Guardas prisionais temem contágio nas cadeias, por falta de normas de protecção

Sindicato diz que situação pode agravar-se, à semelhança do que tem acontecido com os lares de idosos

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Os guardas prisionais temem que a doença se espalhe nas prisões Paulo Pimenta

As visitas de familiares a reclusos terminaram há oito dias e os guardas prisionais temem que nos próximos dias possam aparecer casos de contágio pelo novo coronavírus entre funcionários e presos, alertando para a falta de material de protecção.

A afirmação é de Jorge Alves, presidente do Sindicato do Corpo da Guarda Prisional, que diz que o medo se está a apoderar dos guardas e critica a “falta de estratégia da direcção-geral e a divulgação de informação para as cadeias a conta-gotas”, nomeadamente, numa necessária alteração dos horários para reduzir a circulação de guardas.

“Nas cadeias, os guardas não têm meios de protecção individual contra o coronavírus e estão impedidos de usar equipamento próprio para não criar alarme social entre os reclusos, determinou o director-geral dos Serviços Prisionais”, contou à Lusa.

Até ao momento, os reclusos mantêm as suas rotinas normais, vão ao ginásio, jogam à bola nos pátios das cadeias ou vão à biblioteca, apenas não têm aulas nem visitas.

A ministra da Justiça tinha referido no parlamento, no dia 10 de Março, que estavam suspensas ou reduzidas as visitas em várias prisões, tendo-se compensado essas restrições com o aumento de telefonemas dos reclusos.

O presidente do sindicato afirma que houve cadeias cujas visitas terminaram na última segunda-feira e que, há cerca de uma semana e meia, em dois estabelecimentos prisionais, um na zona Centro e outro na zona Sul, “estiveram 70 pessoas numa sala sem distância de segurança”.

Outra das críticas do sindicato prende-se com a criação de dois espaços – para reclusos e guardas – isolados e com circulação de ar para casos suspeitos. O problema, segundo o dirigente sindical, é que “muitas cadeias não têm condições para os criar”.

“No EP [Estabelecimento Prisional de] Lisboa, o local identificado para conter os reclusos, caso seja necessário, foi o refeitório da enfermaria e numa cadeia no Norte o espaço destinado aos guardas é um quarto sem janela”, contou.

Outra das discordâncias do sindicato sobre as orientações para conter o contágio do coronavírus prende-se com a entrada de roupa nos estabelecimentos prisionais e que os guardas têm de revistar antes de ser entregue aos presos.

“As revistas em relação à roupa mantêm-se iguais. As pessoas fazem fila à porta dos estabelecimentos, que não têm qualquer indicação à entrada sobre a distância de segurança, a roupa é entregue aos guardas em sacos de plástico e estes têm de a revistar”, referiu.

O dirigente sindical teme que comece a acontecer nas cadeias, onde há um ajuntamento de pessoas em espaços confinados, o que está a acontecer nos lares de idosos. “Estamos muito receosos porque não se pode fechar uma cadeia. As medidas profilácticas de contenção tinham de ser mais exigentes e estrategicamente pensadas”, frisou Jorge Alves, adiantando que está a ser medida diariamente a temperatura aos reclusos, mas que os guardas entram e saem do espaço “sem qualquer controlo sanitário”.

As últimas estatísticas da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais apontam para 11.863 pessoas detidas nas cadeias, a 15 de Março.

A Lusa pediu esclarecimentos ao Ministério da Justiça sobre a situação nas cadeias devido à pandemia, mas ainda não obteve resposta.

Portugal regista 23 mortes pela covid-19, mais nove do que no domingo, e 2060 pessoas infectadas.

Estão confirmadas nove mortes na região Norte, cinco na região Centro, oito na região de Lisboa e Vale do Tejo e uma no Algarve, revela o boletim epidemiológico divulgado esta segunda-feira, com dados referentes até às 24h de domingo.

Das 2060 pessoas infectadas pelo novo coronavírus, 1859 estão a recuperar em casa, 201 estão internadas, 47 das quais em unidades de cuidados intensivos.

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