Bem-vinda a nova telescola

E, sinal ou não, passa na RTP Memória, pois todos queremos que passe depressa, que seja para recordar, e que a escola volte ao seu ritmo diário.

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LUSA/ANDRÉ KOSTERS

A nova telescola, a #EstudoEmCasa, revela-se mais um feito heróico, em tempo recorde, dos portugueses, concretamente do Ministério da Educação e dos professores! Com a preocupação de chegar o mais possível a todos, de não deixar o ano lectivo por terminar, de não defraudar alunos e pais, chega a nova e actual edição da telescola. E, sinal ou não, passa na RTP Memória, pois todos queremos que passe depressa, que seja para recordar, e que a escola volte ao seu ritmo diário, presencial, com o bom barulho dos alunos e professores, com os elogios e as reprimendas, as partidas e as actividades fora da escola.

Não há desafio que os portugueses não aceitem e tormenta a que não dêem a volta! Assim, para complementar as aulas dos professores, cá temos outros professores mais ou menos à vontade com as câmaras, a apresentar conteúdos dinâmicos e apelativos. As aulas são de meia hora e muitos são os recursos disponíveis.

Há uma coisa que não se pode mesmo dizer: é que os professores têm estado parados, em casa, sem fazer nada, de férias. Para aqueles pais, felizmente uma minoria, que perguntam aos professores o que têm feito, que estão em casa e por isso podem passar todo o dia no computador com os alunos, está aqui a prova, que muito há a preparar para que as aulas, mesmo online, possam ser uma realidade. Quantos filmes, vídeos, fotografias, fichas não se vêem, até se encontrar aquele que mais se adequa àquela turma, àquele grupo? Quantas horas diárias com os colegas a preparar aulas, a partilhar o que funciona e o que não funciona?

Também esta renovada telescola #EstudoEmCasa nos revela a actualização dos recursos educativos, onde tudo se reproduz no computador, mesmo em estúdio, onde se vai ao dicionário online, onde se projectam fotografias, onde os resumos se fazem sem quadro de giz. Por aqui se pode ver que, mesmo não sendo intenção proporcionar interacção entre os alunos, com trabalhos de grupo ou de projecto, tudo é extremamente digital. É esta a era em que vivem os nossos alunos e na qual os professores já estão ou fazem um esforço muito grande por se incluírem.

Temos ouvido ultimamente que esta situação das aulas pelo computador, com recurso a diversas plataformas, veio mostrar as desigualdades do país, não só das famílias, mas também dos professores, até porque os professores também têm família.

Como sairemos depois deste tempo forçado de aulas à distância? Mais tecnológicos? Aqueles que achavam que, mais cedo ou mais tarde, os professores iam ser substituídos por robots, têm agora algumas respostas. Mesmo aqueles professores 100% tecnológicos, será que vêem agora a pobreza de tanta tecnologia, quando não é orientada presencialmente pelo professor? Sairemos mais equilibrados entre tecnologia e presença física? Sairemos, com certeza, com mais respeito uns pelos outros e, finalmente, a perceber que nem todos podemos e sabemos ser professores, porque simplesmente não é uma coisa que aconteça naturalmente com qualquer um.

E muitos pais percebem e reconhecem isso. Outros ainda não tiveram tempo para parar e reflectir. O que é visível é que o teletrabalho nos colocou a todos disponíveis, quase 24h por dia. Ainda não nos conseguimos habituar a horários rotineiros que separem o tempo do trabalho do tempo da família e do tempo pessoal. Atender uma mãe ao telefone às 23h, porque só àquela hora terminou o seu trabalho e precisa mesmo de conversar com a professora, é um exemplo claro desta miscelânea de quotidiano que temos tido.

Nunca foi tão necessário implementar políticas de saúde e bem-estar para o regime do teletrabalho. Ajudava a todos, prestadores de serviço, clientes e entidades titulares. Professores, pais e escola enquanto instituição. E quem lucrava eram mesmo os filhos, os alunos, as crianças.

Mais uma vez se mostra a plasticidade dos professores, em fazerem literalmente das tripas coração, para se adaptarem a mais esta reforma educativa. Sim, porque esta é uma reforma, muito pouco pensada e testada, porque não houve tempo para isso.

Mesmo com o bom recurso da #EstudoEmCasa, é necessário entrar em contacto com os alunos e complementar o que aqui é transmitido. É dar-lhes um bocadinho de pessoalidade, de contacto personalizado, ainda que, para a maioria, esse contacto seja em grupo. Este esforço de reavivar e actualizar a telescola é a evidência de que não é preciso inventar nada, mas antes fazer acontecer na actualidade aquilo que já foi, um dia, uma prática, em épocas que não eram de crise. E alguns dos hábitos que agora estamos a criar, como o recurso indiscriminado às plataformas digitais e, quem sabe, mesmo a #EstudoEm Casa ficarão, mesmo quando voltarmos com alegria e muita satisfação às nossas escolas, a ensinar com a mesma paixão de sempre!

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