Nós também sabemos respeitar regras

Se foi possível, em pleno estado de emergência, com proibição de sair do próprio concelho, organizar as manifestações do 1.º de Maio, com autocarros e tudo, não vejo porque têm os católicos que esperar mais um mês para poderem voltar a assistir à missa.

Como a maior parte dos católicos portugueses, estava e estou conformada com as regras de confinamento que foram impostas no país e, assim, há dois meses que abdiquei de assistir à missa presencialmente para evitar que o coronavírus se propague de forma descontrolada no país.

A igreja católica tem sabido cumprir escrupulosamente as regras e os católicos têm abdicado da frequência da missa, tentando compensar a falta do sacramento, assistindo à missa através dos meios digitais, acompanhando os sacerdotes que generosamente, a partir de igrejas vazias, celebram a eucaristia para milhares de pessoas com toda a dignidade. Para quem não é católico pode parecer igual, mas não é. O sacramento da comunhão está-nos vedado e esse é o alimento principal da nossa fé. Em vez de comungar da espécie temo-lo feito espiritualmente, com sacrifício, mas conscientes de que a dificuldade das circunstâncias a isso nos obriga.

Por mim estava conformada, o sacrifício continuava a ser necessário em nome de todos. Acontece que, depois de assistir na televisão às comemorações do 1.º de Maio, percebi que é possível outra solução para podermos voltar a frequentar a missa. Basta que nos autorizem a fazer exactamente o que autorizaram à CGTP.

Não sei que ideia é que o Governo ou o primeiro-ministro têm dos católicos. Se nos acham mais irresponsáveis do que os membros da central sindical. Pois quero dizer-lhes que não somos. Também nós podemos ir à missa em pequeno número, em celebrações que os sacerdotes com gosto multiplicarão por vários horários ao longo do dia, para que todas as regras de distanciamento sejam cumpridas. Arriscar-me-ia a dizer até que os padres estão desejosos de celebrar muito mais missas do que aquelas a que estavam habituados e nós, católicos, não nos importamos de alterar os nossos horários.

Se foi possível, em pleno estado de emergência, com proibição de sair do próprio concelho, organizar as manifestações do 1.º de Maio, com autocarros e tudo, não vejo porque têm os católicos que esperar mais um mês para poderem voltar a assistir à missa.

Sei que o primeiro-ministro não é católico, mas não haverá um católico no Governo ou no PS capaz de lhe explicar o que é a missa para nós? E se no universo socialista não houver ninguém, será que o católico Presidente da República lhe é capaz de explicar que a missa está para os católicos como a economia para a sobrevivência de um país?

Não me indigno com as comemorações do 1.º de Maio nem com os dirigentes da CGTP – de resto, alguns deles são também católicos. Agradeço-lhes o exemplo que deram ao país com a sua organização e venho, inspirada nisso, pedir ao Dr. António Costa que reconsidere o calendário previsto para que possamos voltar à missa.

Se há um dado que fica deste estranho tempo que estamos a atravessar, é o comportamento exemplar que a igreja católica tem tido. A começar pelo exemplo do Papa Francisco a celebrar sozinho na Praça de São Pedro a mais bonita semana santa de que me lembro. Foi bonita, mas faltou-nos o mais importante: A comunhão!

Nós também somos responsáveis e conseguimos dar conta do recado, senhor primeiro-ministro! Se nos permitir ir à missa mais cedo, não se vai arrepender. Vamos cumprir tudo o que nos for imposto. Mas para nós ir à missa é a diferença entre podermos alimentar a nossa fé ou termos que continuar em jejum eucarístico. Peça a um católico seu amigo que lhe explique a diferença.

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