A luva, a máscara e o chão

A pandemia está a despertar uma nova categoria de poluidores da via pública: os lançadores de luvas e de máscaras descartáveis. Provavelmente já te cruzaste com alguns destes materiais provenientes de corpos alheios. Há quem entenda que a paragem do autocarro, o carrinho das compras ou o chão do parque de estacionamento são locais mais apropriados.

Foto
Toby Melville/Reuters

Vamos falar de maus hábitos ambientais e de um em particular: lançar lixo para a via pública. Resíduos é o termo correcto. Também poderíamos usar o termo depositar, mas de facto há quem os atire ou lance. Seja como for, sabemos do que se trata e há toda uma panóplia de materiais à disposição. As beatas são um clássico. Pequenas e versáteis, pois podem ser descartadas de várias maneiras: caídas na berma do passeio, acesas ou apagadas ou, ainda, disparadas numa trajectória incandescente. As pastilhas elásticas são outro favorito de quem entende que o chão é o destino ideal para algo que acabou de lhe refrescar o hálito. Copos, latas, sacos, lenços e embalagens de todo o tipo merecem também uma menção. Enfim, no que toca a deixar lixo no chão, a falta de civismo é o limite.

Curiosamente, a pandemia está a despertar uma nova categoria de poluidores da via pública: os lançadores de luvas e de máscaras descartáveis. Provavelmente já te cruzaste com alguns destes materiais provenientes de corpos alheios. Por algum motivo, ao invés do contentor do lixo, há quem entenda que a paragem do autocarro, o carrinho das compras ou o chão do parque de estacionamento são locais mais apropriados. Porém, como ainda não presenciei nenhum acto em flagrante, não posso adiantar qual é a técnica em voga: se são atirados discretamente quando ninguém vê, ou se, à semelhança do que acontece muitas das vezes com os resíduos referidos anteriormente, são lançados à vista de quem estiver presente e sem muita inibição. De qualquer das formas, devido ao crescente uso de máscaras de protecção e de luvas no nosso quotidiano, é possível que haja um indesejável aumento da frequência destes resíduos na via pública. Contudo, espero que tal não aconteça pois, além de potencialmente muito perigoso para a saúde pública e de constituir uma contra-ordenação punível com coima, é também uma enorme manifestação de deselegância cívica e de desrespeito pelo ambiente.

Nenhuma das máscaras descartáveis ou reutilizáveis que adquiri até hoje em farmácias continham indicações sobre como descartá-las de forma segura e em que contentor deveria colocá-las. As descartáveis, vendidas num conjunto de cinco, não incluíam qualquer rótulo e estavam dentro de uma embalagem lisa de papel semelhante a um envelope. Gosto que não haja plástico na embalagem e seria muito fácil colar uma etiqueta ou um rótulo por fora, com instruções. Por sua vez, a máscara reutilizável vinha numa embalagem de plástico, selada e acompanhada por um papel impresso, em apenas um dos lados, com a ficha técnica do produto e as instruções de lavagem. Seria fácil completar com instruções adicionais no verso.

É urgente implementar e melhorar as campanhas de sensibilização e informação dirigidas à população acerca do uso correcto destes produtos, dos riscos e de como minimizá-los. Após usar luvas e máscaras, retira-as de forma segura e coloca-as sempre no contentor dos indiferenciados, nunca na reciclagem. De seguida, lava ou desinfecta as mãos. Complementarmente, à semelhança do que acontece com certos tipos de embalagens e outros materiais, seria muito importante que máscaras e afins tivessem sempre um rótulo informativo com texto e grafismo para indicar ao consumidor, de forma inequívoca, o procedimento correcto a seguir durante e após a sua utilização. Fica a sugestão.

Sugerir correcção