Coronavírus: Hospitais privados disponíveis para receber doentes do SNS

Esta terça-feira a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada reúne-se com a Direcção-Geral da Saúde. Unidades privadas estão a ceder ventiladores aos hospitais públicos.

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Cruz Vermelha Portuguesa montou tendas do hospital de campanha no Hospital de Santa Maria devido ao novo coronavírus Nuno Ferreira Santos

Os hospitais privados estão disponíveis para receber doentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS), de forma a aliviar os hospitais públicos que estão mais sobrecarregados, diz o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP). Esta terça-feira a associação reúne-se com a Direcção-Geral da Saúde (DGS).

A reunião, que será feita por videoconferência, servirá para agilizar a forma como o sistema de saúde poderá ter de se reorganizar. A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, já tinha afirmado numa conferência de imprensa que nenhuma entidade poderá enfrentar sozinha a epidemia e que será preciso funcionar em rede. Este sábado a ministra da Saúde, Marta Temido, explicou que estão a ser revistos os fluxos de doentes.

“A reunião é para falar sobre estas questões e perceber o que a DGS quer fazer em termos de reorganização do sistema. Na nossa perspectiva, entendemos que é preferível existirem hospitais que de alguma forma aliviem a carga dos hospitais como Santa Maria, São João ou Curry Cabral; para que casos que normalmente são seguidos por essas unidades possam ser encaminhados para os hospitais privados e faríamos esse trabalho”, disse ao PÚBLICO o presidente da APHP, Óscar Gaspar. Não sendo obrigatório que os casos a acompanhar sejam de covid-19.

“As urgências dos hospitais estão muito sobrecarregadas neste momento e havendo capacidade nas urgências dos hospitais privados, podemos substitui-los nesse aspecto”, exemplifica.

Não seria o doente a pagar de forma particular ou via seguro de saúde, mas através de um contrato com o Ministério da Saúde, que assumiria os custos pelos serviços prestados como já acontece actualmente com outras áreas. “O que defendemos é uma contratualização, que não precisa de ser muito complexa nesta fase”, disse o presidente da APHP.  O modelo de pagamento, sugere, poderia ser o já usado entre a Administração Central do Sistema de Saúde e os hospitais do SNS, que recorre ao sistema de GDH (que agrupa doentes em grupos clinicamente similares do ponto de vista do consumo de recursos).

Ainda sem soluções fechadas sobre o papel que cada sector pode desempenhar, Óscar Gaspar explica que “estamos na fase em que cada um deve perceber exactamente o que tem de fazer”. Mas uma coisa ficou clara na reunião do Conselho Nacional de Saúde Pública, que se realizou na sexta-feira e na qual participou: “O mais importante é que o sistema funcione como um todo, porque vão continuar a existir pessoas com AVC, traumatismos, a precisar de lugares de cuidados continuados.”

Independentemente do que venha a ser decidido, os “hospitais privados já estão a preparar-se para ter doentes de covid-19”. “Parece inevitável que, tendo em conta o número de pessoas que vai aos hospitais privados, haverá uma série de pessoas com resultado positivo e que será mais prático que se mantenham nos privados em vez de ir para outras unidades”, refere Óscar Gaspar. “Houve um pedido da DGS para cumprirmos a nova orientação e também os privados começarem a fazer testes aos casos suspeitos”, adiantou ainda.

Ventiladores cedidos ao serviço público

“A colaboração que tem existido tem funcionado bem”, afirma o presidente da APHP. “Quando somos contactados por entidades que dizem que estão disponíveis para fornecer algum tipo de material, damos esses contactos ao Infarmed [organismo que está a gerir a reserva estratégica], para ver se tem ou não interesse”, exemplifica.

Mas mais apoio tem sido dado. “A Luz Saúde está a preparar dez ventiladores para ceder ao Hospital de Santa Maria para serem montados amanhã [terça-feira]”, refere Óscar Gaspar.

Também o grupo hospitalar privado CUF vai oferecer 50 ventiladores ao SNS. Ao que o PÚBLICO apurou, são equipamentos novos e que devem chegar nos próximos dez dias. Também a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai ceder seis ventiladores ao Estado que estão actualmente no seu Hospital Ortopédio de Sant'Ana, na Parede.

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