Em dias de coronavírus, o teatro chega às plateias através da Internet

Com os espectáculos suspensos devido à ameaça do novo coronavírus, algumas companhias de teatro decidiram levar os seus trabalhos até às plateias recorrendo a transmissões nas redes sociais.

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A suspensão das actividades acontece na altura em que o Teatro do Noroeste teria mais espectáculos em cena. Rui Carvalho

As medidas de contenção para responder à pandemia do novo coronavírus levaram ao cancelamento de muitos espectáculos, um pouco por todo o país. Para combater estes tempos mais difíceis, algumas companhias de teatro decidiram aproveitar o meio digital para galgar o fosso entre as salas de espectáculos fechadas e o público isolado.

Em Viana do Castelo, o Teatro do Noroeste decidiu fazer uma transmissão em directo da peça O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, a partir do Teatro Municipal Sá de Miranda. A companhia viu canceladas 32 representações que seriam vistas por mais de 7000 alunos depois de a Câmara de Viana do Castelo ter suspendido todos os eventos previstos nos equipamentos municipais.

Segundo Ricardo Simões, o director artístico da companhia, a ideia surgiu enquanto Tiago Fernandes, membro do elenco residente, conversava com a equipa de comunicação, especialmente desanimado: o espectáculo, suspenso esta segunda-feira, 9 de Março, foi a primeira experiência de Tiago como encenador.

Perante “o desalento dos actores”, decidiram aproveitar a gravação já agendada para divulgar o trabalho e “furar a onda de notícias menos positivas”, contou ao P3 o director artístico. Ricardo deixou também elogios a Tiago e à equipa de comunicação: “Nem com uma pandemia ficam quietos. Se rebentasse uma guerra mundial, arranjavam maneira de fazer teatro para as trincheiras.”

Uma outra motivação da equipa foram as mensagens enviadas por várias educadoras de infância, transmitindo “o desânimo das crianças” que ansiavam pela ida ao teatro antes da activação dos planos de contingência. O entusiasmo acabou por “contagiar toda a equipa artística” para aproveitar a oportunidade — e até a equipa de filmagem, que nunca teve um projecto com emissão ao vivo. A transmissão em directo foi esta quinta-feira, às 12h, e o vídeo da actuação vai estar disponível até às 20h de sexta-feira, 13.

Um outro projecto que decidiu abraçar o desafio da plateia digital foi o ECO – Reverberações no Vale do Minho, um trabalho conjunto da Comédias do Minho com o Teatro do Frio, do Porto. O espectáculo ia ser apresentado em dez aldeias dos cinco municípios cobertos pela acção das Comédias do Minho — Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira —, todos com planos de contingência que levaram à suspensão do projecto.

Inconformados com o desfecho, os parceiros decidiram aproveitar as notícias menos boas para “um acto de criação”: fazer uma “adaptação de teatro de sala” para uma peça em vídeo, explicou ao P3 João Coutinho, da equipa das Comédias do Minho. A ideia ainda está em fase de criação, mas já é certo que haverá uma “transmissão através de uma plataforma de vídeo”, ainda a definir.

“Os blocos de base do espectáculo deverão manter-se, mas a linguagem do teatro não se traduz directamente para a linguagem de filme”, explicou João, adiantando que as companhias têm trabalhado com a colaboração de um artista de vídeo. A estreia da adaptação está prevista para a próxima semana, em data “a confirmar em breve”.

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