Conselho dos Museus alerta que crise acentua desigualdades e exige novas soluções

ICOM lembra que o reforçar do paradigma digital não chega a todos e que os museus devem ser espaços de inclusão. Nova direcção critica o desinvestimento generalizado no sector.

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Exposição no Museu Gulbenkian em 2017 daniel rocha

O Conselho Internacional dos Museus - Portugal (ICOM, sigla em inglês) alertou no domingo que a crise provocada pela pandemia “acentua as desigualdades, fragiliza a sociedade como a conhecemos, e exige novas e ousadas soluções”, também no sector da museologia.

O alerta é expresso num documento sobre o Dia Internacional dos Museus, que se celebra na segunda-feira, e que coincide com a reabertura de museus, monumentos e galerias de arte, encerrados desde 14 de Março devido às exigências sanitárias no quadro da pandemia covid-19.

“Este desafio é tanto maior quanto esta crise “, sublinha este organismo — cuja nova direcção tomou posse em Março — no documento hoje difundido no seu sítio online e nas redes sociais.

O ICOM (sigla da designação em inglês) é uma organização não governamental dedicada à preservação do património cultural através da divulgação de boas práticas e, em Portugal, possui mais de 400 membros, incluindo museus nacionais, municipais, privados e diversas instituições museológicas.

No texto, a entidade reflecte sobre o tema deste ano do Dia Internacional dos Museus, “Museus para a igualdade: diversidade e inclusão”, e sublinha a necessidade de uma atitude solidária em tempos de crise, da qual o sector pode dar um exemplo.

“Não esqueçamos que o reforçar deste paradigma digital não chega a todos, estas propostas que muitos vaticinam ser o futuro, alargam ainda mais o fosso entre os que têm acesso e utilizam as tecnologias e os que, por falta de recursos ou de competências técnicas, não conseguem aceder ao universo digital”, alerta o ICOM. Chama a atenção para “o caso do ensino à distância e da necessidade de encontrar soluções para tantos que ainda não têm acesso a estes recursos”.

“Os museus podem e devem ser instrumentos de inclusão e promoção da igualdade, respeitando a diversidade que só a pluralidade garante”, sustenta o ICOM Portugal. No documento, este organismo também faz algumas críticas à situação do sector da museologia no país, nomeadamente, o “desinvestimento generalizado nas instituições, com uma preferência manifesta por actividades efémeras, opções desmaterializadas, recurso a soluções que assentam num modelo de fornecimento de serviços”.

“As equipas técnicas permanentes envelhecem e fragilizam-se, a identidade própria esboroa-se face a programações que respondem a lógicas quantitativas e imediatas, em detrimento da construção de saberes e de solidariedades, de promoção do sentido crítico e da cidadania”, acrescenta.

Para a nova direcção do ICOM Portugal, liderada por Maria de Jesus Monge, “é agora o momento de ousar, de construir uma alternativa sustentável e comprometida”. Remetendo para o seu programa, e para a preocupação com a “necessidade de repensar as condições materiais com que se confronta a maioria dos profissionais e instituições museológicas nacionais”, a direcção do ICOM Portugal aponta ainda que estas instituições vão ter de abordar novas questões suscitadas pela pandemia.

A presença por tempo ainda indeterminado das medidas sanitárias impostas pela pandemia de vírus covid-19 “vem alterar as rotinas e impor novos comportamentos”.

Este organismo prevê que o relacionamento com o público venha a ser afectado, haverá dificuldades em fazer inaugurações, visitas guiadas, oficinas, serviço educativo, entre outras actividades que eram consideradas normais, mas que “implicam de concentração nos espaços e de interacção próxima entre pessoas”.

“Após semanas de contactos mediados por ecrãs o homem passará a dispensar a dimensão sensorial? Começaram já os estudos e a avaliação sobre o impacto do intensificar destes recursos”, refere, acrescentando que, no imediato, a preocupação é cumprir a missão definida pelo ICOM de “reunir, conservar, estudar, comunicar, expor a memória colectiva da Humanidade”.

Desde 1977 que o ICOM organiza o Dia Internacional dos Museus, com o objectivo de promover o intercâmbio e enriquecimento cultural, o desenvolvimento da compreensão mútua, da promoção da cooperação e da paz entre os povos. Esta efeméride acontece anualmente a 18 de Maio, ou em datas próximas, e traduz-se na organização de eventos e actividades comemorativas, unidas internacionalmente pelo tema comum definido previamente pelo ICOM.

Este ano a data celebra-se em espaços museológicos que vão obedecer a regras sanitárias definidas pelas autoridades de saúde, e por outras recomendações para o sector, e que passam pelo uso obrigatório de máscara, o distanciamento social e a higienização frequente de mãos e dos espaços.

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