Já estamos em estado de emergência

Quanto mais cedo radicalizarmos o combate, quando mais depressa formos capazes de interromper as cadeias de transmissão do vírus, menos consequências poderemos sofrer

Faz sentido declarar já o estado de emergência, depois de a maioria esmagadora da população portuguesa ter revelado sentido cívico recolhendo-se em casa, depois de haver várias medidas que proíbem ou controlam a concentração de pessoas, depois de os restaurantes, os bares ou os cinemas terem fechado? Faz todo o sentido. O primeiro-ministro tem razão ao notar que a batalha das nossas vidas vai durar meses e que é prudente avaliar o uso de todas as armas logo no princípio. Mas todos nós percebemos que quanto mais cedo radicalizarmos o combate, quando mais depressa formos capazes de interromper as cadeias de transmissão do vírus, menos consequências poderemos sofrer. E mesmo que o estado de emergência não altere significativamente o modo de vida que a maioria dos portugueses já adoptou, o simples facto de ter sido activado vai servir para convencer os mais recalcitrantes ou os que teimam em considerar que a epidemia não passa de um exagero.

O estado de emergência que o Presidente parece querer já, que o primeiro-ministro parece querer decidir após mais experiência e reflexão sobre a realidade e que a generalidade dos partidos da oposição aprova tem ainda uma outra enorme vantagem: desarma o alarmismo fatalista dos que sabem tudo, incluindo como agir num tempo absolutamente novo. Alguém dizer que o Governo, ou o Presidente, ou o Ministério da Saúde estão à margem da realidade e não actuam como deviam é um dos maiores perigos com que o combate à covid-19 se defronta.

Não é populismo, nem cedência aos impulsos primários dos cidadãos que se trata: é a urgência de garantir a cumplicidade das pessoas e de criar um sentimento de comunidade que precisamos mais do que nunca para derrotar a epidemia. Em momentos drásticos como o de hoje, é necessário recorrer a medidas drásticas. Essa atitude não bastará para travar as consequências da doença. Mas servirá ao menos para todos sentirem que o seu esforço, o seu desconforto e as suas ansiedades são reflectidas por quem nos governa.

PS – A partir desta terça-feira, as redacções de Lisboa e Porto do PÚBLICO passam a funcionar em teletrabalho. Também aqui entraremos num território desconhecido. Esta é a única forma de garantirmos nos próximos tempos a prestação do serviço público de informação credível que, no actual contexto, é mais importante do que nunca. Esta mudança não nos afastará dos lugares ou das pessoas que estão no epicentro desta crise sanitária. Não implicará restrições na circulação da sua edição impressa. Nem afectará o volume e a profundidade dos trabalhos que publicamos na edição digital. Como até agora, o país pode contar com o PÚBLICO.

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