Crise da covid-19 faz subir número de desempregados para 353 mil

Governo salienta que a subida é amortecida pelo recurso ao mecanismo do layoff, que já abrange um universo de empresas com mais de 930 mil trabalhadores.

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O desemprego poderá duplicar este ano, antevê o Fundo Monetário Internacional Rita Franca

O travão na economia associado à situação sanitária do novo coronavírus está, sem surpresa, a inverter a trajectória de melhoria do mercado de trabalho que se registava em Portugal antes da covid-19. Com a crise do último mês e meio, o total do desemprego registado pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) subiu para 353 mil, segundo os dados actualizados à data desta terça-feira.

A estimativa foi revelada ao Parlamento pela ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, durante uma audição que está a decorrer por videoconferência na manhã desta quarta-feira, comparando com um total de 315 mil desempregados registados no final de Fevereiro e com 321 mil no final de Março.

Com milhares de empresas fechadas temporariamente ou em laboração parcial por causa das medidas de confinamento social decididas para conter a propagação do contágio do novo coronavírus, muitos empresários decidiram recorrer à figura do layoff simplificado, suspendendo os contratos dos funcionários ou reduzindo o horário de trabalho enquanto durar a crise da covid-19. São mais de 930 mil os trabalhadores abrangidos por esta medida e, segundo o Governo, esta medida de apoio explica que o número de indivíduos desempregados não tenha aumentado mais.

A ministra adiantou que já se nota uma subida tanto no número de cidadãos inscritos no IEFP como no número de pedidos de subsídio de desemprego mas, disse, os mecanismos de apoio excepcionais, como o layoff, “têm permitido criar aqui uma almofada que tem contribuído para que o número destes pedidos não tenha disparado tanto”. Por isso, Mendes Godinho fala desta medida como um “amortecedor”. “O mecanismo do layoff simplificado está a conseguir absorver uma grande parte da manutenção dos postos de trabalho”, salientou.

A subida do desemprego, se continuar tal como o Fundo Monetário Internacional antecipa que sucederá, contraria a trajectória de descida consecutiva que se registava desde 2013. E com a quebra abrupta que se prevê para a economia, o FMI prevê que a taxa de desemprego possa mais do que duplicar este ano, passando de 6,5% em 2019 para 13,9%. A taxa mensal mais recente é a de Fevereiro, anterior ao agravamento da situação epidemiológica, e para esse período o Instituto Nacional de Estatística estima uma taxa (ainda provisória) de 6,5%.

Há milhares de lojas e empresas encerradas, mas uma fatia muito significativa das empresas portuguesas continua a funcionar — um inquérito do INE e do Banco de Portugal realizado na semana passada mostra que 82% das empresas que responderam se mantinham em produção ou em funcionamento, mesmo que parcialmente, que 16% se encontravam temporariamente encerradas e que só 2% revelaram ter encerrado definitivamente. Mas mais de um terço das que se encontram em operação diz estar a registar uma redução superior a 50% no volume de negócios.

Falando das empresas que enfrentam dificuldades de facturação e que se encontram sem receita, Ana Mendes Godinho salientou as medidas extraordinárias que o Governo desenhou a pensar numa “partilha de esforço colectivo”, como é o caso do adiamento de obrigações fiscais e à Segurança Social, para lhes permitir procurar gerir a tesouraria e pagar os salários aos trabalhadores (ou parte da retribuição, nos casos em que a Segurança Social assume uma parte dos custos, como no caso do layoff ou dos apoios aos pais que têm de ficar em casa com os filhos por causa do encerramento das escolas).

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