Cubículos de acrílico no areal ou lugar por reserva. Como será o regresso às praias noutros países?

Em Portugal, o Governo e a Direcção-Geral da Saúde ainda não publicaram as regras que irão ditar o regresso às praias, mas as autarquias já foram colocando várias propostas em cima da mesa.

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Uma mulher na praia de Peraia, em Thessaloniki, na Grécia Murad Sezer/Reuters

O Governo e a Direcção-Geral da Saúde (DGS) ainda não publicaram as regras que irão ditar o regresso às praias em Portugal, depois de estas terem sido encerradas para conter a propagação do novo coronavírus. Várias propostas foram já colocadas em cima da mesa, mas o manual de regras e recomendações oficial ainda não foi divulgado.

O município de Espinho, por exemplo, preparou um plano de utilização balnear que prevê a divisão com grades das praias e vigilância por drone, recomendando também ao Governo a criação de uma bandeira indicativa de ocupação máxima. Os autarcas do Algarve, por sua vez, propõem a contratação de vigilantes privados para fiscalizar as praias. Na semana passada, a Câmara de Cascais anunciou a reabertura das praias, do paredão e de espaços verdes, mas com novas regras, enquanto as praias da Ericeira abriram a desportistas mas com limites de tempo.

Mas como estão os outros países a planear o regresso às praias em plena pandemia de covid-19?

Itália

Em Itália, um dos países mais afectados pela pandemia de covid-19, o regresso às praias está a ser preparado com base no distanciamento entre guarda-sóis, a reserva de lugares na praia e até a gestão da lotação através de apps.

Segundo o diário La Repubblica, as regras ditam que os guarda-sóis deverão ficar a uma distância de cerca de cinco metros uns dos outros e poderão ser reservados através de uma app. Nas praias, haverá até um gestor covid, ou seja, um funcionário que vai controlar o cumprimento de todas as regras, conta ao La Repubblica Claudio Presutti, responsável pela concessão da praia de Capocotta, em Roma. Quanto às praias não-concessionadas, serão tidas em consideração as suas características específicas, pelo que “os métodos de acesso e uso devem ser definidos localmente, identificando-se os mais adequados e eficazes”, revela um documento divulgado esta segunda-feira.

Funcionários preparam os guarda-sóis, respeitando a distância de segurança, na praia de Capocotta, perto de Roma EMANUELE VALERI/EPA
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Funcionários preparam os guarda-sóis, respeitando a distância de segurança, na praia de Capocotta, perto de Roma EMANUELE VALERI/EPA

Está proibida a práctica de desportos colectivos na praia e as espreguiçadeiras devem ser devidamente desinfectadas assim que trocarem de pessoa, acrescenta o jornal Corriere della Serra. A lotação das praias públicas deverá também ser limitada e as entradas controladas para evitar a propagação do novo coronavírus. Segundo o mesmo jornal, este poderá ser o caso de algumas praias públicas nas regiões de Ligúria, Toscana, assim como da Sardenha.

As reservas ou registo dos lugares na praia poderão também vir a ser obrigatórios, de forma a facilitar posteriormente o rastreamento dos contactos dos banhistas. Estas regras constam das directrizes que as regiões, autarquias e concessionários devem seguir e estão incluídas no “documento técnico sobre a análise de risco e medidas para conter o contágio de Sars-CoV-2 nas actividades recreativas de banho e praia”, redigido pelo Instituto Nacional de Seguros Contra Acidentes do Trabalho, o Instituto Superior da Saúde e pelo Ministério da Saúde italianos.

O documento citado refere ainda que as autoridades locais terão de adoptar “planos específicos para evitar o aglomerado de pessoas nas praias, inclusive através do uso de tecnologias inovadoras” — o que, na prática, significa que as autoridades terão de estabelecer a lotação máxima da praia e gerir o acesso à mesma através de um sistema de reservas online e por turnos.

Nos pontos de acesso às praias públicas, haverá ainda sinalização com as recomendações aos banhistas, que deverão, acima de tudo, manter o distanciamento social, tanto no areal como no mar. As pessoas não poderão colocar os seus guarda-sóis onde quiserem e terão de respeitar as fitas e sinais que indicarão as distâncias que devem ser respeitadas. Devem ainda existir rotas diferenciadas de entrada e saída de pessoas na praia e um sistema de pagamento rápido, que eventualmente poderá ser feito online no momento da reserva.

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Uma mulher usa máscara enquanto apanha sol numa praia na Sicília, em Itália Antonio Parrinello/REUTERS

Quem optar por reservar uma espreguiçadeira adicional, terá de colocar a cama a pelo menos dois metros de distância do guarda-sol vizinho. Os banhistas devem entrar e sair da praia com máscara e serão instalados dispensadores de gel higienizante no perímetro.

A empresa italiana Nuova Neon Group 2, por sua vez, decidiu arranjar uma solução mais criativa, tendo apresentado um projecto para a construção de cubículos de plástico transparente, feitos de policarbonato ou acrílico, para isolar quem se encontra na praia. Segundo o La Repubblica, estes cubículos terão 4,5 metros de largura e dois metros de altura e espaço suficiente para duas espreguiçadeiras e um guarda-sol, sobrando ainda espaço para as crianças brincarem.

Grécia

Não é segredo que a Grécia depende muito do turismo e, em particular, das suas praias. Mas a pandemia de covid-19 veio estragar os planos ao país, com o próprio primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, a admitir que “a experiência turística este Verão poderá ser ligeiramente diferente daquela que os turistas tiveram em anos anteriores”, disse à CNN. O primeiro-ministro espera que a realização massiva de testes possa levar a uma abertura do turismo e, ao mesmo tempo, a uma redução do risco, defendendo que as pessoas devem ser testadas antes de entrarem no avião. O governante equaciona ainda exigir aos visitantes um passaporte de saúde. Se tudo correr bem, Kyriakos Mitsotakis espera que o país possa voltar a receber turistas a 1 de Julho, depois de as medidas de restrição impostas antecipadamente na Grécia terem ajudado a conter a propagação do novo coronavírus.

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Uma barreira de acrílico para proteger os banhistas na praia de Perissa, em Santorini, Grécia Alkis Konstantinidis/REUTERS

As barreiras de acrílico poderão ser também uma das soluções para que a ilha de Santorini possa voltar a receber turistas. De acordo com a agência Reuters, há um bar numa praia em Santorini que já rodeou as espreguiçadeiras com barreiras de acrílico para proteger os consumidores do novo coronavírus. “Espero que estas construções não venham a ser o futuro das praias”, começou por revelar à Reuters Charlie Chahine, o dono do bar em questão, embora destaque que não hesitará em recorrer a tais barreiras de protecção caso a “segurança das pessoas dependa disso”. Outras praias de Santorini basearam-se também no exemplo italiano e instalaram estruturas de acrílico com espaço para duas camas.

Croácia

Na Croácia, o director do Instituto de Saúde Pública, Krunoslav Capak, foi o primeiro a dizer que não dispensava uma ida à praia e a incentivar os croatas e os turistas a seguirem os passos. Segundo Capak, os croatas poderão definitivamente regressar à praia, embora com outras regras: “Não haverá multidões nas praias. As autoridades, proprietários de praias e hotéis ou concessionários terão de se preocupar em garantir que não há contacto físico” entre os banhistas, disse, citado pelo jornal The Dubrovnik Times. Krunoslav Capak acrescentou ainda que será essencial respeitar o distanciamento social e que não haverá toalhas nem espreguiçadeiras lado a lado porque “o vírus ainda anda aí”.

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Uma praia vazia em Mali Losinj, na Croácia DOMINIK BAT/EPA

Espanha

Em Espanha, várias regiões começaram a planear medidas originais para que o regresso às praias possa ser feito em segurança.

Na praia de Silgar, no município de Sanxenxo, será atribuída a cada banhista uma parcela de três metros de largura por três metros de comprimento. Segundo o jornal El Mundo, a praia será dividida em pelo menos 780 parcelas, de forma a permitir o distanciamento social. As pessoas poderão levar as suas toalhas e guarda-sóis e serão guiadas até à sua parcela por um funcionário. A praia passará a ter apenas uma lotação entre 1560 e 2340 pessoas, ou seja, entre 50 e 75% da sua capacidade habitual.

O objectivo é que “os vizinhos e visitantes se possam sentir à vontade na praia”, explicou ao El Mundo o presidente da câmara de Sanxenxo, Telmo Martín. “Haverá menos gente, mas será mais seguro ao nível sanitário”, acrescentou. As parcelas, essas, serão delineadas com recurso a estacas de madeira e cordas de várias cores e o seu tamanho poderá ser ampliado em função do número de elementos da família. Além disso, o plano pressupõe que haja uma faixa desocupada, com um mínimo de sete metros e um máximo de 30, entre o mar e a primeira fileira de parcelas.

Já em Barcelona, na passada sexta-feira, as praias reabriram entre as 6h e as 10h, permitindo a prática de exercício físico individual (incluindo nadar) sob supervisão da polícia. Porém, tanto Madrid como Barcelona não irão passar à próxima fase do desconfinamento em Espanha, devido à situação da pandemia de covid-19, destaca a agência Reuters. Prevê-se que as praias espanholas reabram totalmente no final de Junho, durante a última fase de desconfinamento.

Em Fuengirola, Málaga, as autoridades ponderam utilizar um programa de inteligência artificial para controlar a lotação das praias e espaços públicos. O sistema fornecerá informações em tempo real através de sensores que serão colocados nos postes de iluminação. Depois, através de uma app, as pessoas poderão ver qual a lotação da praia em questão e se a mesma está ainda disponível.

Na praia de Canet d'en Berenguer, em Valência, os banhistas poderão também recorrer a uma app, através da qual poderão reservar um lugar numa das parcelas que dividem o areal, havendo ainda turnos para ir à praia, segundo o Business Insider. Já em Cullera, Valência, as autoridades pretendem utilizar drones para monitorizar a lotação das praias.

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Praias em Sanxenxo, Espanha Sxenick/EPA

A câmara municipal de Vélez, Málaga, recorreu a maquinaria pesada, tendo comprado um tractor com um rolo compressor para delimitar os espaços que serão ocupados pelos banhistas. Por outro lado, em Lloret del Mar, as praias serão dividas em três sectores: para adultos, famílias com crianças e pessoas com mais de 65 anos.

Nas praias de Andaluzia, onde a lotação será reduzida até 60%, os lugares disponíveis serão atribuídos por ordem de chegada e está proibida a prática de desportos colectivos, segundo o The Telegraph.

Praia para nadadores e surfistas

A Austrália, por sua vez, abriu parcialmente a Bondi Beach a 28 de Abril, sendo que os nadadores e surfistas têm acesso à praia entre as 7h e 17h.

Já em Los Angeles, algumas praias deverão reabrir esta quarta-feira, com novas regras: os banhistas poderão correr, caminhar, nadar e surfar na praia, mas estão proibidos os desportos colectivos, não sendo também possível apanhar sol. De acordo com o Los Angeles Times, o uso de máscara será obrigatório para todas as pessoas que se encontrem no areal e os banhistas deverão manter o distanciamento social. Quem não respeitar as regras, poderá ter de pagar uma multa.

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