A impossibilidade do ensino a distância no Ensino Artístico

Se não se podem “mudar as regras do jogo a meio”, não se pode ignorar o facto de estes serem cursos iminentemente práticos.

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Nuno Ferreira Santos

Já são do conhecimento geral as “soluções” criadas pelo Governo para que o 3.º Período se inicie a 14 de abril e que a todos os alunos seja atribuída uma nota no final do ano.

No entanto, quando questionado sobre os alunos do ensino profissional o sr. primeiro-ministro respondeu: “Agradeço a questão que me coloca (…) e estendo também ao ensino artístico (…) Obviamente, o seu processo de avaliação tem de ser adaptado às presentes circunstâncias, designadamente as apresentações da PAP’s (Provas de Aptidão Profissional) que terão de ser feitas, (…) ou, a partir do local de residência, ou do posto do local de trabalho, ou a partir da escola, estando o professor distanciado, de acordo com a circunstância específica de cada uma das escolas e de cada uma das PAP’s em concreto”, e sobre estes cursos, profissionais e artísticos, nada mais foi dito nas declarações ao país que duraram quase 60 minutos.

Ora, atendendo às especificidades dos Cursos Artísticos — e só sobre estes me pronunciarei pois é a realidade que conheço —, pode-se precocemente concluir, nestas declarações, que caberá às escolas/diretores/professores encontrar as soluções para as suas especificidades, sabendo que nenhuma delas será ideal para uma boa consolidação dos conteúdos e um processo ensino/aprendizagem eficiente.

Como todas as escolas, nas últimas semanas, os diretores viram-se obrigados a invadir os encarregados de educação com questionários sobre o seu ambiente familiar, o número de gadgets por elemento da família, a velocidade da Internet, mas, no caso do ensino artístico, foi necessário compreender outras situações, nomeadamente, se as condições de segurança estão reunidas. Assim, as perguntas são mais específicas detalhadamente se possuem equipamento de gravação de imagem e/ou som, se tem o instrumento (no caso da Música) ou outros materiais específicos, como uma barra (no caso do curso de Dança), sem têm possibilidades de imprimir documentos como uma partitura, a altura dos tetos ou da área passível de ser desarrumada para trabalhos práticos.

Pois, se não se podem “mudar as regras do jogo a meio”, não se pode ignorar o facto de estes serem cursos iminentemente práticos!

As mais variadas respostas levantam problemas incontornáveis ao nível da consolidação de conteúdos ou aquisição de novos quando, simplesmente, os alunos não têm espaço para os executar.

Existem ainda disciplinas cuja prática não é compatível com qualquer pavimento ou ainda as disciplinas/módulos que implicam a relação com os pares.

Nas disciplinas de conjunto é possível pedir um trabalho individualizado aos alunos, mas o propósito destas é imediatamente comprometido pois, mesmo em situação de aulas síncronas não é possível garantir, com nenhuma ferramenta de videoconferência, e a melhor velocidade de internet, a verdadeira sincronização dos instrumentos pelo chamado delay próprio desta forma de comunicação.

Reforço, estes cursos são práticos, por isso, a solução não pode passar por substituir a prática por trabalhos teóricos de pesquisa ou simulação.

Espera-se assim que os professores de Ensino Artístico sejam mais criativos do que qualquer outro para criar as soluções que não foram apresentadas por mais ninguém.

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