Educação: era possível fazer melhor?

O Governo foi capaz de anunciar uma saída minimamente equilibrada e justa para o problema que pode ter solução, e reconheceu a falta de alternativas para o que é difícil ou até impossível de resolver.

O Governo tinha vários problemas para resolver na educação e nenhum oferecia uma solução fácil. Ontem, o primeiro-ministro deu conta das medidas que aprovou e o que se pode dizer é que foi capaz de apresentar soluções sensatas para alguns dos problemas, mas deixou em aberto outros tantos. Se na questão dos alunos do 11º e 12º ano que vão ter de fazer exames nacionais podemos considerar que a solução é equilibrada e responde à gravidade da situação, para os alunos do ensino básico e do 10º ano ofereceu apenas o mal menor. Por outras palavras, foi capaz de anunciar uma saída minimamente equilibrada e justa para o problema que pode ter solução, e reconheceu a falta de alternativas para o que é difícil ou até impossível de resolver.

Por partes: com o país obrigado ao isolamento social, seria impensável admitir que a escola pudesse funcionar de forma normal. Ninguém perceberia nem aceitaria que os seus filhos fossem às aulas sem garantias de segurança. Nenhum professor admitiria voltar à rotina. O que havia a fazer é admitir que, se as melhores previsões da pandemia se confirmarem, uma pequena parte dos alunos possa regressar a aulas presenciais. Restava definir que alunos. E aí o Governo esteve bem: os que estão num momento crucial dos seus percursos lectivos. Os que vão ter de fazer exames nacionais para acederem ao ensino superior. Se a propagação da covid-19 abrandar, os professores que estão em grupos de risco ficam em casa, a reduzida população escolar que vai às aulas tem mais condições para o distanciamento social e é sujeita a regras de protecção acrescidas. Torna-se assim possível gerir o risco sem abdicar desse instrumento que garante a igualdade de condições de acesso ao superior: os exames iguais para todos.

No editorial desta quarta-feira, tínhamos referido que privar os alunos dos exames seria favorecer as escolas privadas que o próprio ministério da Educação suspeita de usarem a inflação das notas como factor de atracção de clientes. O Governo foi capaz de evitar esse risco. Mas admite que está fora do seu alcance a garantia de equidade para todos. As aulas a distância penalizam os alunos de famílias mais desfavorecidas e nem o recurso à telescola será capaz de mitigar esse problema. As autarquias ou a responsabilidade social de cidadãos e empresas podem ajudar com mais meios. Mas dificilmente haverá internet ou computadores para todos. Resta uma esperança. Que, depois da pandemia, os mais frágeis sejam alvo de particulares atenções e possam recuperar o tempo perdido a que a distância das escolas, dos colegas e dos professores os forçará.

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