António Costa promete que, entre os alunos, a desigualdade no acesso ao mundo digital vai acabar já a seguir

“Aconteça o que acontecer”, no próximo ano lectivo vai estar “assegurada a universalidade do acesso às plataformas digitais para todos os alunos do ensino básico e secundário”. A garantia foi dada pelo primeiro-ministro esta semana. Representante de directores está optimista quanto à sua concretização, mas alerta que, para além das casas dos alunos, este acesso tem também de ser garantido nas escolas.

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António Costa prometeu acabar com as desigualdades de acesso ao mundo digital LUSA/MÁRIO CRUZ

Ligar a Internet nos computadores que ainda existem nas salas de aula pode demorar trinta minutos ou mais. E tanto professores como alunos sabem à partida que estará depois sempre a ir abaixo.  Esta realidade é recordada pelo presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, a propósito do compromisso assumido pelo primeiro-ministro de, no próximo ano lectivo, aconteça o que acontecer, ter “assegurada a universalidade do acesso às plataformas digitais para todos os alunos do ensino básico e secundário”.

“Não é só nas casas dos alunos que este plano é necessário, mas também nas escolas que não podem ser esquecidas: os equipamentos de que dispomos estão obsoletos (a maior parte tem mais de 10 anos) e precisamos de uma rede Wi-Fi que exista realmente, em vez de uma que esteja sempre a cair”, avisa Filinto Lima. Feito o alerta, este director mostra-se optimista quanto à possibilidade de as coisas mudarem mesmo desta vez, o que não aconteceu na época do programa Magalhães.

A nova revolução digital foi prometida por António Costa nesta quinta-feira quando anunciou as medidas decididas pelo Governo para o 3.º período, que basicamente continuará a ser feito em casa. E reafirmada neste sábado num entrevista à agência Lusa, onde garantiu que aquilo que se visa agora vai muito além do que foi feito nos governos de José Sócrates com o “seu” portátil Magalhães. O que não impediu já vários órgãos de comunicação social de baptizarem o novo programa como “Magalhães 2.0”.

“É muito mais do que ter um computador ou um tablet. É ter isso e possuir acesso garantido à rede em condições de igualdade em todo o território nacional e em todos os contextos familiares, assim como as ferramentas pedagógicas adequadas”, disse. Trata-se de inverter uma situação que tem, por exemplo, esta expressão: só no ensino básico existirão 50.000 alunos que não têm acesso à Internet em casa.

António Costa não falou sobre o investimento que este plano representará. Mas mostrou-se confiante na capacidade de o levar por diante. Referindo-se à experiência de ensino à distância que, devido à actual pandemia, precedeu as férias da Páscoa, considerou que “a necessidade aguçou o engenho”. “Em duas semanas avançou-se mais na literacia digital do que seguramente se teria avançado em muitos anos de uma acção programada.”

Agora trata-se de aproveitar este impulso  para pôr cobro também à “outra face da moeda que esta crise demonstrou": “As desigualdades são muito mais persistentes do que aquilo que muitas vezes se pensa e, quando elas se diluem na mesma sala de aula, elas acentuam-se quando cada um vai para as suas casas (…), aquilo que temos de superar é mesmo essa desigualdade”.

O que nunca aconteceu com o chamado programa e-escolinha lançado em 2008 para promover a distribuição de 500 mil portáteis aos alunos do 1.º ciclo. Praticamente cada estudante deste nível de escolaridade ficou com um computador Magalhães, que podia levar para casa. Só que na altura, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, só 46% dos agregados familiares dispunham de ligação à Internet. No ano passado esta percentagem tinha subido para 81%, mesmo assim muito longe dos 90% de média na União Europeia.

“Nunca correu bem”, comenta Filinto Lima a propósito do Magalhães, lembrando que estes portáteis praticamente nunca foram utilizados em sala de aula. O que se comprova também por estudo realizado em 2014 pela Universidade Portucalense, dando conta que 89,1% dos professores e 86% dos estudantes admitiam que nunca ou raramente recorriam ao computador nas salas de aula.

Mas no mesmo estudo reconhece-se que por via de terem estes portáteis, os alunos “foram descobrindo novas competências” apesar de o terem feito “de forma autónoma e intuitiva”. Este programa, que terá custado ao Estado 273 milhões de euros, passou à história com a entrada em funções do Governo de Passos Coelho em 2011.

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