Covid-19: Consumo de electricidade atingiu mínimos de 2004 em Abril

Mês em que Portugal viveu sob estado de emergência também levou a queda no consumo de gás natural. Centrais a carvão estiveram paradas.

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A maior central eléctrica do país, a central a carvão de Sines, esteve parada em Abril Miguel Manso

O consumo de energia eléctrica caiu 12% em Abril, mês em que Portugal esteve sob estado de emergência. Segundo os dados divulgados pela REN esta terça-feira, desde Agosto de 2004 que o consumo de electricidade não descia para um nível mensal “tão baixo”.

A REN indica ainda que no acumulado do ano já se regista uma quebra de 2,6% no consumo eléctrico. A empresa que é responsável pela gestão do sistema energético nacional já tinha dado conta de que, em Março, entre o dia 18 (quando foi pela primeira vez declarado o estado de emergência) e o final do mês, o consumo baixou cerca de 8% face ao mesmo período de 2019.

Os dados completos de Abril mais não fazem do que comprovar o impacto que as restrições à actividade económica impostas no combate à crise de saúde pública tiveram no consumo de electricidade.

Mas não só, também à semelhança do que se verificou em Março, o consumo de gás natural registou uma quebra que atingiu os 26%. A diminuição foi de 13% no segmento convencional e de 66% no segmento de produção de energia eléctrica.

No acumulado entre Janeiro e Abril, a REN indica que o consumo de gás natural subiu 6,6% “devido ao comportamento positivo do mercado eléctrico no primeiro trimestre”, mas recuou 4,1% no segmento convencional, onde estão as indústrias e as empresas.

Abril foi mês sem carvão

Segundo a REN, a produção de electricidade renovável abasteceu 69% do consumo. A energia eléctrica produzida nas barragens contribuiu com 35% e a eólica com 26%. A biomassa e a energia fotovoltaica foram responsáveis por 6% e 2%, respectivamente.

A produção não renovável abasteceu 28% do consumo, mas só funcionaram as centrais a gás natural. “A produção a carvão que vinha sendo muito reduzida, em Abril foi mesmo nula”, refere a REN.

A situação verificou-se pela primeira vez desde a existência das centrais a carvão de Sines e Pego (desde 1985).

Neste período – em que 14% da energia consumida foi importada – registou-se um saldo importador equivalente a cerca de 2,3% do consumo nacional.

“Redução inédita” de gases de efeito de estufa

A associação ambientalista Zero também sublinhou nesta terça-feira o facto de não se ter usado carvão em Portugal para produção de electricidade nos últimos 52 dias. “Nenhuma das duas centrais térmicas de Sines e Pego esteve a funcionar” e a central de Sines, a maior do país, explorada pela EDP, já não produz energia eléctrica desde há 100 dias, refere a Zero.

Este facto “conduziu a uma redução inédita e sem precedentes das emissões de gases com efeito de estufa em Portugal”, salienta a associação.

Esta paragem deveu-se essencialmente ao facto de as centrais a gás natural se terem tornado mais competitivas que o carvão, e de custos associados às emissões relacionados com o preço das licenças de emissão de carbono e com a taxa de carbono e do imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP). A produção de electricidade a partir do carvão deixou de estar isenta de ISP.

Em Março e Abril, em comparação com os mesmos meses de 2019, verificou-se “um decréscimo de emissões de quase um milhão de toneladas de toneladas de dióxido de carbono”: 960 mil toneladas, das quais 370 mil toneladas em Março e 590 mil toneladas em Abril.

Com mais renováveis a abastecer o consumo eléctrico, “as emissões médias diárias de CO2 associadas à produção nacional de electricidade” recuaram de 28 mil toneladas para 12 mil toneladas por dia em Março e Abril deste ano, calcula a Zero.

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