Covid-19: repudiada pelos EUA, OMS lança iniciativa com líderes europeus e mundiais para acelerar vacina

Macron, Von der Leyen, Merkel, Sánchez e Guterres associam-se à organização mundial numa parceria multilateral para intensificar “desenvolvimento, produção e distribuição equitativa de vacinas, diagnósticos e tratamentos” para a doença. EUA ficam de fora.

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Emmanuel Macron, Presidente francês, participou no lançamento da iniciativa, por videoconferência Reuters/POOL
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Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS, apresentou o projecto Reuters/Denis Balibouse
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Presidente da Comissão Europeia juntou-se ao líder francês no evento virtual de apoio à OMS LUSA/OLIVIER HOSLET

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou esta sexta-feira uma parceria global tendo em vista a aceleração do “desenvolvimento, produção e distribuição equitativa de vacinas, diagnósticos e tratamentos” para a covid-19. A iniciativa conta com o apoio e a cooperação de vários países e líderes europeus e mundiais, incluindo Angela Merkel, Emmanuel Macron, Ursula Von der Leyen, Pedro Sánchez ou António Guterres.

De fora ficam os Estados Unidos, que já tinham revelado, a meio da semana, que estavam à procura de um parceiro alternativo à OMS para o desenvolvimento de vacinas.

Na semana anterior, Donald Trump, Presidente norte-americano, anunciou o congelamento do financiamento à organização, acusando-a de ter colaborado com a China para “encobrir” a gravidade do novo coronavírus, de “espalhar desinformação chinesa” e de “provocar muitas mortes com os seus erros”.

A iniciativa foi apresentada em conferência de imprensa pelo director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na qual participaram ainda os chefes de Governo da Alemanha, França, Espanha, Itália, Noruega, Arábia Saudita, Costa Rica, África do Sul, Ruanda e Malásia, assim como o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, em representação do Reino Unido.

Os líderes da Comissão Europeia, das Nações Unidas e da União Africana, de outras organizações internacionais, humanitárias e científicas, e alguns representantes do sector privado, incluindo da Fundação Bill e Melinda Gates, também intervieram. 

A mensagem generalizada partilhada pelos participantes no evento virtual foi a de que é necessária unidade e colaboração ao mais alto nível para se encontrar uma vacina e tratamento para a covid-19 e para permitir que toda a gente tenha acesso a eles. O vírus já infectou mais de 2,7 milhões de pessoas em todo o mundo e matou cerca de 190 mil.

Macron, Presidente francês, descreveu a parceria como um “apelo à acção”, Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, elogiou a “frente unida” contra a pandemia, e Sánchez, chefe do Governo de Espanha, lembrou que “ninguém estará seguro enquanto houver alguém infectado”.

O secretário-geral da ONU e ex-primeiro-ministro português, António Guterres, defendeu que o objectivo da comunidade internacional nunca pode ser o de “procurar vacinas ou tratamentos para um só país ou para uma só região ou para uma só parte do mundo”.

“O nosso compromisso comum é garantir que todas as pessoas têm acesso a todas as ferramentas para derrotarem a covid-19. O mundo precisa destas ferramentas e precisa delas rapidamente”, resumiu o director-geral da OMS. “Enfrentamos um inimigo comum que só pode ser derrotado com uma abordagem comum”.

Von der Leyen revelou que a Comissão vai pôr em marcha uma iniciativa, no início de Maio, para angariar 7,5 mil milhões de euros, que serão investidos na “prevenção, diagnóstico e tratamento” do coronavírus.

Estão neste momento a ser desenvolvidas mais de 100 potenciais vacinas, incluindo seis já na fase de ensaios clínicos, avançou à Reuters Seth Berkley, director-geral da Aliança para Vacinas GAVI, uma parceria público-privada que lidera campanhas pela imunização contra várias doenças em países pobres.

EUA querem “continuar a liderar”

Um porta-voz da representação norte-americana na OMS confirmou à agência noticiosa que “não haverá participação oficial dos EUA” na iniciativa lançada esta sexta-feira, mas garantiu que Washington não abandonou nem a sua faceta multilateralista, nem a sua vocação para ser líder global.

“A pausa no financiamento dos EUA à OMS não limita ou redefine o nosso compromisso para com um envolvimento internacional forte e eficaz”, afiançou o porta-voz. “Que não haja dúvidas sobre a nossa determinação em continuar a liderar sobre questões de saúde global, incluindo a actual crise de covid”.

Na sua intervenção, Emmanuel Macron prometeu unir esforços para “reconciliar” norte-americanos e chineses e trazê-los para o projecto.

“Vamos continuar a mobilizar todos os países do G7 e do G20. Espero que consigamos reconciliar tanto a China como os EUA em redor desta iniciativa conjunta, porque a luta contra a covid-19 é um esforço humano comum. Se quisermos vencer esta batalha, não pode haver divisões”, afirmou o chefe de Estado francês.

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