EUA têm acordo para “o maior pacote de ajuda na história”

Democratas e republicanos entendem-se para aprovação de um plano de apoio à economia de dois biliões de dólares, que inclui pagamentos directos até 3000 dólares às famílias e um reforço de 100 mil milhões de dólares para os hospitais

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Mitch McConnel, à saída das negociações líder republicano do Senado, Mitch McConnel LUSA/ERIK S. LESSER

Os democratas e os republicanos no Congresso, em conjunto com a Casa Branca, chegaram na madrugada desta quarta-feira a um acordo para o lançamento de um plano de apoio e estímulo económico para a economia norte-americana com uma dimensão sem precedentes na história recente dos Estados Unidos.

São dois biliões de dólares (cerca de 1,85 biliões de euros), um valor próximo de 10% do PIB dos EUA que serão injectados na economia, como forma de reforçar o sistema de saúde, garantir o financiamento das empresas em dificuldades e assegurar que as famílias têm dinheiro para evitar uma quebra abrupta no consumo.

O acordo – cujo conteúdo final ainda não foi divulgado – foi atingido após longas horas de negociações entre as lideranças republicana e democrata do congresso e a Casa Branca, representada pelo secretário do Tesouro, Steve Mnuchin. A votação do documento deverá decorrer esta quarta-feira ao fim do dia.

O programa de estímulos à economia tem como peças centrais o apoio que é dado a empresas e famílias. De acordo com as versões preliminares do documento, para as empresas em dificuldades seria criado um fundo de 500 mil milhões de dólares através do qual poderiam obter empréstimos que lhes permitissem ultrapassar os actuais problemas de tesouraria. Um objectivo específico é o de estabilizar aquilo que são consideradas “indústrias chave para o país”, como por exemplo o sector da aviação, que está a ser particularmente atingido pela crise.

Para as famílias, a solução encontrada passa pela entrega pura e simples de cheques com dinheiro à população, também num montante total de 500 mil milhões de dólares. Milhões de famílias receberão pagamentos directos de até 1200 dólares, acrescido de 500 dólares por cada filho, com o valor a depender do rendimento do agregado familiar. A expectativa é que, desta forma, se possa limitar os danos provocados no rendimento dos norte-americanos pela paragem registada na actividade económica e travar as quedas previstas no nível de consumo dos norte-americanos.

Outros elementos importantes do programa, de acordo com as informações que vão sendo divulgadas pelos órgãos de comunicação social norte-americanos, são a concessão de empréstimos às micro e pequenas empresas no valor de 350 mil milhões de dólares e o reforço de 250 mil milhões de dólares das verbas disponíveis para o apoio aos desempregados.

O acordo reforça ainda as verbas do governo federal para a saúde em 100 mil milhões de dólares, para garantir que os hospitais conseguem responder à actual escalada do contagio do novo coronavírus nos EUA e prevê a transferência extraordinária de 150 mil milhões de dólares para os Estados e os municípios.

No anúncio de obtenção do acordo, o líder republicano do Senado, Mitch McConnel disse que o plano apontava para “um nível de investimento equivalente aos tempos de guerra”. Do lado dos democratas, o senador Chuck Schumer classificou o plano como “o maior pacote de ajuda na história dos Estados Unidos”, dizendo que para os hospitais este é um autêntico “Plano Marshall”.

Antes de o acordo ser obtido, sérias divergências entre as duas partes colocaram em risco o lançamento do programa. Em particular, o Partido Democrata não aceitava a total liberdade de decisão que era dada à Casa Branca para definir como seria distribuído o financiamento de 500 mil milhões de dólares às empresas. No final, as duas partes, em conjunto com a Casa Branca, chegaram a um entendimento relativamente aos mecanismos de supervisão que serão dados ao Congresso, para além de ter ficado estabelecido que empresas do grupo empresarial da família Trump ou de qualquer elemento do Congresso não podem beneficiar com o programa.

Este estímulo orçamental oferecido à economia junta-se ao apoio monetário extraordinário que tem estado a ser lançado pela Reserva Federal norte-americana, que já colocou as suas taxas de juro a zero e prometeu níveis ilimitados de compras de dívida para assegurar a existência de liquidez na economia.

Na zona euro, para além das medidas de estímulo do BCE, com um programa adicional de 870 mil milhões de euros de compra de dívida, o apoio orçamental tem vindo na sua quase totalidade de cada um dos Estados membros, num valor que, garante Mário Centeno como presidente do Eurogrupo, equivale a 2% do PIB da zona euro em medidas com impacto orçamental e 10% do PIB em linhas de crédito. Esta terça-feira ao fim do dia, o Eurogrupo anunciou a existência de um “amplo” acordo para que os Estados membros possam recorrer a linhas de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE)num valor equivalente a 2% do PIB.

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