É a brincar, a brincar que se constrói o futuro

A pandemia de COVID-19 veio devolver às famílias a capacidade de reinventar as brincadeiras. No Dia do Brincar, NESTUM faz questão de lembrar como celebrar a brincadeira é construir futuro. A marca de tradição dos portugueses quer continuar a estar presente nos momentos mais felizes de todas as famílias.

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Brincar. Acto de divertir-se, de gracejar e ser leve. O verbo brincar é-nos apresentado às primeiras horas de vida e acompanha-nos, como um corrimão a que nos agarramos, que nos leva de riso em riso e nos impede de cair na apatia. Brincar, palavra-baloiço que nos leva onde ousarmos, que nos conquista o presente como uma guloseima ou um afago no rosto. Depois dos recreios das manhãs das nossas vidas, o refúgio encontrado em memórias para quem não mais se atreve a explorar ou o hábito revisitado para quem quer continuar a crescer.

É leve brincar, e é sério. Como tudo o que importa e soma à felicidade, a brincadeira chama as atenções para o que se ganha em se perder, para o que se nutre em solo emocional próprio na partilha com o outro. É mais do que sol, é construir fortalezas em volta de sombras, lembrar os primeiros passos trôpegos, deambular por caminhos ainda desconhecidos, vestir uma capa contra o medo, bordá-lo nela e sublimá-lo. Brincar com o giz que risca o chão, somar-lhe quadrados imperfeitos e saltar de um para o outro para conhecer e atravessar fronteiras. Brincar com a bola que sobe mais do que supúnhamos e perceber que também nós a acompanhamos, e que o fazemos mais tarde com palavras, quando as fazemos dançar entre os dedos, através de versos como piões de corda.

George Bernard Shaw escreveu que “não paramos de brincar porque envelhecemos; ficamos mais velhos porque paramos de brincar”, e isso prova como até os mais ávidos intelectuais compreendem a importância de desenhar a vida em recortes divertidos, sobrepô-los e olhá-los, sempre num ângulo novo. Brincar talvez tenha levado George Bernard Shaw mais perto da genialidade de fundar a London School of Economics, e certamente o fez mais capaz de enfrentar frustrações e sorrir perante a adversidade. Quando um castelo de cartas cai, nasce a oportunidade de criar algo de raiz.

Foi também isso que a pandemia de COVID-19 veio devolver às famílias: a capacidade de reinventar as brincadeiras, e, sobretudo, mais tempo para o convívio e para estreitar laços. É o que explica a psicóloga clínica Sónia Gaudêncio, que salienta a alteração de, durante o estado de emergência, ter deixado de ser possível “ brincar com os pares, com os amigos e colegas”. O teletrabalho dos pais, o confinamento dos filhos aliado ao ensino à distância e a proximidade aos ecrãs da casa veio entrelaçar ainda mais a tecnologia e a brincadeira, relata a também directora da Estima + e co-autora do livro ‘Sou como sou e gosto!’.

Há, no entanto, uma outra tendência a assinalar, de acordo com Sónia Gaudêncio. “Muitos pais relatam uma maior proximidade dos filhos, um tempo de qualidade que lhes tem permitido fazer jogos de tabuleiro, construir os próprios jogos ou brinquedos com material de reciclagem (os rolos de papel higiénico, garrafas, copos de iogurte, cartão e embalagens).” A tradição voltou a fazer parte do novo imaginário. Confinadas, as famílias recuperaram momentos em que os jogos tradicionais ganham protagonismo e os sabores e cheiros de sempre forram as paredes.

NESTUM, uma das marcas mais evocadas pelas memórias dos portugueses, continuou a marcar o compasso dos dias, do pequeno-almoço às brincadeiras improvisadas a meio do dia, como a construção de um castelo de embalagens.

“Em qualquer idade, é importante haver momentos lúdicos”

Brincar é não ter idade, pelo que Sónia Gaudêncio elogia a organização de jogos desde os tempos mais precoces até aos últimos dias das nossas vidas. “Em qualquer idade, é importante haver momentos lúdicos e de brincadeira entre pais e filhos, mas quanto mais precoces forem esses momentos, melhor em termos de desenvolvimento das crianças. Os pais devem brincar com os filhos desde que eles nascem.” Desde tenra idade, NESTUM faz parte das rotinas das famílias e está presente nos instantes de convívio, de conversas e até de actividades de descontracção. Esses momentos, mesmo os nascidos no epicentro de uma pandemia, desenham um futuro mais feliz, analisa a especialista em psicologia clínica e da saúde Sónia Gaudêncio: “Terão os seus ganhos futuros, quanto mais não seja em termos emocionais, pois proporcionaram memórias afectivas positivas e permitiram o fortalecimento de laços entre pais e filhos.”

Brincar é inventar o mundo e dar-lhe significado. “É uma das tarefas que mais contribui para o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor duma criança. Através da brincadeira, a criança fantasia, cria, sonha, toma decisões, aprende a gerir frustrações, a partilhar com os pares, explora o mundo, os objectos, a natureza, resolve problemas, expressa as suas emoções. As crianças que brincam também aprendem a pensar e a dar significado a algo, uma vez que o brincar promove, também, o desenvolvimento do conhecimento.” As palavras de Sónia Gaudêncio provam o poder de um acto infantil mas grandioso. Brincar é “entreter a razão” desse “comboio de corda/ que se chama coração”.