Voltaremos à Telescola?

Na quinta-feira passada, ninguém se apercebeu que a escola, tal como a conhecemos, estava prestes a mudar, a evoluir para novos campos impensáveis até então.

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Manuel Roberto

Ainda sou do tempo da Telescola. Muitos de nós, a maioria, lembrar-se-ão de como funcionava. Nunca a frequentei, mas recordo-me de colegas de turma que a frequentaram e seguiram os seus estudos como qualquer outro. Eram outros tempos.

No início, era emitida durante a tarde, primeiro na RTP1 e mais tarde na RTP2. Esta modalidade de ensino arrancou a 6 de janeiro de 1965 para permitir o cumprimento da escolaridade obrigatória até ao 6.º ano. Mais tarde, 1987, com a vulgarização dos leitores de vídeo, passou da televisão para as cassetes de vídeo que eram um dos principais instrumentos do professor que, presencialmente, acompanhava os alunos. A Telescola esteve em funcionamento até à entrada do milénio.

A tecnologia evoluiu muito dessa altura até agora. Se perguntarmos a qualquer aluno de hoje se sabe o que é uma cassete de vídeo, poucos saberão de que falamos. Mas todos eles sabem o que é um computador, um smartphone, um tablet, a Internet, um browser, um motor de pesquisa, um e-mail, uma rede social… Se não todos, a maioria e os que não sabem já ouviram alguém falar de tudo isso.

Na quinta-feira passada, ninguém se apercebeu que a escola, tal como a conhecemos, estava prestes a mudar, a evoluir para novos campos impensáveis até então. Na sexta-feira, os professores começaram a aperceber-se que, pelo menos, durante duas semanas a escola ia ser diferente. No sábado e no domingo, deram-se conta que tinham de apoiar os seus alunos o melhor que podiam. Tinha começado a corrida contra o tempo.

Uns de uma forma outros de outra corresponderam ao que lhes estava a ser pedido, não abandonar os seus alunos, mesmo que eles os quisessem abandonar.

Na segunda-feira, enviaram e-mails, prometidos na sexta-feira, com fichas e mais fichas de consolidação de aprendizagens, o suficiente para 15 dias. Outros houve que foram mais além, não desmarcaram testes, através de plataformas que já usavam enviaram trabalho para ocuparem os primeiros dias dos seus alunos em casa. Na terça-feira, dão-se conta que têm de se preparar para fazer algo mais, começa a corrida às plataformas de ensino. Esta foi de tal forma desenfreada que as próprias plataformas não aguentaram tantos utilizadores.

Neste momento, na infinita procura de evoluir, começa-se a procurar perceber como se poderá utilizar a videoconferência com plataformas como o Zoom ou ClassDojo. Os professores aperceberam-se que tão cedo não voltarão ao ambiente de sala de aula e tentam procurar a melhor solução para transpor esse obstáculo, pelos seus alunos.

A maioria, se não todos, não saberá para onde vai, mas sabe que não vai ficar quieta, à espera que alguém lhes diga para fazer isto ou aquilo, vai fazer o melhor que sabe com os meios disponíveis que tem ao seu alcance.

Voltemos à Telescola. Durante 30 minutos, na televisão, um professor dissertava sobre um assunto, dando exemplos nas disciplinas em que era necessário ou demonstrando como se realizava este ou aquele exercício, nos 30 minutos restantes de aula os alunos exercitavam o que tinham acabado de ouvir através de trabalho pré-preparado e com o acompanhamento do professor presente na sala de aula. Com a tecnologia que temos hoje podemos fazer bem melhor do que nessa altura, mas nada substituirá uma sala de aula com todos os seus intervenientes. O contacto de um olhar, por vezes ensina mais que qualquer palavra.

Um destes dias os professores voltarão às suas salas de aulas que são mais dos alunos que deles.

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