Portugal prepara-se para ir “para fora cá dentro”

Por causa da pandemia, mas também pelas saudades e pelo apoio aos negócios portugueses, Portugal é o destino. Mas para onde queremos ir?

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Aldeias do Xisto, Dezembro de 2016 Adriano Miranda

E, de repente, tudo do avesso. “Tínhamos preparado um barómetro que indicava que 2020 ia ser o melhor ano turístico de sempre”, diz Jorge Costa, do IPDT. Ia ser divulgado em Março com a revista – que, afinal, vai sair por estes dias. “Tivemos que repensar textos e fazer novo barómetro, se não ia parecer o Inimigo Público”, ironiza o responsável da empresa de consultoria turística que desde 2006 produz estudos sobre o mercado português. 

Por causa da covid-19, este não vai ser o melhor ano de sempre, mas o “melhor destino do mundo por três anos consecutivos” (como sublinha o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo) mantém as suas infra-estruturas intactas, tudo está no terreno à espera dos turistas de fora, contando com os turistas portugueses. “Poderemos vir a ter um movimento grande dos próprios portugueses a visitar Portugal… Regiões menos conhecidas, regiões mais conhecidas, acho que vamos ter resultados”, acredita Luís Araújo.

“Acreditamos primeiro na recuperação do mercado interno, sobretudo, e o interno alargado, a Península Ibérica. Depois virão as viagens de proximidade”, afirma Sérgio Guerreiro, também do Turismo de Portugal. E “acreditamos que é a grande oportunidade para o interior aparecer como destino de eleição, num primeiro momento, pelo menos”, continua. Levar o turismo ao interior já tem sido, afirma, uma das prioridades da estratégia do Turismo de Portugal nos últimos anos. “Foram criadas dezenas de projectos”, explica, “no enoturismo, cyclingwalking, experienciação da natureza, rotas temáticas à volta da cultura e elementos históricos nos quais o interior é bastante rico.” Numa altura em que o distanciamento social é a norma, os turistas “hão-de preferir espaço menos denso”, acredita.

Tal não significa, contudo, que as pessoas “não vão continuar a procurar os destinos tradicionais de férias, de praias”, nota Luís Araújo, “e a terem direito a eles”. “O que notamos, e algumas regiões já nos deram sinal disso, é que também estão a procurar lugares mais reservados, mais introspectivos”, afirma, “e no interior também há praias, fluviais”. E tal até poderá levar ao surgimento de novas experiências, produto de parcerias, dentro do sector do turismo ou até com outros sectores. “Por exemplo”, explica, “aquilo a que chamamos redes colaborativas, do turismo industrial a produtos novos ou menos conhecidos como a EN2, das aldeias do xisto e históricas a produtores tradicionais ou produtos locais”. “Já vínhamos sentindo um crescimento, mas creio que agora vai aumentar bastante”, considera.

Jorge Costa também defende a necessidade de “criar novos produtos e novas experiências”, sejam elas associadas à montanha, ao campo, à praia, ao mar e até às cidades que, aconselha, “devem reorganizar-se no novo paradigma de distanciamento físico e de protecção necessárias para que as pessoas possam andar livremente na rua”. O nosso portefólio de produtos e serviços é “muito rico”, mas “passa muito pela quase separação do turismo praticado no interior e litoral”.

Há, explica, a tendência de criação de corredores de visita para o interior, algo que se deveria inverter, e o “novo normal” poderá ser um empurrão. “Parte do que era o turismo interior tem características como a baixa densidade social, experiência de natureza mais isolada”, expõe, “e creio que parte destes elementos terá que passar a comandar a definição de produtos de city break, short break e mesmo de sol e mar”. Neste sentido, preconiza a inversão da estratégia dos “corredores turísticos”: mais do que o interior ser complementar, o interior ser quase central nas visitas, com o litoral e as cidades a serem os complementos. “O interior está sedento disso, tem baixa concentração de pessoas e muito para oferecer em termos de natureza", resume.

Por enquanto, sublinha Luís Araújo, o papel de Portugal enquanto destino turístico é adaptar-se “para dar resposta às necessidades novas, que podem ser mais imediatas, mas também podem ser a mais longo prazo”. Nos dias que correm, questões de segurança e de limpeza “são pontos fundamentais” para recuperar a confiança de turistas, sejam nacionais ou internacionais. Daí, continua, a importância do selo Safe&Clean, uma declaração voluntária de compromisso de que as empresas vão cumprir os requisitos de segurança e higiene definidos em conjunto com entidades representativas das várias áreas do sector - e paralela à regulamentação que o Governo tem vindo a produzir para as várias áreas do turismo. “Ajuda a passar uma mensagem de confiança, de que o país está coordenadamente a tomar iniciativas que minimizem os riscos de insegurança.”

É uma das imagens que tem ajudado a consolidar a imagem de Portugal no estrangeiro e é a melhor promoção do destino que pode ser feita, enquanto se trabalha “em incógnitas” no que ao mercado internacional diz respeito, sobretudo. Afinal, justifica Luís Araújo, “o turista português conhece o destino, sabe a oferta turística que tem, o quão boa é e isso é metade do caminho” - e em relação às questões mais prementes levantadas pela pandemia, da segurança e da confiança sanitárias, “não há turista que tenha mais confiança, até porque acompanha todos os dias a evolução da pandemia no país”.

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