Mónica Bettencourt-Dias. Investigação fundamental e o que nos tem mostrado sobre as causas do cancro

A convidada desta semana no podcast 45 Graus é Mónica Bettencourt-Dias, premiada investigadora em bioquímica e biologia celular. É actualmente directora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), onde também coordena um grupo de investigação. 

A conversa arranca a abordar a importância da investigação de base, ou fundamental, que é aquela a que o IGC se dedica: investigação que não tem por objectivo gerar descobertas com aplicações práticas directas, mas que é movida “apenas” pela curiosidade do investigador em torno de questões que possam trazer à tona princípios novos da Ciência. 

No IGC, Mónica Bettencourt-Dias coordena o grupo que se dedica a investigar a regulação do ciclo celular, um processo aparentemente básico, mas que é fundamental que corra bem, porque não só é o que permite ao nosso corpo crescer (e formar e fazer funcionar os nossos órgãos), como é precisamente aquilo que entra em descontrolo em muitas doenças.

O ciclo celular é o conjunto de fases por que uma célula passa durante o processo em que esta se duplica para dar origem a duas células novas. Este ciclo é regulado na célula por vários agentes (sobretudo proteínas) que controlam o timing das várias fases e asseguram que não há erros e perdas de informação nesse processo de copiar uma célula para formar duas novas.

Esses mecanismos são muito importantes, pois a divisão descontrolada das células pode, por exemplo, gerar células cancerosas. (Num dos episódios anteriores, uma conversa com Miguel Coelho, fala-se precisamente de um conjunto de genes que codificam algumas das principais proteínas envolvidas na regulação do ciclo celular.)

Para além da importância da investigação fundamental e da investigação interdisciplinar, fala-se dos desafios para um cientista em fazer divulgação de ciência de um modo que seja simples, mas não simplista, e ainda do papel que devem ter os cientistas na sociedade. 

Por fim, há ainda tempo para perceber um pouco melhor a investigação de Mónica Bettencourt-Dias, que se debruça sobre um determinado tipo de organelos — que são estruturas da célula e estão para esta mais ou menos como os órgãos estão para o nosso corpo. Alguns dos que a convidada mais tem investigado são os centríolos, que, por sua vez, podem formar (dependendo da fase e do tipo de célula) outros dois organelos: os cílios, que funcionam como antenas em vários tipos de células, e os centrossomas, que têm um papel crucial no dito processo de divisão e duplicação das células. 

Os centrossomas são suspeitos de estarem associados a algumas doenças complexas como o cancro, já que normalmente existem dois centrossomas em cada célula, mas células cancerosas têm muitas vezes mais. Uma das frentes de investigação da convidada tenta precisamente perceber porque é que isso acontece: será que foi esse aumento do número de centrossomas que causou o cancro; ou, pelo contrário, é o cancro que desregula a célula e leva à produção de centrossomas em excesso? E que novos tratamentos podem surgir destas conclusões? Ouça a conversa para descobrir mais.

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