Politécnicos só terão aulas para número “residual” de alunos e admitem medição de temperatura à entrada

Turmas serão divididas em turnos e haverá circuitos nos corredores para reduzir o contacto. Estudantes só deverão voltar às salas em Junho.

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Andre Rodrigues

Apenas um número “residual” de estudantes vai voltar às instalações dos politécnicos, quando as aulas presenciais forem retomadas, como é intenção do Governo. O regresso às aulas só deve acontecer em Junho. O plano dos institutos superiores implica também dividir turmas em turnos e criar circuitos nos corredores para reduzir os contactos. 

As instituições ainda estão a apurar o total de estudantes que terão mesmo que retomar as aulas. A avaliação está a ser feita “instituição a instituição”, explica o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos, mas esse número será sempre “residual”.

É já certo que, na maioria das disciplinas, não voltará a haver aulas este ano lectivo. Os estudantes dos politécnicos não voltarão a ter sessões teóricas presenciais e mesmo algumas “cadeiras” práticas, nas quais o ensino à distância se tem revelado eficaz, vão continuar nessa modalidade nos próximos meses.

As aulas presenciais serão retomadas apenas pelos alunos que estão no último ano dos seus cursos e também pelos estudantes que têm “cadeiras” práticas, sobretudo as laboratoriais. Os exames considerados “indispensáveis” também serão feitos presencialmente, mas o CCISP revela preocupação com a equidade entre os alunos, tendo em conta sobretudo os que vivem em zonas que, por via das medidas de contenção da covid-19, possam não ter condições para se deslocar até às instituições onde estudam.

Estas medidas foram debatidas nesta quarta-feira pelos presidentes dos politécnicos com o ministro da tutela, Manuel Heitor. No final da semana passada, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) deu indicações às universidades e politécnicos para se prepararem para um regresso “faseado” às actividades presenciais a partir de 4 de Maio. O regresso às salas de aulas nos politécnicos só deverá acontecer em Junho.

A cautela dos responsáveis do sector não se prende apenas com a evolução da situação sanitária, mas também com a necessidade de preparar a logística que será necessária a um regresso ao activo. As salas de aulas terão a sua lotação diminuída para permitir manter o distanciamento entre os alunos o que implica desdobrar turmas. Os horários também vão sofrer alterações, implicando em alguns casos aulas nocturnas, para evitar que os estudantes usem transportes públicos nas horas em que a maioria dos trabalhadores segue para os seus empregos.

Alunos, professores e funcionários terão que circular com máscaras de uso geral e outros equipamentos de protecção e serão desenhados “circuitos de circulação” nos corredores e outras zonas comuns para reduzir o contacto entre estudantes, professores e funcionários. As instituições estão ainda a definir protocolos de higienização dos edifícios.

Pedro Dominguinhos admite também que passe a ser prática corrente medir a temperatura de todas as pessoas antes de entrarem nas instalações das instituições de ensino.

As próximas semanas serão um “momento de aprendizagem”, até porque o próximo ano lectivo vai ser condicionado pela covid-19. “Enquanto não houver uma vacina, vamos ter que redefinir a actividade do ensino superior”, antecipa o presidente do CCISP. As medidas de higiene e distanciamento agora aplicadas deverão manter-se e o ensino vai manter uma forte componente à distância.

Imunidade testada no Porto

Alunos e professores da Universidade do Porto vão ser parte de uma experiência-piloto de aplicação de testes serológicos. Aquela universidade anunciou, esta quarta-feira, a disponibilização gratuita deste tipo de exames à sua comunidade académica – incluindo o pessoal não-docente –, de forma a avaliar a sua capacidade de gerar anti-corpos à covid-19 antes do regresso às actividades presenciais.

O MCTES quer que essa experiência sirva de base a uma iniciativa para alargar estas provas a todas as instituições de ensino superior (as universidades ainda não apresentaram os seus planos de reabertura). O ministro Manuel Heitor tem estado a negociar essa solução com o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira. Os dois responsáveis devem reunir-se na próxima semana. Os testes avançarão no início do mês de Maio no Porto. A tutela quer estendê-los às restantes universidades e politécnicos nas semanas seguintes, caso os resultados sejam promissores.

Esta quarta-feira, numa entrevista ao Observador, o ministro da Ciência e do Ensino Superior já tinha antecipado que os testes serológicos podem ser um dos “elementos de confiança” que as universidades e politécnicos podem dar à população antes do regresso às aulas práticas, nos próximos meses.

À agência Lusa, o reitor da Universidade do Porto afirmou que nas próximas duas semanas, a instituição vai avaliar vários testes serológicos, por forma a escolher um, cuja “confiança seja elevada”. Depois da validação, os testes serológicos vão estar disponíveis, de forma gratuita, para todos os docentes, pessoal não docente e estudantes que necessitem de retomar as actividades presenciais nas instalações da universidade.

“Só os estudantes que tem necessidades comprovadas, como trabalhos práticos, laboratoriais ou estágios é que poderão fazer os testes, os que estão em casa, nesta fase, ficam foram deste trabalho”, referiu, acrescentando, no entanto, que, entre funcionários e professores, os testes vão abranger “mais de quatro mil pessoas”. Nesse sentido, vai ser elaborado, em colaboração com o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, um calendário que, previamente, vai determinar os dias em que a comunidade académica pode fazer o teste serológico na sua unidade orgânica.

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