“Choque inimaginável” na economia faz subir défice em 6000 milhões

Mário Centeno projecta queda do PIB no segundo trimestre próxima de 20%, mas diz que em termos anuais não se deverá chegar aos dois dígitos. Já o défice público deverá voltar a ficar acima dos 3% do PIB.

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FRANCISCO ROMAO PEREIRA

A economia portuguesa está “quase parada” e a “sofrer um choque inimaginável”, afirmou nesta segunda-feira à noite o ministro das Finanças, antecipando perdas no PIB anual de 6,5% por cada 30 dias úteis de contenção na actividade semelhantes à actual e um impacto orçamental situado entre 6 mil e 7 mil milhões de euros.

Em entrevista à TVI, Mário Centeno preferiu não avançar com novas previsões para a economia e para as contas públicas, mas avançou com números parciais que deixam claro que, dentro do Governo, já não existem dúvidas de que a queda na economia este ano vai bater todos os máximos de que há registo, com as finanças públicas a sofrerem por causa disso.

Centeno disse, por um lado, que, no segundo trimestre deste ano, a quebra irá ser “quatro a cinco vezes maior” do que a maior queda trimestral registada na anterior crise, em 2012, quando o PIB caiu 4,3% no segundo trimestre. O que isto significa é que, no actual trimestre, poderemos estar perante uma variação homóloga do PIB da ordem dos 20%.

Para o total do ano, as contas de Centeno são menos assustadoras, mas ainda assim, continuando a bater recordes por margem confortável. O ministro das Finanças diz que, por cada 30 dias úteis (ou cerca um mês e meio, contando com todos os dias) de paragem da actividade como a que se verifica actualmente, se regista uma quebra do PIB anual de 6,5%.

A paragem já se verifica desde meados de Março, o que significa, usando os números do ministro, que, se a presente situação de contenção se prolongar para lá do início de Maio, a descida anual do PIB se começa a aproximar da marca dos 10%. Ainda assim, numa das poucas notas de optimismo que decidiu arriscar, o ministro disse acreditar que a redução anual do PIB em 2020 “não chegará aos dois dígitos”.

Outra gota de optimismo foi dada quando lhe perguntaram quando é que a economia regressará aos níveis de 2019. “Provavelmente, ao fim de dois anos”, projectou Mário Centeno.

Com a economia “parada” e a precisar do apoio do Estado, as contas públicas vão inevitavelmente ressentir-se. E os números que Mário Centeno decidiu avançar revelam que, depois de um excedente em 2019, Portugal poderá regressar já este ano a um défice acima de 3%.

O ministro explicou que as contas públicas vão ser afectadas não só pelo aumento da despesa e diminuição da receita associadas às medidas tomadas pelo Governo, mas principalmente pelo efeito da queda da economia no Orçamento.

São os chamados “estabilizadores automáticos” – que incluem a perda de receita fiscal e o aumento das despesas sociais associadas à crise económica – e que, somados com o custo das medidas tomadas, deverão conduzir, disse, a um impacto situado entre 6 mil e 7 mil milhões de euros. Isto significa uma deterioração do saldo orçamental entre 3% e 3,5% do PIB. Tendo em conta que, no OE para 2020, a projecção inicial era de um excedente de 0,2%, o valor final para o défice poderá ficar próximo e talvez acima de 3%.

Ainda assim, Mário Centeno não quis mostrar grande preocupação relativamente ao que será preciso fazer para voltar, no futuro, as contas públicas para o equilíbrio. “O paciente está em melhor estado do que na crise anterior”, disse, defendendo que “estamos perante uma crise de natureza diferente e temporária e o que temos de garantir é que há dinheiro para acudir à fase aguda da crise”.

Na semana passada, como presidente do Eurogrupo, Mário Centeno protagonizou a resposta europeia à crise económica. Nesta segunda-feira respondeu a quem diz ouvir que a resposta do Eurogrupo é insuficiente, dizendo que “foi uma vitória da Europa”, mas assumindo que o pacote de medidas de meio bilião de euros “não é o fim da linha”. “Vamos ter de continuar a tratar de diversas questões”, afirmou.

E, revelando que a Holanda “foi o último país a juntar-se” à decisão, disse que não decidir nada nunca foi uma opção. “Nunca admiti que a reunião fosse interrompida, precisamente porque estamos numa situação de emergência. Os ministros das Finanças não se podiam dar ao luxo de parar”, afirmou.

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