O tudo ou nada do programa de emergência que há-de vir

Salvar hoje uma empresa ou um posto de trabalho, ou apoiar uma família em risco de exclusão é fundamental para resgatar uma parte do futuro e de esperança nos quais temos direito e o dever de acreditar.

O primeiro-ministro confirmou esta quarta-feira no Parlamento que o Governo começará na próxima semana uma ronda pelos partidos e parceiros sociais para desenhar um programa para acudir à actual emergência económica e social do país. Uma iniciativa louvável que se justifica por duas ordens de razões: porque vai ser fundamental garantir o máximo compromisso possível para o sucesso na sua definição e concretização; e porque o actual pacote de ajudas, incentivos, empréstimos, apoios no layoff ou moratórias é claramente insuficiente para a hibernação da economia até ao momento em que haja condições para renascer da covid-19.

Com 47% das empresas parcial ou totalmente encerradas, com sectores vitais como o turismo comprometido, 735 mil trabalhadores em layoff e 392 mil pessoas sem emprego, é importante que o Governo tenha na frente económica e nos seus custos sociais o mesmo nível de empenho que teve nas semanas em que era crucial gerir a crise sanitária. Até porque, mesmo que o consiga, terá pela frente o problema das contas públicas para avançar com um processo que essencialmente requer dinheiro a fundo perdido. Forçado pela crueza da realidade, o Governo vai respondendo por impulso, aumentando os créditos garantidos, forçando a resposta aos pedidos ou pagamentos do layoff ou, mais recentemente, duplicando o montante de apoios às microempresas para 100 milhões de euros. Vai ter de fazer mais.

Um estudo do think tank europeu Bruegel do final de Abril mostrava que Portugal não se saía mal da comparação com os congéneres europeus nos montantes de ajuda pública directa ou de empréstimos garantidos. Mas ainda assim essa ajuda é insuficiente. Há milhares de empresas viáveis que desesperam por apoios e não os encontram (António Costa remete parte da responsabilidade para a banca). Há centenas de milhares de postos de trabalho em risco. E há cada vez mais portugueses a depender da ajuda alimentar. O que o Estado gastar hoje ganha amanhã em estabilidade social, em subsídios de desemprego ou com uma recuperação mais consistente da actividade.

É por isso que o programa de emergência merece ampla discussão e participação. Mesmo que não considere ainda os apoios que hão-de vir da Europa, o Governo terá de assumir na frente económica a ousadia que teve no combate ao vírus. O pesadelo não vai durar sempre e salvar hoje uma empresa ou um posto de trabalho, ou apoiar uma família em risco de exclusão é fundamental para resgatar uma parte do futuro e de esperança nos quais temos direito e o dever de acreditar.

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