Misericórdias defendem abertura das creches e jardins de infância em meados de Maio

A reabertura dos lares de idosos aos familiares continua sem data prevista. CNIS defende que deve acontecer “o quanto antes”, para que os idosos não se sintam abandonados.

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Idosos nos lares estão impedidos de ver os familiares desde o dia 6 de Março Paulo Pimenta

Em vez de uma data fixa para a abertura de todas as creches – que o Governo apontou para o dia 1 de Junho —, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, preferia uma solução “à dinamarquesa”: que as creches e jardins-de-infância pudessem abrir progressivamente, já a partir de meados de Maio, consoante as necessidades e vontade manifestadas pelos pais das crianças.

“Numa zona fabril, cujas unidades começam a reabrir no início de Maio, como em Vizela, por exemplo, há muitos pais que estão a falar com as misericórdias para se poderem reabrir as creches, porque não têm onde deixar os filhos. E, com cautela e testes, acho que estas creches têm o dever de reabrir, para ajudar a economia”, defendeu o presidente da UMP, sob cuja tutela existem 218 creches e jardins-de-infância espalhados pelo país.

Apontando o exemplo dinamarquês – “que são os ‘latinos’ da Europa do Norte” —, Manuel Lemos admite que estes equipamentos possam aumentar a distância entre crianças de dois para seis metros quadrados, para diminuir o risco de contágio, dizendo acreditar que tal possa acontecer sem necessidade de regulamentação específica. “Vai haver mais gente desempregada, que deixa de precisar de recorrer aos equipamentos e muitos pais que não o quererão e arranjarão outras soluções”, admite, para considerar que “abrir tudo no dia 1 de Junho, ‘à bruta’, pode não ajudar naquilo que se quer seja a responsabilização dos pais no combate ao contágio” pelo novo coronavírus.

A abertura progressiva destes equipamentos de guarda das crianças — ressalva o presidente da UMP — não poderá ser feita sem que estejam garantidas medidas, como sejam a medição da temperatura de crianças e cuidadores, por um lado, e a garantia da existência de equipamentos de protecção individual.

E os lares? “O quanto antes"

Sem data definida está a reabertura dos lares às visitas dos familiares. Conscientes de que o confinamento dos idosos institucionalizados em lares já dura há quase dois meses, o presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade Nacional (CNIS), Lino Maia, considera que as portas dos lares deveriam abrir-se aos familiares dos utentes o quanto antes. “Os lares estão encerrados desde o dia 6 de Março. É muito tempo. E a saudade e o enclausuramento tornam os idosos ainda mais frágeis. Aliás, estou convencido que vamos ter de enfrentar problemas mentais acrescidos nesta população”, avisa, ressalvando que a ideia “não é escancarar os lares”, mas garantir que, “em espaços próprios, devidamente desinfectados e com a devida distância”, tais contactos se possam restabelecer.

“A decisão não é nossa – será do Governo —, mas penso que temos de começar a tomar medidas para o ‘próximo imediato’ e uma das mais importantes será fazer sentir aos idosos que não estão abandonados”, avisa, confessando-se horrorizado com as declarações da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, que estimou há dias que a proibição de visitas nos lares de idosos possa perdurar até ao fim do ano. “Estes utentes viram os prisioneiros transpor as portas das prisões – e aplaudiram isso —, vêem as creches e outras actividades serem reabertas e interrogam-se: ‘E nós?’. É importante que se aponte uma data, porque os idosos também precisam de perspectivas”, insiste.

O presidente da CNIS considera, de resto, que a recente abertura de portas à possibilidade de os idosos com covid-19 serem transferidos para outras instalações — que diz estarem a ser criadas em vários pontos do país, com a colaboração das autarquias — possa ajudar a acelerar o calendário da reabertura dos lares. O mesmo se passa com o despacho publicado sábado pelo Ministério da Saúde que prevê que estes utentes possam ser acompanhados pelos médicos e enfermeiros dos centros de saúde. “Foi uma decisão importantíssima — tardia, mas importantíssima —, porque com os médicos e enfermeiros que colaboravam com os lares cooptados pelo SNS, os profissionais dos lares não têm, em muitos casos, condições de garantir os cuidados a estes doentes.”

Mais cauteloso sobre esta matéria, o presidente da UMP, Manuel Lemos, não prevê que este “desconfinamento” dos lares se possa fazer antes de decorrido um mês ou um mês e meio. “Do ponto de vista afectivo e emocional isto é muito violento para os utentes, mas temos de nos assegurar que estão garantidas todas as condições de segurança, embora admita que este processo se possa fazer de forma gradual, consoante as instituições: num lar que tenha jardim, e estando bom tempo, esse contacto pode ser feito no exterior para minimizar o risco”, admite, concluindo que “cada caso será um caso”.

Visitas ao ar livre

Já há lares a prepararem-se para promover visitas à distância, nos jardins, quando estes existam e nos casos em que os idosos se possam deslocar. É, de resto, o que se passa na Noruega, onde a ideia é que, nos dias de bom tempo, as visitas possam fazer-se ao ar livre, sem contacto físico entre idosos e familiares. Na Alemanha, a proibição de visitas cessa a partir de 1 de Maio. Para garantir a protecção dos idosos, serão obrigatórias medidas como a medição da febre, a desinfecção das mãos e a protecção do nariz e da boca, com máscaras. Os visitantes só poderão entrar em determinadas áreas do lar, devidamente higienizadas e previamente definidas. Serão, de igual modo, criadas as chamadas “salas de despedida”, onde familiares poderão despedir-se dos idosos em cuidados paliativos. 

Em Portugal, para que se possa obter um retrato fiel dos lares de idosos e dependentes, bem como das unidades de cuidados continuados tutelados pelas Misericórdias, Manuel Lemos endereçou segunda-feira uma carta aos 400 provedores pedindo-lhes que comuniquem semanalmente todos os casos de contágio e óbitos relacionados com a covid-19. “Estes números serão divulgados todas as semanas, para o melhor e para o pior. Mas acredito que ajudarão a combater esta ideia de que os lares são antecâmaras da morte. Não são. E, aliás, esta contabilização das mortes de utentes de lares por covid-19 que é feita pela Direcção-Geral de Saúde, sem distinguir entre os que são os lares com protocolos com o Estado e os restantes, causa-nos um dano reputacional desnecessário”, critica.

A UMP tem 551 lares de idosos sob sua tutela – com cerca de 29 mil idosos —, além de 150 unidades de cuidados continuados, com cerca de 4500 camas.

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