A Maria Modista está a coser protecções para os médicos — e procura ajuda

Escola de costura começou a fabricar cógulas – que oferecem uma protecção na zona do pescoço não assegurada pelas batas – a partir de tecido impermeável cedido por profissionais de saúde. Costureiras procuram tecido não tecido (TNT) para acelerar produção – e pessoas em casa podem ajudar.

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LUSA/MIGUEL PEREIRA DA SILVA

Muitas das alunas inscritas nas aulas de costura da Maria Modista trabalham em centros de saúde ou hospitais. Na semana passada, a enfermeira Fernanda, da Fundação Champalimaud, enviou às suas professoras um tutorial de como coser uma cógula – um gorro de malha que cobre a cabeça até à linha dos ombros, ou, conforme a descreve Filipa Almeida, responsável pela rede de escolas, aquela “espécie de carapuça protectora”. 

O pensamento era simples: as batas dos médicos deixam a área do pescoço desprotegida; os mais robustos, mas menos cómodos fatos de protecção individual, “parecidos com os que usam os astronautas”, não se encontram com grande facilidade no mercado; porque não, então, produzir uma série de cógulas, para os profissionais de saúde conseguirem reforçar os seus escudos no meio do combate ao novo coronavírus? As costureiras da Maria Modista aceitaram o desafio – e, decorridos apenas dois dias de produção, já se multiplicam os pedidos de ajuda.

“Depois de acabarmos os moldes, eles foram testados em vários hospitais. Aí, comecei a receber as mensagens das enfermeiras”, explica ao P3 Filipa Almeida. São os próprios profissionais de saúde que, depois de tomarem conhecimento da iniciativa, batem à porta. Consigo têm trazido “sacos e sacos” do material impermeável que compõe as batas e toucas médicas tradicionais – e que, neste caso, “é o ideal” para as cógulas.

Quando as peças estão prontas, voltam a dirigir-se às costureiras. Não querem que estas saiam do conforto e da segurança de casa por sua causa. E, se assim tiver de ser, não se importam de esperar. “Eles não têm sido nada exigentes. Pelo contrário, estão incrivelmente agradecidos por alguém conseguir ajudar desta forma”, sublinha o rosto da Maria Modista. “Nós é que estamos a tentar ser o mais rápidas possível. Eles precisam de mais do que aquilo que estamos a conseguir fazer.”

Isto, em parte, verifica-se porque as toucas ou batas prontas a reutilizar que até agora já foram disponibilizadas não têm sido suficientes para a procura. Numa tentativa de encontrar alternativas, a Maria Modista começou por receber tecido não tecido (TNT) – têxtil produzido a partir de polipropileno sem a necessidade de fazer tecelagem – da Nomalism, estúdio de design de interiores sediado em Lisboa. Esta tem sido uma opção de recurso importante perante a ausência daquela que é a mais indicada, avançam as costureiras – que, depois de intensificarem o apelo nas redes sociais, receberam também materiais da marca de calçado Seaside e de seguidores que em casa possuem peças reaproveitáveis.

E não é só através destes contributos que as pessoas conseguem apoiar a iniciativa. Por estes dias, a primeira informação com que se confronta quem acede à página oficial da Maria Modista é um convite a descarregar os moldes para, em casa, fabricar estes equipamentos de protecção – não só cógulas, como também máscaras, toucas ou botas. “Disponibilizamos todos os passos de como se produzem os materiais com TNT para que as pessoas que sabem costurar consigam dar um apoio”, revela Filipa Almeida. “Toda a gente está a querer ajudar, o que é maravilhoso, porque, sozinhas, éramos poucas para atender à quantidade de médicos e enfermeiros que têm falado connosco.” Por mais que tentem. “Ontem, uma das professoras ‘largou a agulha’ às 4h. Até meio de Abril, vai haver muita procura. Queremos colaborar ao máximo.”

“Na esperança de que consigam arranjar tecido cirúrgico”, a Maria Modista tem tentado fazer chegar as suas intenções a clínicas veterinárias e dentistas. “Não é o mais indicado”, reconhece a líder da equipa, mas, resume, “é melhor do que nada”: “É isso que os próprios profissionais de saúde nos dizem, tal é a urgência dos pedidos deles”. A escola de costura – que, forçosamente, com o país em fase de mitigação, teve de suspender as aulas presenciais nos seus vários espaços – não está a lucrar nada com este trabalho. Fá-lo pelo “prazer de trazer este acrescento importante”. “Não podemos dar aulas, mas não íamos ficar paradas.”

Para já, a Fundação Champalimaud vai concentrando o maior número de encomendas. Seguem-se os hospitais Curry Cabral e Egas Moniz. A “produção a sério” só começou na quarta-feira, depois de aprovados os moldes finais. Agora, espera-se que o processo ganhe algum tipo de autonomização. Concluído o primeiro dia desta experiência, foram entregues 150 cógulas. Um número que motivou satisfação ao mesmo tempo que, para já, se revela insuficiente. “Queremos ir mais longe, mas precisamos de tecido”, sugerem as costureiras. Quem tiver à mão formas de ajudar pode tratar de algumas das “encomendas”.

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