Escolas Médicas apelam a Costa para que tome “medidas restritivas o mais precocemente possível”

Conselho de Escolas Médicas Portuguesas envia carta aberta ao primeiro-ministro contestando decisão do Conselho Nacional de Saúde Pública.

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Em Itália as escolas foram encerradas há três semanas Reuters/FLAVIO LO SCALZO

O Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), que reúne as faculdades de Medicina, enviou uma carta aberta ao primeiro-ministro onde pede para que sejam tomadas “medidas restritivas o mais precocemente possível” em relação à covid-19, baseando-se em estudos e evidências científicas. A organização põe em causa a “capacidade técnica” do Conselho Nacional de Saúde Pública (CNSP). “As medidas que tomarmos hoje não terão impacto no imediato, pelo que urge que se passe a actuar preventivamente ao invés de apenas o fazermos reactivamente”, escreve a organização.

O texto, assinado pelos oito directores das faculdades de Medicina, cita estudos que identificam medidas que, noutros países, ajudaram a controlar a propagação do coronavírus. Entre elas estão o encerramento de cidades afectadas e a implementação de restrições dos contactos sociais. “A China evitou uma incidência 67 vezes maior de covid-19, sendo que teria registado menos 66% dos casos se tivesse agido uma semana mais cedo. Também neste sentido, a Organização Mundial de Saúde (OMS) saudou publicamente a adopção de medidas restritivas na China, Itália e outros países”, refere o CEMP.

A organização aponta ainda a “tendência” que se tem verificado noutros países de encerramento de todas as escolas — como na Noruega. Dando ainda os exemplos da China, Macau e Coreia do Sul, onde foram “de forma efectiva [tomadas] práticas restritivas que tão bons resultados deram em contextos adversos”, ao contrário da decisão do CNSP, na noite de quarta-feira, que não vai ao encontro àquilo que o CEMP defende. Então, Jorge Torgal, membro do CNSP, em conferência de imprensa conjunta com a ministra da Saúde, Marta Temido, e a directora-geral de Saúde, Graça Freitas, declarou“Só se justifica o encerramento total e parcial dos estabelecimentos de ensino por determinação expressa das autoridades de saúde.”

Uma decisão incompreensível no entender de Fausto J. Pinto, director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, em declarações ao PÚBLICO. Sobretudo por ter sido tomada no mesmo dia em que a OMS declarou que se trata de uma pandemia. “Estou preocupado com a situação e com a ausência de tomada de medidas, quando ainda estamos numa fase de contenção”, alerta.

No entender do CEMP, o CNSP deveria ter feito alguma “recomendação restritiva em concreto, nomeadamente, no que respeita ao encerramento de espaços públicos e privados”. Também o bastonário da Ordem dos Médicos ficou “muito apreensivo e desiludido” com as recomendações do CNSP. Miguel Guimarães diz em entrevista ao PÚBLICO que é necessário adoptar medidas mais radicais e “com urgência”. Fausto J.Pinto defende: “O país tem de fechar.”

Na sua carta a António Costa, o CEMP põe em causa a competência dos membros do CNSP: “Compete-nos manifestar a nossa preocupação relativamente à capacidade técnica de o Conselho Nacional de Saúde Pública lidar com este problema. De facto, independentemente da formação de base e da experiência técnico-profissional dos seus elementos poder ser adequada, a falta de elementos públicos para fazer a sua identificação e consequente escrutínio coloca sérias preocupações. Tal deixa dúvidas na sua competência para lidar na prática com uma situação destas, sendo que esta eventual falta de competência poderá ainda explicar a sua manifesta incapacidade de decisão.” 

O CEMP revela ainda preocupação com os profissionais e serviços de saúde nacionais que não poderão “responder de forma minimamente adequada se não forem já tomadas fortes medidas de redução do contacto social”. O conselho mostra-se ainda disponível para dar o seu contributo junto do Governo. Ao PÚBLICO, Fausto J. Pinto lembra que as faculdades de Medicina foram das primeiras escolas a suspender as aulas presenciais, sem fechar as suas portas. “As universidades estão a tomar atitudes de grande responsabilidade, defendendo os seus alunos, docentes e funcionários”, conclui.

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