Se não podemos sair à noite, a noite vem até nós

Espaços de diversão nocturna, colectivos e DJs têm feito livestream de actuações. À impossibilidade de saírem de casa à noite, a noite vai até casa das pessoas.

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Yen Sung e Dexter (Lux) e DarkSunn (do colectivo/editora Monster Jinx) montagem público

É sábado à noite. A pista do Lux está vazia, mas a mesa e os pratos não, pelo que o som continua a sair das colunas. As pessoas continuam a beber e a dançar, só que em casa. É isto que acontece desde há duas semanas, no Facebook da discoteca lisboeta, das 23h às 03h, com DJs a passarem música na pista de Santa Apolónia através de livestreaming. As pessoas vão comentando, a fingirem que estão mesmo lá. Frases como “anda aqui à varanda” ou “vai buscar-me uma bebida” são constantes, e o Lux encoraja a que se enviem fotografias, vídeos da dança ou dos copos que se andam a beber em casa. Este sábado, actuam NVNO e Rui Vargas, e a discoteca explica ao PÚBLICO que, além do Facebook, em princípio também o YouTube e o Instagram servirão para transmitir os sets.

O Lux, que tem uma agenda semanal preenchida com rubricas em várias redes sociais, de sets antigos gravados na discoteca e retirados dos arquivos a playlists novas feitas por DJs que lá actuam de propósito, não é o único sítio a oferecer diversão nocturna (ou diurna) numa altura em que os espaços estão fechados e muitos daqueles que os frequentariam e neles actuariam estão em casa. Ainda em Lisboa, a discoteca Lust in Rio, por exemplo, também transmite, de quarta a sábado, das 22h às 23h, DJs ao vivo. Por fim, a pizzaria vegana/bar de cocktails com pista de dança Vizza fará um livestream no Instagram este sábado, das 20h às 23h, horário durante o qual também vende pizzas para casa.

De casa para casa

Mas nem só de espaços físicos vive esta forma de fazer noite. O colectivo/editora Monster Jinx começou uma rubrica chamada Crib Season. Todos os dias, no Instagram, fazem um live às 18h30 a partir “de casa de cada artista (que tenha equipamento técnico suficiente para isso ser possível”, explica ao PÚBLICO o DJ e produtor DarkSunn, ou Bruno Dias. Pouco antes, às 16h, lançam uma nova música, que no fim de cada semana é compilada e pode ser ouvida gratuitamente no Bandcamp.

Tal iniciativa veio por necessidade, confessa DarkSunn: “Fomos forçados a cancelar três festas colectivas, só em Março.” Em casa, “muito inquietos e com receio do que o futuro trazia”, decidiram “trazer a festa para o online”. Até agora, diz, “tem corrido muito bem”. Os lives no Instagram “têm servido não só para ouvir música, mas para rirmos e comunicarmos todos”. Afinal, “podes sempre ouvir música, ler um livro, ver um filme, mas ali estás a ver algo que está a acontecer naquele instante, com alguém que está de ‘quarentena’ como tu”. Realça ainda que a função de chat é “o melhor que se tem tirado dos lives” e que, “além de ouvirmos músicas de que gostamos (e alguma que nem sabíamos que gostávamos), conseguimos rir-nos um bocadinho”. À semelhança da Monster Jinx, a crew portuense XXIII também tem feito, todos os dias às 17h, lives no Instagram, com DJ sets de convidados.

O carácter irrepetível deste tipo de eventos estará patente no festival Quantum Leap, da Rádio Quântica, projecto online, que transmitirá em directo concertos, live acts e DJ sets de música de dança (e não só). Começou esta sexta e acaba no domingo, com nomes como Cigarra, Kétia, Marum, Photonz, Caroline Lethô, Violet, King Kami, Patrícia ou Chungadaddy. Começa às 17h30 e prolonga-se por aí. A plataforma utilizada é o Twitch, mais associado ao mundo do gaming, e a organização sugere um donativo a uma campanha da plataforma de crowdfunding Gofundme para ajudar o Serviço Nacional de Saúde.

O festival não surgiu, declara Inês Coutinho, ou Violet, produtora e DJ e uma das responsáveis da Quântica, directamente por causa do cancelamento de datas devido ao coronavírus. “O princípio foi mais oferecer cultura à comunidade”, com expectativas de “partilha e espírito comunitário nesta altura tão difícil para todos”, apesar de admitir que vários dos envolvidos viram muitas datas serem canceladas. “Temos mais disponibilidade ao fim-de-semana dadas as circunstâncias”, conta. "Muita gente se voluntariou para esta ideia, daí serem três dias muito variados e uma paleta grande de música”, comenta.

Também com o objectivo de angariar fundos, o Festival Iminente vai começar uma versão livestream na próxima semana, no sábado, dia 4 de Abril, com live acts de nomes da música de dança como DJ Marfox ou Shaka Lion. Desta feita são pedidos, também no Gofundme, donativos para o Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central e o Centro Hospitalar e Universitário de São João.

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antónio Zambujo no festival #euficoemcasa nuno ferreira santos

Menos centralizados são vários DJ sets espontâneos que têm despontado pelas redes sociais. Nomes como Venga Venga ou 2jack4u têm feito livestream de actuações. Este sábado, por exemplo, Moullinex faz um set às 23h, à semelhança da actuação que teve na semana passada no Festival Eu Fico em Casa. Mas vá à página do seu DJ favorito e é possível que o encontre por lá a actuar.

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