Feira de Famalicão atrai centenas à procura das “coisinhas” que a terra dá

A generalidade dos municípios decidiu suspender as feiras, mas em Famalicão, no distrito de Braga, a decisão passou por “reinventar” o certame, mantendo-o a funcionar mas apenas em “modo alimentação”.

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Os tempos são de isolamento social mas nesta quarta-feira foram às centenas os que não dispensaram uma ida à feira semanal de Famalicão, para comprar aquelas “coisinhas” que a terra dá e que não se encontram em mais lado nenhum.

Grelos, batatas, ervilhas, milho e outros produtos alimentares tiveram, desta vez, a companhia próxima de desinfectantes, luvas e máscaras, que nesta altura todo o cuidado é pouco e com o vírus não se brinca.

Por causa da pandemia da covid-19, a generalidade dos municípios decidiu suspender as feiras, mas em Famalicão, no distrito de Braga, a decisão passou por “reinventar” o certame, mantendo-o a funcionar mas apenas em “modo alimentação”. Dos cerca de 800 feirantes que ali normalmente marcavam presença, agora são apenas 80, o que permite manter as devidas distâncias de segurança para tentar evitar o contágio.

Na sua banca de fruta, Carla Meneses não tem mãos a medir para atender a clientela. À entrada, além de um letreiro que alerta para as normas a adoptar, há também álcool, desinfectante e luvas à disposição dos clientes. “Faço o melhor que sei. Todos temos de ter cuidado e respeito uns pelos outros”, atira Carla, que aplaude a decisão da Câmara de Famalicão de manter em funcionamento o setor alimentar da feira.

Para esta vendedora, faria todo o sentido que outros municípios seguissem o exemplo de Famalicão. “Tendo as condições que esta tem, sim, acho que sim, que deveria haver mais feiras a funcionar”, refere. Das quatro feiras que fazia antes da pandemia, a de Famalicão é, actualmente, a única.

É também na feira de Famalicão que Maria Irene, de Barcelos, encontra o local para escoar os produtos que cultiva, como ervilhas, favas, feijão, grelos e outras “coisinhas” que cultiva. “Se não houvesse feira, perdíamos estas coisinhas”, afirmou, lembrando que muitos produtos da terra, como as batatinhas novas semeadas em Dezembro, “não têm grande espera”.

Maria Irene sabe que com o novo coronavírus “todo o cuidado é pouco” e assegura que, por isso, tem “todo o cuidado”, cumprindo à risca as orientações que vai “bebendo” através da televisão. Hoje, até levou máscara para a feira mas, como confessa, teve de a tirar, porque lhe “embaciava os óculos”.

Cuidados com o vírus tem também António Dias, de 66 anos, de Barcelos, que a meio da manhã já só tinha milho para vender, porque o resto já tinha ido. “Em casa, é verdade que não uso máscara, mas lavo sempre as mãos com sabão e às vezes até desinfectamos com bagaço”, afirma.

O isolamento social imposto pelo vírus não demove muitos compradores de irem à feira, como é o caso de Juliana Oliveira, que diz que ali encontra produtos mais frescos e “mais em conta” do que nos supermercados.

Para Juliana, as idas à feira de Famalicão foram mesmo as únicas saídas de casa nos últimos 15 dias. “Tento sempre manter distância, mas hoje tem muita gente”, confessa, reconhecendo que, no fundo, as medidas de segurança são as mesmas na feira ou nos supermercados.

O presidente da Câmara de Famalicão, Paulo Cunha, explicou que a decisão de manter a feira “alimentar” em funcionamento visa, essencialmente, manter viva uma cadeia produtiva que começa no agricultor e acaba no consumidor.

“Se não houver escoamento, deixa de haver produção”, refere, sublinhando que a actual crise pandémica constitui um alerta para a necessidade de Portugal reforçar a sua autonomia e independência produtiva. Lembrou que muitos produtos que se vendem nas grandes superfícies são importados e massificados, enquanto na feira se encontra produção local, agrícola e biológica. Além disso, destacou que a diversificação da oferta contribui para diminuir a concentração populacional à porta dos super e hipermercados. “Acaba por ser bom para todos”, sintetiza o autarca.

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