Covid-19. Não existe “nenhum surto” de doença inflamatória grave em crianças — casos são raros

Maria João Brito, responsável pela Unidade de Infecciologia do Hospital Dona Estefânia, avisou que com um número de casos “tão pequeno” ainda “não se pode estudar verdadeiramente estes doentes”.

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Rui Gaudencio

A responsável da unidade que trata crianças com covid-19 no Hospital D. Estefânia, em Lisboa, esclarece que não existe nenhum surto de doença inflamatória grave associada à pandemia, apenas casos que são muitos raros, e garantiu que os profissionais estão atentos aos sintomas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) está a investigar possíveis ligações entre a covid-19 e uma doença inflamatória grave que afecta crianças, mas afirmou que, por enquanto, se trata de casos “muito raros”.

“Isto não é nenhum surto, não é nenhuma coisa ameaçadora. Portanto, à medida que vamos tendo mais casos, a probabilidade de termos formas raras da doença vão surgindo”, explica Maria João Brito, responsável pela Unidade de Infecciologia do Hospital Dona Estefânia, a unidade de referência para a covid-19 em idade pediátrica, do Centro Hospitalar Lisboa Central.

Maria João Brito conta que “há duas, três semanas” os seus colegas espanhóis, ingleses, e mais tarde os italianos, reportaram o aparecimento de alguns casos de crianças e adolescentes com este quadro clínico. “Umas crianças tinham a PCR positiva para a covid e outras não”, mas mais tarde a serologia foi positiva, diz a especialista.

Alguns casos apresentavam algumas características da doença de Kawasaki e outras características da doença conhecida como síndroma de choque tóxico, “mas não é nem uma coisa nem outra”, esclarece.

A infecciologista explica que “a síndrome de choque tóxico é provocada por umas bactérias muito agressivas e a doença de Kawasaki é uma doença que não se conhece a causa”, mas que “se pensa ser desencadeada por um agente infeccioso em que há uma inflamação imensa de todos os órgãos que podem realmente levar a lesar os órgãos.

Os casos relatados “são quadros clínicos que têm características de um lado e de outro”, mas têm outra “característica muito diferente”, apresentam “uma percentagem importante com envolvimento abdominal”. “O que parece que acontece nesta forma de covid é que há uma desregulação imunológica face a uma infecção, que neste caso é a covid-19, e há uma resposta desadequada do nosso sistema imunológico”, diz a médica, explicando: “A imunidade do nosso corpo em vez de nos proteger ataca as nossas células”.

De acordo com a especialista, quase todos os casos necessitam de cuidados intensivos.

Maria João Brito esclarece ainda que “o quadro clínico destes doentes não passa despercebido, o que leva a que as pessoas vão ao hospital”, porque começam com febre muito alta que não baixa e “a criança fica com um ar muito doente”.

No entanto, a especialista avisou que, com um número de casos “tão pequeno” ainda “não se pode estudar verdadeiramente estes doentes”.

Segundo a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, até ao momento não foi registado nenhum caso em Portugal. Graça Freitas adiantou ainda que as crianças que têm sido acompanhadas na pediatria em Portugal têm tido, até à data, “uma evolução bastante favorável da sua condição clínica”.

No Hospital D. Estefânia, “já tivemos 75 doentes até hoje infectados”, a maior parte deles foram acompanhados em casa, segundo Maria João Brito.

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