A história do Senhor P., o italiano com 101 anos que sobreviveu ao novo coronavírus (e à gripe espanhola)

Cidadão italiano junta-se à lista de idosos que conseguiram recuperar de uma infecção pela convid-19. Em poucos dias, tornou-se num símbolo de esperança para todos os profissionais de saúde do país que regista mais mortes relacionadas com o novo coronavírus do mundo.

Foto
Unidade de Cuidados Intensivos de hospital italiano Reuters/FLAVIO LO SCALZO

De Itália chegam-nos, todos os dias, notícias trágicas que dão conta de centenas de novos casos confirmados e mortes associadas ao vírus que está a assustar o mundo. O último balanço da protecção civil italiana relata mais de 5 mil casos positivos só este domingo e 776 vítimas mortais, ultrapassando um total de 10 mil mortes, o número mais elevado do mundo. Existem ainda quase 98 mil casos confirmados no país.

Mas nem tudo são más notícias. Há relatos (muitos, felizmente) de milhares de pacientes recuperados por todo o país. Um destes casos aconteceu em Rimini, uma cidade na costa adriática, em Emilia-Romagna, no Norte de Itália, a região do país mais afectada pela epidemia do SARS-Cov-19. Esta semana, um homem recebeu alta hospitalar e foi autorizado a ir para casa: afinal, ia parar agora à coluna dos “casos recuperados”.

Esta seria uma história como tantas outras não fossem alguns detalhes: o homem que teve alta hospitalar tem 101 anos — algo que faz dele uma das pessoas mais velhas a recuperar de uma infecção de um vírus que afecta sobretudo idosos — e esta é a segunda epidemia que enfrenta e sobrevive para contar a história. O Senhor P., como foi identificado pelos meios de comunicação locais de Rimini, nasceu em 1919, no meio do pico da gripe espanhola (também conhecida como gripe pneumónica), a pandemia do vírus influenza que infectou cerca de um terço da população mundial.

A meio de Março, o homem foi admitido no hospital da cidade depois de apresentar sintomas e de testar positivo para a covid-19. Esta semana, segundo contou a vice-Presidente da Câmara Municipal de Rimini, Gloria Lisi, à página de notícias locais Remini Today e News Remini, o paciente de 101 anos foi dado como “recuperado” e pode voltar para casa dos seus familiares.

Em poucos dias, tornou-se num símbolo de esperança para médicos, enfermeiros e todos os profissionais de saúde não só da sua cidade, que já regista cerca de 1180 casos confirmados de covid-19, mas também para toda a Itália. "O Senhor P. ensinou-nos que mesmo aos 101 anos o futuro não está escrito. A sua recuperação verdadeiramente extraordinária dá-nos esperança para o futuro”, disse Lisi aos meios de comunicação locais.

A recuperação deste paciente é ainda mais notável se for considerada a alta taxa de letalidade que este vírus está a ter na população italiana com mais de 70 anos — mais de 80% das mortes no país foram registadas em pessoas desta faixa etária. Como já se sabia, os idosos são um dos grupos particularmente susceptíveis ao vírus e a Itália tem a população mais envelhecida da Europa, com 23% com 65 anos ou mais. Além disso, apesar de já ter sido ultrapassada em número de casos pelos Estados Unidos e de estar muito próxima à China neste indicador, a Itália tem um número muito superior de mortes. Enquanto o país europeu mais afectado pela pandemia chegou este sábado às 10.023 mortes, a China regista cerca de 3300 e os EUA 2191 vítimas mortais.

Este cidadão italiano de 101 anos faz agora parte do grupo de pessoas acima dos 90 anos que já sobreviveu a uma infecção com o novo coronavírus. Desta lista consta também Zhang Guangfen, uma mulher de 103 anos residente em Wuhan, na China, o epicentro do surto, que recebeu alta hospitalar a meio de Março. Também esta quinta-feira, a Coreia do Sul viu a sua paciente mais velha a deixar o hospital quando uma mulher de 97 anos de Cheongdo (cidade próxima de Daegu, o pior surto do vírus no país) foi dada como recuperada.

Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto de covid-19 espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia. O continente europeu, com mais de 363 mil infectados e mais de 22 mil mortos, e os Estados Unidos, com 124 mil infecções, são as regiões do globo onde estão a surgir actualmente o maior número de casos.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários