Em que se baseiam os testes à covid-19?

Apesar dos esforços feitos por várias empresas a nível mundial para a produção e distribuição de testes, será ainda necessário um esforço maior para aumentar a sua produção numa maior escala.

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LUSA/MIGUEL PEREIRA DA SILVA

Existem vários testes capazes de despistar a doença covid-19. Em resposta ao estado de emergência que estamos agora a viver, cada país estipulou um conjunto de directrizes que define que testes é que devem ser realizados para diagnosticar a doença, de que modo é que estes devem ser feitos e que laboratórios estão aptos para os realizar. Neste sentido, uma das questões mais pertinentes do momento incide sobre que testes estão, efectivamente, a ser feitos em Portugal.

Segundo a Orientação n.º 015/2020 de 23/03/2020 emitida pela Direcção Geral de Saúde (DGS) acerca do diagnóstico laboratorial da covid-19, este “será realizado, preferencialmente, em laboratório hospitalar da Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico do SARS-CoV-2, na rede complementar de laboratórios privados ou no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA)”. Em Portugal, os métodos de diagnóstico usados que foram divulgados nessa orientação emitida pela DGS são os seguintes:

  • Teste de detecção de ácidos nucleicos do SARS-CoV-2

Este teste tem por base uma reacção de polimerase em cadeia (PCR, do inglês, Polymerase Chain Reaction) quantitativa em tempo real (qRT-PCR). Estes testes são os recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e têm de ser feitos nos laboratórios referidos acima, o que implica o transporte das amostras recolhidas dos pacientes até ao laboratório. Os testes de qRT-PCR demoram cerca de quatro a seis horas e consistem numa reacção em que a enzima transcriptase reversa sintetiza uma cadeia de ADN complementar a partir do ARN do vírus. O ADN sintetizado é posteriormente usado numa reacção de PCR para detecção e quantificação do vírus.

Apesar da alta sensibilidade atribuída aos testes de qRT-PCR, estes podem ser inconsistentes, principalmente nos primeiros estádios da infecção, devido aos reagentes e sondas usados nos kits de detecção, fraca qualidade da amostra recolhida, sensibilidade e especificidade do ensaio de detecção devido aos reagentes e falhas no procedimento experimental. Além disso, o processamento e a análise de várias amostras ao mesmo tempo pode tornar o diagnóstico bastante moroso.

  • Testes de detecção de proteínas do SARS-CoV-2 por imunocromatografia:

São também conhecidos como testes rápidos de base serológica. Estes testes consistem numa imunocromatografia para a detecção qualitativa de anticorpos IgM e IgG para o SARS-CoV-2 em amostras de sangue ou soro. Estes testes têm a vantagem de poderem ser feitos no local onde as amostras dos pacientes são recolhidas e de demorarem apenas 20 a 60 minutos. Segundo a Orientação nº 015/2020 de 23/03/2020, devem ser recolhidas duas amostras de soro de fase aguda e de convalescença (2-4 semanas após a fase aguda) para a realização de testes rápidos e estes devem ser apenas usados como suporte para a investigação futura de casos de infecção pelo SARS-CoV-2 em complemento aos testes de qRT-PCR.

O problema associado a alguns destes testes, nomeadamente aos fabricados pela empresa chinesa Shenzhen Bioeasy Biotechnology Co., Ltd., segundo o Instituto de Saúde Carlos III em Espanha é a “sensibilidade de detecção que não corresponde ao estabelecido na ficha técnica”, gerando muitos falsos negativos. Além disso, Fernando Almeida, presidente do Instituto Ricardo Jorge, já alertou que “há testes que só detectam anticorpos entre sete a dez dias após a infecção”. Isto significa que a pessoa pode já estar infectada com o vírus, mas como ainda não está a produzir anticorpos, o resultado do teste será negativo. Abaixo está um pequeno vídeo explicativo que mostra como é realizado este teste de diagnóstico.

Apesar dos esforços feitos por várias empresas a nível mundial para a produção e distribuição de testes, será ainda necessário um esforço maior para aumentar a sua produção numa maior escala, de modo a permitir que os testes sejam realizados no local onde as amostras são recolhidas, ou seja, para haver uma descentralização. Além disso, tanto os testes por qtPCR como os imunoensaios apresentam desvantagens. Apesar dos testes de PCR serem altamente precisos e poderem ser automatizados de modo a reduzir o tempo do teste, são bastantes complexos e resultado demora a ser revelado ao paciente. Quanto aos imunoensaios, apesar de serem fáceis de usar e de ser possível obter os resultados num menor espaço de tempo, estes são menos precisos e os resultados não são definitivos.

Fontes:
- Orientação nº 015/2020 de 23/03/2020 emitida pela DGS
- V. M. Corman et al., “Detection of 2019 novel coronavirus (2019-nCoV) by real-time RT-PCR,” Euro Surveill., vol. 25, no. 3, 2020.
- Sheridan C., Fast, portable tests come online to curb coronavirus pandemic" [published online ahead of print, 2020 Mar 23]. Nat Biotechnol, 2020

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