“Retoma no turismo vai ser a mais lenta” de todos os sectores

Ministro da Economia, ouvido esta terça-feira no Parlamento, afirmou esperar sinais de retoma “no próximo ano”. Empresários vão esta tarde a São Bento.

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Sector vinha de um ciclo de crescimentos daniel rocha

“A retoma no turismo vai ser a mais lenta” entre os vários sectores de actividade, afirmou esta terça-feira no Parlamento o ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira. O turismo, segundo adiantou aos deputados da Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, “vai ser muito afectado no imediato”, devido “à retracção das pessoas em viajar e realizar eventos” devido aos receios provocados pela covid-19.

Durante “um ano, dois anos” estimou, os níveis de actividade turística “vão ficar abaixo do que nos habituámos”. Para este ano, diz, há “cenários pesados” em relação ao sector, perspectivando que “no próximo ano” possa haver sinais de retoma”.

Portugal, defendeu, pode beneficiar da percepção de ser um “destino seguro”, seja do ponto de vista da segurança física como também da segurança sanitária. Esse, sublinhou, será “um factor que os viajantes vão valorizar muito”.

Os dois primeiros meses do ano foram de crescimento para o sector, mantendo a tendência que se vinha prolongando desde há vários anos, e, embora ainda não haja dados de Março, será um mês bem diferente do que era antecipado.

Empresários em nome individual com candidaturas aprovadas

O Governo já colocou no mercado linhas de financiamento específicas para o turismo, uma das quais dedicada apenas a empresários em nome individual e microempresas e sem juros. No valor de 60 milhões de euros, a linha, gerida pelo Turismo de Portugal, está no terreno há um mês, desde o dia 19 de Março.

Até dia 16 de Abril, de acordo com os dados do Turismo de Portugal, tinham dado entrada 4339 pedidos de financiamento no valor global de 35,6 milhões de euros. No mesmo período houve 2031 candidaturas aprovadas, no valor de 16 milhões (27% do montante total), e, destes, foram entregues 7,5 milhões, distribuídos por 968 entidades. De acordo com os dados fornecidos pelo Turismo de Portugal, cerca de 17% das candidaturas que foram aprovadas são de empresários em nome individual.

Hotelaria e restauração recebidos hoje em São Bento

O Turismo de Portugal dá também conta de que há 1986 candidaturas em análise, e que até aqui houve 322 rejeitadas.

Segundo explicou ao PÚBLICO este organismo público, na esmagadora maioria dos casos, o motivo para não haver aprovação é o de “as empresas candidatas não revestirem a dimensão de microempresas, não tendo por isso enquadramento” nesta linha, mas sim na Linha de Apoio à Economia - Covid 19, gerida pela Sociedade Portuguesa de Garantia Mútua.

Esta foi recentemente reforçada de 3000 para 6200 milhões de euros e tornou-se mais abrangente em termos de tecido empresarial, mas nada mudou em relação ao turismo.

Assim, há três linhas orientadas para este sector: uma de 900 milhões para “empresas do turismo” como alojamento, outra de 600 milhões para a “restauração e similares” e outra de 200 milhões para “agências de viagens, animação, organização de eventos e similares; e empreendimentos e alojamentos turísticos. Para as micro e pequenas empresas ficou dedicado 38% do bolo total (equivalente a 645 milhões de euros). Além do reforço, esta linha passou também a incluir os empresários em nome individual.

Esta tarde, o primeiro-ministro, acompanhado do ministro da Economia e da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, recebe em São Bento representantes do sector hoteleiro e restauração (grupos Vila Galé, Porto Bay, Pestana e Sana, além da Associação da Hotelaria de Portugal e da Ahresp - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal). O objectivo é ouvir os empresários sobre o momento de actuais dificuldades do sector e começar a pensar em medidas de relançamento da actividade.

Impulsionado pelo turismo, o sector dos serviços ajudou a manter a balança comercial positiva em 2019, com um saldo de 818 milhões de euros (menos 45% face a 2018). Ao todo, o turismo representou a entrada de 18.431 milhões de euros em Portugal (mais 8%), atingindo mais um novo recorde. Já as importações foram de 5300 milhões, o que dá um saldo de 13.131 milhões de euros.

No final de 2018, um estudo do Banco de Portugal estimava que o turismo abrandasse, mas mantendo um crescimento acima da média da economia. De acordo com banco central, as exportações do turismo iriam chegar aos 9,3% do PIB em 2021, contra os 7,8% de 2017. No início da década, em 2010, ano em que começou o actual ciclo de crescimento, as exportações valiam metade: 4,2%.

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