Como governos e bancos centrais estão a enfrentar a crise económica

A forte probabilidade de a crise sanitária se transformar numa crise económica tem levado os governos e os bancos centrais a anunciarem medidas de estímulo. A dúvida é se serão suficientes.

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Reuters/YVES HERMAN

Descidas das taxas de juro, reforço das despesas com os sistemas de saúde, apoio às empresas em dificuldades e subsídios a quem deixa de poder trabalhar, estão entre as medidas anunciadas desde que se tornou evidente que o mundo pode estar perante uma nova crise económica.

União Europeia
A Comissão Europeia anunciou na terça-feira o lançamento de um novo fundo de investimento com uma dotação de 25 mil milhões de euros para acções urgentes no sector da saúde, apoio às pequenas e médias empresas, ao mercado laboral e “outros sectores vulneráveis da economia”. Este valor, no entanto, em pouco supera 0,1% do PIB da União Europeia, o que mostra a dificuldade da UE em desempenhar um papel relevante nas políticas orçamentais de apoio à economia em tempos de crise, deixando para cada um dos Estados individualmente, e para o BCE, o essencial dessa tarefa.

A Comissão defendeu ainda que a flexibilidade prevista nas regras orçamentais europeias e na legislação relativa às ajudas de Estado deixam a porta aberta a que os governos possam actuar em resposta à crise.

Do lado do Banco Central Europeu (BCE), que na última crise económica assumiu quase todos os estímulos dados à economia, aquilo que foi feito até agora foi apenas uma declaração da sua presidente a afirmar a disponibilidade da autoridade monetária para voltar a actuar. A expectativa é que na reunião agendada para esta quinta-feira algumas medidas possam já ser passadas à prática, incluindo uma descida das taxas de juro de depósito.

Alemanha
Para já, o governo alemão anunciou um aumento do investimento público até 2024 de 12,4 mil milhões de euros (cerca de 3 mil milhões ao ano) e a introdução de apoios especiais às empresas em dificuldades e aos trabalhadores que deixem de poder trabalhar tantas horas. Mas há sinais de que na maior economia da zona euro se possa, desta vez, ir mais longe: Angela Merkel afirmou esta quarta-feira que poderá abandonar a regra de défice zero, uma vez que se está “numa situação extraordinária” em que o combate ao vírus é a prioridade.

França
O governo francês tem estado entre os defensores mais vocais na defesa de um estímulo orçamental. Até agora, contudo, as medidas postas em prática são o apoio às empresas e trabalhadores através da concessão de subsídios ao emprego e de alívios fiscais.

Itália
Nos últimos dias, o governo foi reforçando sucessivamente o seu pacote de medidas de orçamentais de emergência, que inicialmente ascendiam a 7,5 mil milhões de euros, mas que agora pode chegar aos 25 mil milhões de euros, de acordo com o primeiro-ministro italiano. O défice público italiano pode voltar a superar os 3% do PIB.

Espanha
O governo espanhol apenas irá divulgar na próxima segunda-feira o seu plano de resposta à economia, anunciando-se para já que se destina a “proteger o bem-estar das famílias trabalhadoras, facilitando a redução do horário de trabalho e o apoio aos filhos”.

Portugal
O Governo anunciou um plano que inclui uma linha de crédito de apoio à tesouraria das empresas no valor de 200 milhões de euros, adiamento dos prazos de pagamento de impostos e a facilitação e simplificação do acesso das empresas ao regime de lay-off, caso estas registem quebras de pelo menos 40% no volume de negócios.

EUA
O presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu que iria fazer anúncios de medidas de grande dimensão, incluindo a possibilidade de cortes de impostos. No entanto, para já, esses anúncios não foram feitos e aquilo que há é somente uma autorização, aprovada pelo Congresso e assinada pelo presidente, para uma despesa adicional de 8,3 mil milhões de dólares (cerca de 7,4 mil milhões de euros) para combater o contágio.

Em antecipação, a Reserva Federal assumiu as despesas do combate a uma eventual crise económica, anunciando, logo na semana passada, um corte de meio ponto percentual na sua taxa de juro de referência.

Reino Unido
A nova proposta de orçamento do Estado, apresentada esta quarta-feira, inclui despesas adicionais relacionadas com o coronavírus (para o combate à doença e para apoio à economia) num montante total de 30 mil milhões de libras (cerca de 34 mil milhões de euros). No mesmo dia, o banco central baixou as taxas de juro em meio ponto percentual para 0,25%.

China
É o país mais afectado pelo vírus (e na fase mais adiantada do contágio), pelo que não surpreende que já tenha uma série de medidas em vigor. Para além dos 110 mil milhões de yuans (cerca de 12 mil milhões de euros) reservados para combater a expansão do vírus, as autoridades reforçaram o financiamento das regiões mais afectadas e lançaram apoios às empresas que tiveram de parar a produção, incluindo uma suavização da regulação ambiental. O banco central baixou as taxas de juro e incentivou os bancos a concederem empréstimos às empresas afectadas.

Japão
O banco central japonês, através do seu governador Haruhiko Kuroda, prometeu que irá tomar todas as medidas necessárias para garantir que existe liquidez na economia. O governo anunciou um pacote de medidas no valor de cerca de 3,5 mil milhões de euros, para o apoio às pequenas e médias empresas em dificuldades.

Coreia do Sul
O executivo anunciou um pacote de estímulo económico com um valor próximo dos oito mil milhões de euros, com o objectivo principal de canalizar mais dinheiro para o sistema de saúde.

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