Nova-iorquinos escapam para o sol da Florida e podem levar o novo coronavírus

Casa Branca pede aos habitantes de Nova Iorque que saíram do estado a ficarem em quarentena durante 14 dias. Governador da Florida ordena isolamento aos passageiros de voos de Nova Iorque, Nova Jérsia e Connecticut.

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Nova Iorque regista mais de 26 mil casos e 271 mortes por covid-19 Reuters/EDUARDO MUNOZ

Qualquer pessoa que tenha saído nos últimos tempos da área metropolitana de Nova Iorque, um gigantesco pedaço de território urbano com mais de 20 milhões de habitantes, deve pôr-se em quarentena, esteja onde estiver, durante 14 dias. A mais recente directiva da Casa Branca, anunciada na noite de terça-feira, sublinha a gravidade da situação na cidade mais populosa dos Estados Unidos: uma em cada mil pessoas pode estar infectada com o novo coronavírus, um número oito a dez vezes superior à média de outras regiões do país.

O mais recente aviso da Casa Branca tem como objectivo travar o aparecimento de novos surtos em outras regiões, como na soalheira Florida, para onde muitos habitantes de Nova Iorque escaparam nos últimos dias após a entrada em vigor de medidas restritivas no seu estado.

Na noite de terça-feira, já depois de a coordenadora da Casa Branca para o combate ao novo coronavírus, Deborah Birx, ter pedido aos habitantes de Nova Iorque que não se aproximem de outros cidadãos, o governador da Florida, Ron DeSantis, convocou uma conferência de imprensa extraordinária.

“Assim que o governador de Nova Iorque decretou a ordem de isolamento, os aviões começaram a levantar voo carregados com pessoas a fugirem de lá”, disse o governador da Florida, onde o número de casos já ultrapassou os 1400. E onde as praias mais famosas só foram encerradas ao público nos últimos dias.

Por isso, anunciou Ron DeSantis, a partir de agora todos os passageiros de voos originários dos estados de Nova Iorque, Nova Jérsia e Connecticut vão ser postos em isolamento durante 14 dias assim que chegarem à Florida.

“Desejamos o melhor para os nossos amigos de Nova Iorque, eles têm um combate duro pela frente”, disse o governador. “Mas também temos de proteger a nossa gente aqui no estado da Florida.”

Estatísticas “perturbadoras"

Na conferência de imprensa diária na Casa Branca, na noite de terça-feira, tanto Deborah Birx como o seu colega Anthony Fauci, o director do instituto de alergias e doenças infecto-contagiosas dos Estados Unidos, reforçaram os avisos sobre a gravidade da situação em Nova Iorque.

“As estatísticas são perturbadoras”, disse Fauci. “Cerca de um em cada mil destes indivíduos está infectado.”

“Isso é oito a dez vezes mais do que em outras áreas. O que significa que se eles forem para outros sítios, têm de ter muito cuidado e estar sempre alerta”, disse o imunologista. Se não o fizerem, Nova Iorque pode tornar-se “num novo ponto de propagação do vírus”.

A velocidade a que o novo coronavírus se espalhou na região de Nova Iorque, onde há mais de 26 mil casos e 271 mortes até esta quarta-feira, é um exemplo de como é difícil travar uma doença contagiosa num mundo de viagens constantes entre continentes e de migrações diárias à volta de gigantescos centros urbanos.

A 80 quilómetros a nordeste de Manhattan, já no estado vizinho do Connecticut, a pequena localidade de Westport, com 26 mil habitantes e uma das 20 mais ricas dos Estados Unidos, tornou-se num centro de propagação do novo coronavírus no dia 5 de Março.

Por causa de uma festa de aniversário com cinco dezenas de convidados, o número de pessoas com a doença covid-19 aumentou 40 vezes na cidade e surgiram muitos outros casos no Connecticut e em Nova Iorque, e até um caso na África do Sul – um dos convidados viajou de Joanesburgo para Westport e adoeceu assim que regressou a casa.

Não é possível afirmar que aquela festa em Westport, agora conhecida nos media norte-americanos como “Festa Zero”, é a grande responsável pela situação dramática que se vive hoje em Nova Iorque. Mas, segundo um professor de Epidemiologia na Universidade de Harvard, William Hanage, “pode ser o exemplo de um acontecimento de superspreading” – quando uma única fonte infecta um grande número de pessoas.

“Alguns dos casos iniciais no Norte de Itália foram associados a pequenas localidades, e as pessoas desvalorizaram a situação. Mas, de repente, começaram a surgir casos na Semana da Moda de Milão e em todo o mundo”, disse o especialista ao jornal New York Times. “Quando pensamos que um vírus está num determinado sítio, ele está sempre um passo à frente.”

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