Moro tem apenas um “compromisso consigo próprio, com o seu ego, e não com o Brasil”, diz Bolsonaro

O Presidente perdeu esta sexta-feira um dos seus principais ministros

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O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro UESLEI MARCELINO/Reuters

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está neste momento em conferência de imprensa para “restabelecer a verdade” sobre a exoneração do director da Polícia Federal que levou à demissão do Ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro.

“Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela”, disse Bolsonaro em conferência de imprensa com vários ministros ao seu lado, contando que disse a alguns deputados horas antes sobre Moro: “Hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com o seu ego, e não com o Brasil”. 

Na tarde desta sexta-feira, Moro fez uma conferência de imprensa em que anunciou a sua demissão da pasta da Justiça e da Segurança Pública por causa da “interferência política” de Bolsonaro para proveito próprio, para se proteger e a membros da sua família de investigações federais. Mostrou-se “ofendido” pela forma como soube, através da publicação no Diário Oficial, da exoneração do director da Polícia Federal, Maurício Valeixo, e fez uma série de acusações que, dizem procuradores, podem abrir o caminho a um possível impeachment

Mas, por agora, enfraqueceu a base eleitoral do Presidente que mais se preocupa com o combate à corrupção, uma das bandeiras do executivo e da qual Moro era o principal rosto. 

O Presidente contestou a narrativa de Moro de ter violado a sua promessa de carta-branca ao ministro dizendo que todos os membros do seu executivo sabiam que tinha “poder de veto”. “Autonomia não é soberania”, acrescentou, sublinhando depois num tom mais energético: “Eu não tenho de pedir autorização a ninguém para tirar uma pessoa do comando”.

E, salientando que os membros da equipa tiveram e têm grande margem de manobra, Bolsonaro disse que deu “luz verde a “mais de 90% desses cargos que passaram” pela sua secretária. “Abri mão disso, porque confiava no Moro e ele trouxe a sua equipa aqui para Brasília. Todos os cargos-chave da Justiça são de Curitiba”, disse o chefe de Estado.

Sobre a exoneração do director da Polícia Federal, Bolsonaro voltou a afirmar que desde Janeiro este se queria demitir e que teve uma conversa com ele em que esse facto lhe foi confirmado. Narrativa que Moro contestou esta sexta-feira, dizendo que Valeixo pôs em causa demitir-se, mas apenas por causa das pressões, “nunca voluntariamente”. 

Bolsonaro também não perdeu a oportunidade de acusar Moro de “buscar uma maneira de botar uma cunha entre” si e o povo brasileiro, referindo que isso “aconteceu há poucas horas”, quando o ministro apresentou a demissão. “Poderosos se levantaram contra mim. Estou lutando contra o sistema, contra o sistema. Coisas que aconteciam no Brasil já não acontecem mais”, sublinhou o chefe de Estado, acrescentando: “Ontem [quinta-feira] conversei com Moro e abri meu coração, duvido que ele abriu o dele para mim”. 

Uma das questões mais importantes retiradas das palavras de Moro é se Bolsonaro queria ter um director da PF que lhe fornecesse informações que o permitissem proteger-se a si e à sua família, mas o Presidente negou que tivesse essa intenção. “Nunca pedi para ele [Moro] para que a PF me blindasse onde quer que fosse”, disse “Nunca pedi para não investigar ninguém da minha família. Nunca”, garantiu Bolsonaro, referindo-se à investigação em que o seu filho, Carlos Bolsonaro, é visado por liderar um “gabinete de ódio” de fake news que opera no Palácio do Planalto. 

E, para garantir que assim é, o Presidente prometeu, no que a si depender, que as “operações da PF serão potencializadas”, que seja “usada na sua plenitude” contra o crime organizado e a corrupção. “Moro resolveu marcar uma colectiva e fez acusações infundadas que eu lamento”, disse Bolsonaro, salientando. “Desculpe, senhor ministro, mas você não me vai chamar de mentiroso”. 

No final, Bolsonaro garantiu que o seu executivo não vai desarmar, apesar ir continuar a “levar, no sentido figurado, muito tiro na cara”, na sua missão em “servir a pátria” e que até “derramará sangue para defender a democracia e a liberdade”. E acusou Moro de estar preocupado já com os seus projectos políticos futuros, sem referir as eleições presidenciais de 2022. 

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