Em Israel para visita em tempo de pandemia, Pompeo fala da China

Secretário de Estado dos EUA reuniu-se com Benjamin Netanyahu e Benny Gantz para discutir planos de anexação da Cisjordânia — mas acabou por mencionar “cooperação” em termos de covid-19.

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Mike Pompeo e Benny Gantz em Jerusalém SEBASTIAN SCHEINER/EPA

É a visita de Estado ao estrangeiro mais significativa em tempos de pandemia: o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, esteve oito horas em Israel para se reunir com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e ainda com Benny Gantz, que deverá dividir o governo com Netanyahu num executivo que deverá tomar posse esta quinta-feira. 

A tomada de posse do Governo que se segue mais de um ano de indefinição e a três eleições estava marcada para esta quarta-feira, mas foi alterada para permitir a visita de Pompeo. Para o diário Jerusalem Post, a visita, “a maior viagem ao estrangeiro deste género, sublinha a forte ligação sem precedentes” entre os EUA e Israel.

Na agenda estavam coronavírus, Irão, e a promessa eleitoral de o novo governo avançar com anexação de parte da Cisjordânia.

Pompeo mencionou o coronavírus para elogiar a cooperação e troca de informação de Israel, ao contrário de “outros países”, querendo dizer a China — um dos pontos em que EUA e Israel têm pontos de vista diferentes, com Washington cada vez mais crítico de Pequim e preocupado com a abertura israelita a investimento chinês, por exemplo, na área da tecnologia ou projectos de infra-estrutura, como o porto de Haifa. A jornalista do Jerusalem Post Lahav Harkov viu nas palavras de Pompeo “uma escalada” na pressão norte-americana sobre Netanyahu em relação à China. 

Quanto à anexação, o secretário de Estado dos EUA disse que data da acção “não está escrita na pedra” (o acordo de Governo entre Netanyahu e Gantz prevê 1 de Julho), depois de antes ter dito que esta é uma questão cuja iniciativa e decisão “cabe inteiramente ao Governo israelita” (o acordo do novo governo especifica a necessidade de concordância dos EUA).

Pompeo “foi muito vago nos comentários”, nota ainda Harkov. A jornalista do Haaretz Noa Landau sublinha que na declaração do Departamento de Estado não há uma palavra sobre a anexação, e Barak Ravid diz que a atitude reflecte uma falta de disposição dos EUA correrem o risco de terem um problema entre mãos no ano em que Donald Trump tenta a reeleição.

Também do lado de Israel a ideia da concretização de uma anexação é vista com desconfiança, Anshell Pfeffer, biógrafo do primeiro-ministro sublinha que “Netanyahu trabalhou durante décadas para conseguir o a situação actual, em que a questão palestiniana praticamente desapareceu da agenda global para quê pôr tudo isso em risco levando a cabo a anexação?”

O diário israelita Haaretz destacava as palavras do alto representante para a Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, para quem o plano de anexação será “a questão mais importante na agenda” da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia na sexta-feira.

Com tudo isto, Aaron David Miller, antigo negociador dos EUA em conversações entre israelitas e palestinianos e hoje analista do centro de estados Carnegie Endowment for International Peace, não hesita em comparar o conteúdo da visita ao da série Seinfeld, que foi vendida como uma sitcom “sobre nada”.

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