Portugueses juntam-se a grupos de vários países que pedem em vídeo o regresso das missas

Grupo de familiares e amigos de Lisboa, Oeiras e Cascais defende, em vídeo, que serviços que foram reabrindo são importantes, mas não essenciais. “Recuperemos o mais importante: recuperemos a missa!”, pediam antes de saberem que celebrações regressam no último fim-de-semana de Maio.

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O vídeo começa com três crianças a anunciarem os destinatários da mensagem que vem a seguir: “Queridos bispos de Portugal”. Depois, em pouco mais de um minuto e meio, várias pessoas apelam ao regresso da missa, ao mesmo tempo que fazem referência aos vários serviços cuja abertura foi já anunciada no plano de desconfinamento relacionado com a pandemia covid-19, e vozes distintas dizem que tudo isso é importante, “mas nada essencial”. “O que seria mais importante e essencial do que a missa?”, questionam, antes do apelo final: “Recuperemos o mais importante: recuperemos a missa!”.

Alguns elogios e muitas críticas acompanharam a publicação nas redes sociais deste pedido de católicos, que chegou a Portugal a 3 de Maio, depois de ter nascido na Áustria a 19 de Abril.

O vídeo nacional pouco tem de original em relação a muitos outros de diferentes países que circulam na Internet. Praticamente todos seguem a mesma linha: várias pessoas, sobretudo jovens, apelam ao regresso da missa, lembram que o Papa Francisco disse que a Igreja tem de ser concreta e não virtual, e disponibilizam-se para ajudar em tudo o que for necessário para que a eucaristia possa decorrer de acordo com as regras de distanciamento e higiene impostas pela crise sanitária.

São assim o vídeo original austríaco e os outros que lhe seguiram o exemplo na Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos da América, Argentina, Brasil ou Espanha. O vídeo francês é o único que foge ao modelo – é o mais longo e só mostra um grupo de pessoas, em mosaico, nos últimos instantes, sendo o resto da gravação composta por imagens de filas de pessoas à espera de entrar em diferentes serviços a funcionar, intercaladas com citações bíblicas.

Por cá, a iniciativa foi inspirada no vídeo espanhol, explica Pedro dos Santos Frazão, que, com outros familiares e amigos de Lisboa, Oeiras e Cascais, é um dos protagonistas da curtíssima metragem. O médico-veterinário, que aparece no vídeo com a mulher e os seis filhos, diz que, apesar de a mensagem se destinar aos bispos, não houve qualquer tentativa de lhes fazer chegar directamente o apelo gravado ao longo de mais de uma semana, e quando os participantes ainda não sabiam que estava previsto o regresso das missas para o último fim-de-semana deste mês.

“Queríamos que fosse uma coisa orgânica, do povo de Deus, entre pessoas que iriam começar a divulgar esta mensagem. Não queremos nenhuma resposta oficial, não somos uma organização nem paróquia, somos um grupo de amigos que queria que as pessoas tivessem a percepção que têm falta de missa. Mas confiamos totalmente na decisão dos bispos e acataremos qualquer decisão que tomem”, diz ao PÚBLICO.

A 3 de Maio, quando o vídeo foi partilhado nas redes sociais, já estava calendarizado o regresso das missas, mas depois do trabalho feito, o grupo decidiu avançar na mesma com a sua divulgação. “Estamos mais descansados, sabendo que a missa vai regressar, mas decidimos divulgar o vídeo na mesma, para mostrarmos a importância que os católicos dão à missa e que temos saudades, porque as missas online não são a mesma coisa. A oração não é eucaristia”, argumenta.

Sem surpresa, e tal como já tinha acontecido noutros países, a publicação recebeu alguns elogios e muitas críticas. Houve quem acusasse os participantes de “irresponsabilidade e desrespeito pelo próximo”, quem considerasse que estava perante uma “alucinação colectiva” e quem aproveitasse a caixa de comentários para se dirigir aos profissionais de saúde, dizendo que se alguma das pessoas do vídeo aparecer no hospital com covid-19 deve ser mandado “ir à igreja rezar”.

João Pedro Frazão não ficou surpreendido. “Já sabemos que a Internet é implacável. Há sempre milhares de pessoas que gostam e os haters. Estamos contentes com o efeito, espalhou-se rapidamente, debateu-se o assunto e, no fundo, recebemos mais coisas positivas do que negativas”, afirma. 

Um outro factor distintivo dos vários vídeos que circulam na Internet a pedir o regresso das missas é a citação escolhida para o final. Houve quem optasse por frases do Papa Francisco, mas os portugueses escolheram uma frase do padre Pio: “Seria mais fácil o mundo sobreviver sem o sol do que sem a Santa Missa”. Uma citação “ao nível da idade das trevas” foi um dos vários comentários dirigidos expressamente a esta escolha. De novo, o médico-veterinário desvaloriza. “Há muitas pessoas que têm falta de poesia no coração. Estamos perante uma hipérbole que pretende demonstrar a importância que a missa tem para nós. Não pode ser levada à letra, nem do ponto de vista científico. Sei muito bem separar as duas coisas”, justifica.

E também separa uma missa normal de uma celebração que junta milhares de pessoas, como o 13 de Maio, em Fátima, pelo que concorda “100%” com a decisão da diocese de Leiria-Fátima de não incluir peregrinos nas celebrações deste ano, garante. “É o mais sensato a fazer. No nosso vídeo não pedimos o 13 de Maio, mas as missas paroquiais. É fácil controlar as entradas na igreja, fazer uma lista de inscrições online, definir um número máximo de participantes, desinfectar as igrejas”, defende.

A 13 de Março a Conferência Episcopal Portuguesa anunciou a suspensão de missas comunitárias, catequeses e outros actos de culto, por causa da pandemia da covid-19. Os bispos sugeriram em alternativa o acompanhamento da missa pela rádio, pela televisão ou a internet, dizendo que o período atípico que iria começar era “um convite à oração em família”

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