Passaporte de saúde para ir ao estrangeiro, praias com gestor de covid, será assim o Verão europeu?

Países com forte turismo de praia tentam planos para reabrir a actividade. Provavelmente a visitantes do próprio país, e com muito menos pessoas do que o habitual. Uma ilha italiana prevê mesmo um “gestor de covid-19”.

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Praia na ilha grega de Santorini: para reabrir, as praias terão de ter muito mais distância entre as espreguiçadeiras Cathal McNaughton/Reuters

Que este não vai ser um Verão normal, já ninguém duvida. Países com praias que são fortes destinos de férias estão a desenvolver planos para o que poderá ser a época alta: a Grécia pondera receber estrangeiros desde que tenham um “passaporte de saúde” (com teste negativo ao coronavírus), Itália e Espanha debatem férias de proximidade com regras estritas nas praias. 

A Grécia quer capitalizar com os seus números baixos de casos do novo coronavírus entre os países europeus - 2408 infectados e 121 mortos com covid-19 e, nas últimas 24 horas, apenas sete novos casos e nenhuma morte.

É uma excepção e tida como modelo. “A Grécia está a fazer um trabalho extraordinário na contenção da epidemia”, disse o historiador israelita Yuval Noah Harari no programa da estação de televisão norte-americana CBS com James Corden. Se tivesse de escolher “quem lidera o mundo, quem nos dá um plano de acção, por exemplo, entre os EUA e a Grécia, escolheria a Grécia”.

Assim, o país considera tentar ter uma época turística mais curta, mas aberta a estrangeiros. A proposta é ter uma espécie de “passaporte de saúde” para os visitantes, segundo disse o ministro do Turismo, Harry Theoharis. O responsável diz que tudo tem de ser feito em coordenação europeia - não espera turistas vindos dos EUA, por exemplo - e que os testes ao coronavírus seriam feitos nos países de origem dos turistas, antes da viagem.

“Os vários países teriam de concordar em práticas seguras de entrada, e já pedi à comissão Europeia para ajudar a ter estes protocolos”, disse Theoharis.

Da Comissão Europeia, a presidente, Ursula von der Leyen, tinha afirmado, numa entrevista ao semanário Expresso, que acha “possível” que “com soluções inteligentes” possa haver férias de Verão - isto depois de na semana anterior ter tido uma intervenção num tom mais cauteloso, dizendo que era melhor que as pessoas adiassem os seus planos. Ainda assim, Von der Leyen fez esta suposição quando questionada sobre a possibilidade de férias nos países de residência, pelo menos. A Grécia gostaria de ver turistas de fora, e também por isso está em contacto com companhias aéreas.

Viagens ao estrangeiro não

Da Alemanha, o país europeu de onde saem mais turistas para os destinos europeus de Verão, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, já avisou que “não vai haver uma época turística normal este ano”. Maas diz que não vê razões para levantar tão cedo as restrições às viagens para o estrangeiro, que são apenas permitidas em caso de força maior.

Da Baviera, o líder do governo do estado federado Markus Söder também disse que achava “muito improvável” que pudesse haver férias no estrangeiro. Na Baviera foi anunciado ainda o cancelamento do Oktoberfest, a festa da cerveja que leva todos os anos cerca de seis milhões de pessoas a Munique. 

A Alemanha está em pleno debate sobre como ir gradualmente levantando as restrições, com a chanceler, Angela Merkel, a repetir que a pandemia “ainda está no início”, e a fazer apelos a cuidados extra, pois qualquer passo em falso pode significar um rápido aumento de casos e um eventual sobrecarregar dos serviços de saúde, o que até agora não aconteceu.

Nos media alemães, imaginam-se férias apenas dentro dos estados federados de residência, e também não há ainda indicação sobre o que acontecerá na época balnear nos lagos e piscinas, com vários estados, como Brandeburgo, à volta de Berlim, a adiar o seu início.

Enquanto isso, países como Itália ou Espanha, muito mais duramente atingidos pela pandemia, imaginam uma época balnear muito regrada e virada para o mercado interno.

Em Espanha, os planos passam por hipóteses como viagens em comboios e aviões a 30% da sua capacidade ou estabelecimento de turnos para ir à praia.

Na Andaluzia, o chefe do governo regional Juan Manuel Moreno defendeu a abertura das praias, restaurantes e hotéis, sempre de modo a que seja respeitada a distância social de segurança. A polícia local ou autonómica poderia ficar encarregada de vigiar as praias para que não houvesse desrespeito destas distâncias, propôs, numa entrevista ao canal Tele 5. 

Cubos de acrílico na areia

Também em Itália há uma grande vontade de permitir o mais possível a época balnear. A empresa italiana Nuovaneon fez ondas ao apresentar uma potencial solução: cubículos de plástico transparente para isolar quem queira estar na praia, feitos de policarbonato ou acrílico.

Apesar da estranheza de ter espaços praticamente fechados em praias, a empresa disse à agência espanhola EFE que já recebeu vários pedidos de informação de hotéis e aguarda as normas oficiais para o acesso às praias. A presidente da Câmara de Riccione, no Adriático, quer fazer “as primeiras tentativas” de reabrir as praias na segunda metade de Junho, com menos chapéus-de-sol e menos bares e esplanadas para assegurar o cumprimento da distância social.

Há locais que querem tornar-se um exemplo, como a ilha de Albarela, ao largo de Veneza: segundo o suplemento de viagens do jornal Corriere della Sera, a entidade que gere as praias concessionadas tem um plano de reabertura incluindo praias abertas apenas sob reserva, espaços distanciados, e até um cargo de “gestor de covid-19”.

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