Costa desconfinou apoio a Marcelo

O PS fica outra vez sem candidato mas não faz mal: tem um candidato natural para 2026. Chama-se António Luís Santos Costa.

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LUSA/JOSE SENA GOULAO
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1. Ao contrário do vírus, isto já se adivinhava. Faltava o cenário, a hora, o dia. O cenário escolhido não foi tão cinematográfico como aquela partilha de guarda-chuva em Paris num 10 de Junho mas foi esse monumento à união nacional que é a Autoeuropa. O dia foi uma quarta-feira pós-confinamento, passado, ao que parece, o pior do combate à pandemia que foi uma causa nacional em que primeiro-ministro, Presidente da República e partidos estiveram envolvidos.

Costa disse as palavras mágicas: quer continuar a trabalhar com Marcelo nos próximos anos. Marcelo não poderia ouvir música melhor — com o apoio do PS atingirá com facilidade os 70% que Mário Soares, com a simpatia de Cavaco Silva então primeiro-ministro, conseguiu na reeleição de 1991. A protocandidatura de Ana Gomes, lançada por Francisco Assis, não teve pés para andar – a própria Ana Gomes reconheceu que tal horrorizaria Costa. Ao ter desconfinado o seu apoio pessoal à recandidatura de Marcelo, Costa coloca o PS perante a situação de voltar a não ter nenhum candidato como aconteceu nas últimas presidenciais, em que se dividiu entre Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa. Não faz mal: o PS tem um candidato natural às presidenciais de 2026, quando Marcelo finalmente cumprir dois mandatos. Chama-se António Luís Santos Costa.

2. Costa poderá ser Presidente em 2026, para já é um primeiro-ministro em óbvio conflito com o seu ainda hoje ministro das Finanças. Se Centeno disse que não fazia nada à revelia do primeiro-ministro, como é que Costa foi ao Parlamento afirmar que não haveria dinheiro antes da auditoria e depois é obrigado a pedir desculpa? Marcelo veio ontem apoiar Costa e pôr mais umas pedras no caixão de Mário Centeno já devidamente encomendado por Costa. Ao fim da tarde, Rio pede a demissão do ministro.

Longe vão os tempos da unanimidade em torno do mago das Finanças. Centeno foi durante muito tempo uma espécie de segundo ministro, com um poder muito equivalente ao do primeiro-ministro. Talvez se tenha esquecido de uma regra básica: um ministro das Finanças, e qualquer outro ministro, apenas tem o poder que lhe é delegado pelo primeiro-ministro. Sair de cena agora pode não ser tão mau para o currículo de Centeno: sai com a memória do défice quase zero quando nova crise financeira está à porta.

3. Quem decidiu os prémios aos gestores do Novo Banco – que recebeu agora a nova transferência do Estado que provocou a tempestade política - deve pensar dos portugueses que nestes dias se confrontam com o desemprego e cortes de salário o mesmo que Maria Antonieta do povo francês no século XVIII: “Não têm pão comam brioches”.

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