Vice-presidente da bancada do PSD diz que pandemia mostrou falta de “capacidade” da DGS

Ricardo Baptista Leite defende que Portugal tem de se preparar para uma eventual segunda vaga da pandemia.

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Ricardo Baptista Leite alertou para a diminuição no diagnóstico de outras doenças Nuno Ferreira Santos

O vice-presidente da bancada do PSD Ricardo Baptista Leite alertou para a necessidade de haver preparação para uma eventual nova vaga de covid-19 e considerou a Direcção-Geral de Saúde (DGS) não teve capacidade” para responder à situação. O aviso foi deixado na primeira conferência online do conselho estratégico nacional (CEN) do PSD em torno do tema “saúde e economia: que equilíbrio possível?”. Do lado da economia, o deputado Álvaro Almeida também chamou a atenção para a prioridade em fazer chegar os apoios às famílias e empresas em vez dos “devaneios de investimento público” para que a crise económica seja apenas passageira.

Ricardo Baptista Leite, que é médico, defendeu que a pandemia trouxe uma “oportunidade única” para fazer a “reforma” de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) precisa. Mas deixou um aviso: “Não podemos voltar a ser apanhados de forma desprevenida, precisamos de antever e preparar para ter capacidade de ter resposta e intervenção. Ficou mais do que claro que a Direcção-Geral de Saúde não tem capacidade para estas situações da forma como está estruturada hoje”, disse.

O deputado já tinha apontado o dedo ao secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, por garantir que Portugal estava a preparar a resposta à pandemia desde o final de Janeiro quando as primeiras encomendas de material só foram feitas em Março. Baptista Leite referiu que o Governo e as autoridades de saúde estavam em negação perante o surto e que “foram os portugueses que decidiram ficar em casa, tirar os filhos da escola, o que acabou por gerar pressão” e levar o Governo e o Presidente da República a decretar o estado de emergência.

O vice-presidente da bancada social-democrata lembrou que a capacidade do SNS para a covid-19 não foi esgotada mas que não foi capaz de “manter os serviços para outros doentes”. Um dos exemplos apontados foi a diminuição do diagnóstico de cancro no último mês e meio, o que vai levar a uma detecção tardia com impactos na morbilidade e mortalidade. “Não me venham dizer que a covid-19 cura o cancro”, disse, sublinhando uma ideia que também foi partilhada pelo médico António Araújo. Este oncologista, da Ordem dos Médicos do Norte, mostrou “preocupação” com o estado do SNS e alertou para os riscos de uma eventual segunda vaga quando chegar o Inverno e a sobreposição com outras doenças, nomeadamente a gripe.

Se, como médico, Ricardo Baptista Leite também chamou a atenção para a necessidade de uma resposta a nível europeu e de o Governo pagar as dívidas aos fornecedores, o economista Álvaro Almeida acentuou essas duas ideias. O deputado e coordenador para as Finanças do CEN sublinhou como “decisiva” a capacidade de o Governo “executar as suas promessas”, em fazer chegar os apoios às “famílias e às empresas”, na mesma medida que tem uma “capacidade de anúncios”, apontando a “quantidade de entrevistas sem par do primeiro-ministro”. “Se tudo isso for feito – e agora não tem sido – e não entrar em devaneios de grandes investimentos públicos, podemos ter uma crise económica passageira. Se o Governo não for capaz de fazer isso, o futuro económico será negro”, disse.

Antes do início do debate entre os três convidados, moderado pelo médico de saúde pública Ricardo Mexia, o presidente do CEN, Joaquim Miranda Sarmento, acusou o Governo de falhar no regime de layoff e nas linhas de crédito às empresas, reiterando uma ideia que já tinha escrito num artigo de opinião publicado esta segunda-feira no jornal Eco. O economista relembrou que o PSD apresentará um programa estruturado sobre o relançamento da economia no final deste mês ou início do próximo. 

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