Covid-19: Teletrabalho com crianças em férias e em casa? É possível

O segredo para “manter o equilíbrio emocional da família” passa por criar uma rotina, garante a psicóloga de crianças e adolescentes Bárbara Ramos Dias.

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A especialista em psicologia da educação, Dulce Gonçalves, explica que é importante “que os pais tentem ser para os filhos modelos de bem trabalhar” Eddie Kopp/Unsplash

Está a trabalhar em casa por causa da pandemia de covid-19 e, a cada cinco minutos, alguém chama ‘mãe’ ou ‘pai’? Equilibrar o teletrabalho com a vida familiar é um desafio, sobretudo numa altura em que os mais novos entraram nas férias da Páscoa. Ao PÚBLICO, os especialistas garantem que deve imperar a sensatez para manter o equilíbrio emocional da família.

Por estes dias, cerca de 40% dos portugueses está a trabalhar a partir de casa e a tentar equilibrar a vida profissional com a familiar, no mesmo espaço. Separar os momentos de trabalho da rotina da família é fundamental, começa por explicar Inês Casaca, vice-directora de Human Consulting, Outplacement e RPO da Randstad Portugal.

Na teoria, pode parecer simples estruturar a agenda diária do teletrabalho, mas com crianças em casa, a tarefa pode não ser tão linear. O segredo para “manter o equilíbrio emocional da família” passa por criar uma rotina, garante Bárbara Ramos Dias, psicóloga de crianças e adolescentes. “O mais importante é ter regras, quanto mais regras, mais se sentem seguros [os filhos]”, acrescenta.

Embora, a especialista em psicologia da educação e professora universitária Dulce Gonçalves considere que tentar conciliar o trabalho com o apoio aos filhos nas tarefas escolares acaba por “prejudicar ambas as tarefas” e “não é conciliável”, defende que é importante “que os pais tentem ser para os filhos modelos de bem trabalhar”

Como conseguir um equilíbrio?

É importante reconhecer que conseguir um equilíbrio perfeito será impossível, mas é preciso manter “um pensamento positivo permanente”, defende Bárbara Ramos Dias. “Temos de lhes passar confiança, carinho, atenção, novas rotinas e regras. Lembrem-se, eles precisam de regras e limites para se sentirem seguros”, recomenda a psicóloga.

Durante o horário de trabalho, se possível, os filhos devem ser incluídos. Para os mais novos, que não têm tarefas escolares para fazer por estes dias, Dulce Gonçalves sugere que os pais criem “uma espécie de escritório”: enquanto o pai trabalha, o filho brinca aos escritórios e pensa que está a ajudar.

O importante é que enquanto os pais trabalham as crianças estejam ocupadas. Bárbara Ramos Dias sugere que as crianças que já sabem ler se ocupem com um livro durante o dia. No final, partilham as histórias que leram, exemplifica.

Para definir as horas de trabalho e as de lazer, Bárbara Ramos Dias aconselha que se faça um cronograma em família. As refeições, explica, podem ser preparadas em conjunto, para entreter os mais pequenos. Arrumar as fotografias em álbuns, organizar as gavetas, cuidar as plantas, fazer desenhos, preparar um teatro ou fazer costura criativas são outras ideias sugeridas pela psicóloga.

E quanto às crianças menos autónomas?

“As crianças têm características, atitudes e comportamentos diferentes que exigem apoios diferentes”, define Dulce Gonçalves. Para a psicóloga de educação, o isolamento poderá ser uma oportunidade para “alguns destes pais se aperceberem pela primeira vez das dificuldades das crianças”.

Para ajudar os filhos com as tarefas escolares em casa, a especialistas aconselha: “Aprenda a observar a sua zona de conforto e o que [a criança] já faz com autonomia e prazer”. Faça com o seu filho actividades que ele já sabe e vá criando sucessivamente outras mais difíceis, “sem entrar em pânico”.

“Em casa é preciso improvisar”, reconhece Dulce Gonçalves. Por exemplo para ensinar as vogais e consoantes, faça bolachas com as letras; corte uma rolha em várias rodelas ou improvise com tampas de garrafas um alfabeto, letras que a criança possa juntar e formar palavras.

“Aproveite o recolhimento para saborear, reinventar, viver e brincar com filhos”, aconselha Bárbara Ramos Dias. A psicóloga sugere ainda que, em família, “tentem tirar uma mensagem positiva de tudo o que está a acontecer” e anotem que estão a aprender ou a reaprender. “Todos nós nos estamos a reinventar”, conclui.

Texto editado por Bárbara Wong

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