Mais de 100 casos em empresas preocupam mas Azambuja rejeita cerco sanitário

Na Avipronto, onde estão confirmados 101 casos de infecção, muitos dos 200 funcionários são estrangeiros e vivem juntos em pequenos espaços de habitação, facilitando assim a transmissão da covid-19.

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Unidade industrial da Avipronto, onde estão confirmados 101 casos de infecção entre cerca de 200 funcionários Miguel Manso

Com mais de 100 casos de infecção confirmados em funcionários numa das empresas da Zona Industrial Vila Nova da Rainha/Azambuja, autarcas e autoridades de saúde locais temem uma explosão de casos nos próximos dias. Tanto mais que uma das principais vias de contágio será, no entender da Câmara de Azambuja, a forma como milhares de trabalhadores afluem, diariamente, a esta zona industrial através de comboios sobrelotados da CP. O presidente da autarquia apela à CP para que coloque mais carruagens e mais circulações nesta área, mas afasta, para já, qualquer cenário de cerco sanitário no concelho de Azambuja.

O caso mais grave até agora identificado no território azambujense é o da unidade industrial da Avipronto, onde estão confirmados 101 casos de infecção entre cerca de 200 funcionários. Muitos são estrangeiros (maioritariamente indianos e cidadãos do Bangladesh) e vivem juntos em pequenos espaços de habitação, facilitando assim a transmissão da covid-19. A meio da semana foram identificados 18 casos de infecção e, com a realização de mais testes, esse número disparou para os 101. A empresa está temporariamente encerrada por determinação das autoridades de saúde.

Na Zona Industrial de Vila Nova da Rainha/Azambuja, que se estende ao longo da Estrada Nacional 3, funcionam, segundo a autarquia local, “cerca de 220 empresas de dimensão variada onde trabalham um total de mais de 8.000 pessoas”. Predominam a logística e as unidades de armazenamento e abastecimento das grandes cadeias de comércio alimentar, mas a Câmara de Azambuja, afiança que “o abastecimento nunca esteve em causa”. 

A autarquia azambujense promoveu, esta quinta-feira, uma reunião alargada para analisar a evolução da pandemia e “definir uma estratégia de resposta à situação, especialmente preocupante na zona empresarial de Vila Nova da Rainha/Azambuja”. O encontro contou com as presenças autarcas municipais e das freguesias, da protecção civil municipal, do Delegado Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, da directora-executiva do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, da delegada e da enfermeira de Saúde Pública de Azambuja e de responsáveis das unidades local e regional da GNR. 

“Foi unânime o sentimento de preocupação face à situação da propagação do vírus que levou, nomeadamente, ao encerramento temporário da empresa Avipronto. Ficaram evidenciados alguns focos principais de preocupação: as instalações e condições de trabalho, os planos de contingência das empresas e a utilização massiva do comboio pelos trabalhadores dessas unidades”, salienta a Câmara de Azambuja, vincando que, nesta reunião, “foi decidido reforçar o contacto com as empresas com o objectivo de garantir que a laboração desta zona empresarial se mantenha, minimizando os riscos de propagação da pandemia”, sustenta o Município, prometendo sensibilizar as empresas para que adoptem horários e turnos de trabalho desfasados e implementem todas as medidas de segurança nas suas instalações.

“Perante as evidências de sobrelotação dos comboios na linha de Azambuja, a autarquia vai continuar a pressionar a autoridade dos transportes para que a oferta da CP tenha a quantidade de carruagens que faça cumprir a percentagem de passageiros recomendada. Em complemento, o município pretende sensibilizar as empresas para disponibilizarem autocarros para que os seus trabalhadores evitem as aglomerações nos comboios”, acrescenta.

Luís de Sousa, presidente da Câmara de Azambuja, considera, no entanto, que, no actual contexto, “está fora de questão o pedido de um eventual cerco sanitário ao concelho de Azambuja”. “A situação é de preocupação, mas não é para alarme ou sensacionalismo. Não existe uma propagação descontrolada na comunidade, existem sim focos e casos concretos, identificados e acompanhados pelas autoridades de saúde pública, que estão a aplicar os procedimentos adequados a cada situação”, sublinha.

Embora no conjunto de empresas da Zona Industrial Vila Nova da Rainha/Azambuja já estejam confirmados cerca de 120 casos de infecção com o novo coronavírus, boa parte destes funcionários reside em concelhos vizinhos e o município de Azambuja apresenta, esta sexta-feira, um total de 40 casos de infecção confirmados, sete recuperados e um óbito. Há, ainda, registo de 115 casos suspeitos em isolamento profiláctico.

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