Bónus para CEO da KLM “é incompatível” com ajuda de Estado, diz Hoekstra

Governo dos Países Baixos recusa pagamento de prémios no grupo de aviação Air France-KLM, que negoceia garantias públicas para um empréstimo milionário que o ajude a sobreviver.

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Benjamin Smith, CEO da Air France-KLM, com Anne Rigail, CEO da Air France Regis Duvignau/Reuters (Arquivo)

“Pagar bónus nestes tempos de crise é imprudente e incompatível com apoios financiados por dinheiro dos contribuintes.” É desta forma que o ministro holandês das Finanças, Wopke Hoekstra, comenta o esquema de remunerações do presidente-executivo (CEO) do grupo de aviação Air France-KLM, Ben Smith. Os governos de França e dos Países Baixos têm importantes participações no capital da companhia, que procura garantias do Estado para um empréstimo de dez mil milhões de euros que lhe permita ultrapassar a crise económica causada pela pandemia de covid-19.

O esquema de remuneração do gestor foi alterado na semana passada, de acordo com a agência Reuters. A componente variável passou a incluir a capacidade do gestor de assegurar ajuda financeira para o grupo que resultou da fusão da Air France e da KLM, em 2004. Na avaliação do gestor, foi retirado o critério da redução da dívida, e adicionada a poupança bem como “a obtenção de apoio e de financiamento”.

Benjamin Smith recebe 900 mil euros anuais de salário base. A componente variável pode ascender aos 1,35 milhões de euros. Além disso, tem ainda o direito a um “incentivo” anual de dois milhões de euros, em função de objectivos de longo prazo, que são pagos três anos depois.

O gestor garantiu que vai reduzir a componente fixa e o bónus na mesma proporção que os trabalhadores colocados pela empresa em layoff. Para o governo holandês, que poderá vir a assumir garantias públicas sobre um quinto dos dez mil milhões de que o grupo diz estar necessitado, assumindo responsabilidades de 2000 milhões à subsidiária KLM, aquele corte garantido pelo gesto é uma medida insuficiente. 

A presidente do conselho de administração do grupo franco-holandês, Anne-Marie Couderc, disse na quarta-feira no senado francês, que as conversações sobre a solução que combina garantias de Estado e empréstimos à Air France deverá ficar concluída “nos próximos dias”. Porém, será necessário mais tempo para obter o acordo do governo holandês, disse.

O Estado francês detém 14,3% e os Países Baixos são donos de 14% do capital do grupo franco-holandês, cujo valor bolsista actual está reduzido a menos de um terço do máximo dos últimos cinco anos, registado no início de 2018.

A cotação actual do dia ronda os 4,56 euros por acção, ao passo que em Janeiro de 2018, a cotação era de 14,06. Qualquer um dos valores fica a grande distância da cotação máxima de 38,30 euros por acção, registada a 1 de Junho de 2007. Desde então, a empresa nunca recuperou o valor bolsista que registou antes da crise financeira de 2008/09, ao contrário da Lufthansa, por exemplo, que também perdeu valor depois de 2018, mas que nesse ano valia mais em bolsa do que antes da recessão mundial.

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