governo indiano, a economia cresceu 3,1% entre Janeiro e Março deste ano, quando no mesmo período do ano passado, esse valor foi de 5,7%. Acresce que, só em Abril, cerca de 120 milhões de pessoas perderam o emprego.

Perante estes números, e temendo um agravar da situação, o Governo nacionalista hindu de Narendra Modi, que no início desta semana começou uma nova fase de desconfinamento, com a reabertura dos aeroportos, prepara-se para levantar o estado de emergência que vigora até ao próximo domingo. Durante esta sexta-feira, Modi auscultou as preocupações dos seus ministros e a sua decisão sobre prolongar ou não o confinamento deverá ser anunciada no sábado.

O cenário mais provável é que a política de desconfinamento, que começou nas últimas semanas, seja para continuar, o que está a gerar preocupação entre médicos e epidemiologistas, que temem que seja demasiado cedo. Com o rigoroso confinamento imposto por Modi, no final de Março, a Índia conseguiu conter o crescimento desenfreado de novos casos de infecção numa altura crítica. No entanto, não conseguiu achatar a curva. Por isso, se nesta fase o vírus não for contido, os epidemiologistas prevêem que o país possa atingir um milhão de infectados nas próximas semanas, sendo que os hospitais, sobrelotados, não têm capacidade para dar resposta à procura.

“Do ponto de vista da saúde pública, penso que a quarentena permitiu controlar a doença. Mas, claro, à medida que as restrições foram sendo levantadas na última semana ou nos últimos dez dias, o número de casos começou a aumentar rapidamente”, afirmou ao New York Times Ashish Jha, director do Harvard Global Health Institute.

O confinamento imposto pelo Governo foi considerado um dos mais agressivos em todo o mundo. Quando anunciou as restrições, Narendra Modi deu apenas quatro horas aos indianos para se preparem antes de a quarentena entrar em vigor. Milhões de trabalhadores migrantes ficaram retidos nas grandes metrópoles, impossibilitados de regressar a casa, devido à suspensão dos voos, autocarros e comboios.

Com a reabertura dos aeroportos e com o retomar de algumas viagens de comboio e autocarro, muitos migrantes do sector informal, que ficaram sem casa e sem emprego, tentaram regressar aos seus estados de origem, o que aumentou o número de casos de infecção fora das metrópoles. Os testes feitos a migrantes que partiram de Nova Deli rumo ao estado de Bihar, por exemplo, revelaram que um em cada quatro contraiu covid-19. Este estado no leste do país é agora um dos principais focos de contágio.

Doentes dividem camas 

Nas grandes cidades, como Bombaim, onde vivem mais de 20 milhões de pessoas, há particular apreensão. Relata o Guardian que os hospitais da cidade estão completamente cheios e que não há camas para todos os doentes. Há relatos de que estão a ser rejeitados doentes, com os hospitais a receberem indicações para aceitar apenas os que estão infectados com o vírus SARS-Cov-2.

No Hospital Sion, um dos principais da cidade, cada cama está a ser partilhada por dois doentes. Há ainda pacientes a dormir no chão, em caixas de cartão, e muitos outros a serem tratados em enfermarias ao lado de cadáveres enrolados em sacos de plástico, porque as morgues estão cheias.

Hospitais como este, por norma, já estão completamente cheios, mas a covid-19 veio agravar a situação. Com os novos casos de infecção a não mostrarem sinal de abrandar – só no estado de Maharashtra, onde fica a cidade de Bombaim, há cerca de 60 mil infectados registados -, o sistema de saúde parece cada vez mais à beira do colapso. Acresce que muitos médicos e enfermeiros estão a ser infectados, reduzindo as equipas, exaustas e no limite, que estão na linha da frente no tratamento dos doentes com covid-19.

Muitos médicos temem que o pior ainda possa estar para vir, não só em termos de infecções por covid-19, mas também por outras doenças. O início de Junho traz a época das monções e surtos de dengue ou malária, que todos os anos enchem os hospitais. Por isso, os especialistas alertam que é necessário tomar medidas para garantir que todos os doentes consigam receber assistência nos hospitais, seja qual for o problema que os leva lá.

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