Mais de 80% das empresas vão cortar no investimento

Apenas um em cada cinco gestores inquiridos pela CIP mantêm investimento planeado para 2020. Os restantes cancelam tudo ou suspendem parte, por causa da crise.

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Investir contribui na formação de capital fixo e cobre perdas no balanço das empresas por depreciações e amortizações Francisco Romao Pereira (Arquivo)

Num inquérito a mais de mil empresários, conduzido pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP), mais de 80% dos gestores disseram que vão cancelar total ou parcialmente os investimentos que tinham planeado fazer em 2020. A culpa, dizem, é da travagem económica provocada pela pandemia de covid-19, já que são os factores externos aqueles que mais são citados pelos empresários.

Numa amostra não aleatória de 1034 empresas, o que impede portanto de tirar inferências para o tecido económico nacional, 41,7% dos inquiridos disseram que tencionam cancelar ou suspender os investimentos que tinham planeado para o corrente ano. Outros 40,3% declararam que vão cancelar parte desses investimentos e apenas 18% disseram que mantêm as opções de investimento que tinham delineado antes de a pandemia ter levado a economia portuguesa a parar.

É um mau sinal, que levará à quebra da formação bruta de capital fixo por parte das empresas, num momento em que o Governo promete investimento público e apela ao regresso ao consumo. 

Porém, entre os 41,7% que abandonaram os investimentos, a maioria tinha planeado aumentar a capacidade produtiva (39,2%) e investir em instalações (29,2%). O que significa que, no final do ano, não só contribuirão negativamente para o PIB como muitas empresas nem sequer contrariarão a descapitalização através de novos investimentos que reponham depreciações ou amortizações dos activos existentes.

Segundo os dados do inquérito semanal, que a CIP leva a cabo com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE (Lisboa), os gestores das micro (51,9%) e pequenas empresas (42,4%) são aqueles que, em maior número, deixarão cair investimentos. Hélia Gonçalves Pereira, daquele laboratório do ISCTE, refere que o abandono de projectos de investimento afecta sobretudo empresas dos sectores da restauração e alojamento e do comércio.

Pelo contrário, nas médias e grandes empresas (estas últimas estão sobre-representadas, equivalendo a 4% da amostra quando na realidade não chegam a ser 0,3% do tecido empresarial português) as intenções de investimento mantêm-se em maior número, seja na totalidade ou pelo menos parcialmente.

Segundo os dados, nas médias empresas, metade mantém investimento, se bem que reduzido em parte, e 23,2% mantém todo o investimento projectado. Ou seja, sobra cerca de um quarto de empresas que cancelam tudo nesta classe de dimensão de empresas.

Nas grandes, 71,7% dos gestores inquiridos mantêm parte do investimento, 15,2% mantêm todo o investimento e apenas um em cada oito diz que cancelou ou suspendeu todo o investimento que estava em carteira.

Dos cerca de 40% de empresários que ainda mantêm parte do investimento, a maioria fará, porém, cortes significativ0s: apenas 1,8% manterá investimentos acima dos 80% face ao que estava programado. A maioria dos empresários investirá 40% ou menos, sendo o destino sobretudo em capacidade produtiva e instalações.

As perspectivas económicas negativas e a redução de encomendas são as razões mais fortes invocadas por um maior número de gestores, que deram menos relevância nessa decisão à escassez de capitais próprios ou dificuldades de financiamento.

“Esta retoma está a ser gradual e assimétrica. Tudo vai depender da avaliação da retoma, da confiança. Os investimentos vão ser adaptados, sabemos que se pararmos de investir, se ficarmos todos confinados em casa então nada ocorrerá de forma diferente”, conclui o presidente da CIP, face a estes dados.

“O futuro está nas nossas mãos, mas vai depender muito da retoma”, reforça, insistindo na necessidade de criação de um fundo de capitalização de empresas que “responda às reais necessidades”. Aliás, 82,2% dos inquiridos concordam com esta solução e outros 62,2% (numa pergunta que permitia múltiplas respostas) a pedirem também benefícios fiscais ao investimento.

O inquérito permitiu ainda apurar que 68,8% dos inquiridos que recorreram ao crédito ainda não receberam qualquer verba. Ainda que seja uma proporção elevada, é uma melhoria face aos resultados de semanas anteriores. Apenas 35% dos empresários deste estudo pediram reforço do crédito, cujo montante pedido ascende agora aos 10.500 milhões de euros, muito acima da dotação de 6200 milhões.

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