Por cada 100 casos de covid-19 em Itália, Portugal terá sete

Estudo da Escola Nacional de Saúde Pública teve como base modelos matemáticos, que analisou dados dos outros países e permite prever o que se poderá passar em Portugal.

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Roma, 12 de Março de 2020 ALESSANDRO DI MEO/

Um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) estima que, em média, por cada 100 casos de covid-19 em Itália, o país mais afectado na Europa, Portugal terá sete casos, apontando para um cenário grave em território nacional.

O estudo teve como base modelos matemáticos, que analisou dados dos outros países e permite prever o que se poderá passar em Portugal, disse à agência Lusa Carla Nunes, a investigadora e directora da ENSP da Universidade Nova de Lisboa.

“Esta previsão é muito fiável a um curto período de tempo, cerca de três a cinco dias. Passado esse tempo é muito difícil prever com exactidão”, afirmou a especialista em epidemiologia e estatística.

“Actualmente, a análise desses modelos diz-nos que todas as curvas, na fase em que nos encontramos e independentemente do país analisado, são exponenciais (ou similares), ou seja, têm uma evolução crescente acentuada. A curva portuguesa segue o mesmo trajecto, à sua escala, comparando-a com os períodos análogos dos outros países”, sublinhou.

“Analisando, por exemplo, o 17.º dia de todas as curvas, sabemos que, por cada 100 casos em Itália, esperamos sete em Portugal, por cada 100 no Reino Unido estimamos 130 e por cada 100 em Espanha esperamos 30 novos casos em Portugal”, precisou.

Carla Nunes esclareceu que estes países foram escolhidos por serem os que matematicamente e culturalmente mais se adaptam à explicação da curva portuguesa, em diferentes escalas.

Segundo a investigadora, Portugal está a seguir as curvas dos outros países em escalas diferentes. “Temos um comportamento que nos permite ver, usando as outras curvas, o que vai acontecer nos próximos dias, se, obviamente, nos mantivéssemos no mesmo caminho que eles estão a seguir”, referiu.

“Estamos no 17.º dia de curva, mas eles actualmente já estão no trigésimo, no quinquagésimo dia..., portanto, eu consigo prever quantos casos novos [o país vai ter, porque] estes modelos matemáticos têm uma capacidade de 95% ou mais, o que é brutal.”

“Isso é o que me assusta. Estamos no mesmo caminho em que eles estão”, disse a especialista. Portugal pode, porém, afastar-se destas “previsões assustadoras: “A evidência diz-nos que, baixando a taxa de contacto, baixamos a taxa de transmissão.”

“Comparativamente aos outros países, Portugal tomou medidas de promoção do isolamento social mais cedo e foram aparentemente bem adoptadas pela população portuguesa, segundo os órgãos da comunicação social”, observou a directora da ENSP.

Portugal introduziu uma nova medida na passada sexta-feira, a interrupção das actividades lectivas nas escolas, que efectivamente começou na segunda-feira, mas serão necessários 14 dias, o período máximo de transmissão do vírus, para perceber o impacto da medida. Dada a “história do vírus”, ainda não há tempo para se saber se “a medida foi eficaz ou não”.

Carla Nunes lembrou que esta medida já tinha sido tomada noutros países e não se conseguiu ainda observar o seu impacto. “Mesmo nos outros países como Itália e Espanha, que já estão com medidas bastante mais severas”, ainda não se verificou “um efectivo ou indiscutível abrandamento”, notou.

“A comparação de medidas e políticas entre países é sempre difícil (culturas, capacidade de resposta dos serviços de saúde, adesão da população às medidas, entre outras). Resta-nos, por isso, fazer a nossa parte: aguardar em casa e seguir as indicações de higienização”, disse, frisando que “este é um problema complexo e multidisciplinar”.

A investigadora avançou à Lusa que está a ser criado o barómetro covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública que já está a seguir esta situação de muito perto, abarcando diversas perspectivas: sociais, económicas, percepções, epidemiologia e acesso a serviços, entre outras.

Portugal regista dois mortos em 642 casos de infecção pelo novo coronavírus, de acordo com o boletim de quarta-feira da Direcção-Geral da Saúde referente aos efeitos da pandemia no país. A nível global, o coronavírus responsável pela pandemia da covid-19 infectou mais de 210 mil pessoas, das quais mais de 8750 morreram.

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