EUA bombardeiam taliban poucos dias depois de acordo de paz

Washington justifica “disparo defensivo” com “ataques desnecessários” do grupo islamista em vários pontos do território afegão e exige respeito pelos compromissos acordados no sábado.

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Coluna de veículos das Forças de Segurança Nacional do Afeganistão na província de Helmand EPA/WATAN YAR

Quatro dias volvidos da assinatura de um acordo de paz promissor entre o Governo norte-americano e os taliban, em Doha, no Qatar, e poucas horas depois de Donald Trump ter falado ao telefone com o seu negociador-chefe, os Estados Unidos bombardearam posições do grupo islamista, a Sul da província de Helmand, no Sudoeste do Afeganistão.

O ataque aéreo foi levado a cabo nesta quarta-feira, em Nahr-e Saraj, e confirmado por um porta-voz das tropas norte-americanas que estão estacionadas no Afeganistão – e cuja retirada, faseada, foi objecto do acordo assinado no sábado. O responsável justifica a ruptura das tréguas com os ataques taliban contra soldados leais ao Governo afegão.

“Os EUA conduziram um ataque aéreo no dia 4 de Março contra os combatentes taliban em Nahr-e Saraj, Helmand, que estavam a atacar activamente um checkpoint das Forças de Segurança Nacional do Afeganistão. Foi um disparo defensivo para perturbar o ataque. Foi o nosso primeiro ataque contra os taliban em 11 dias”, escreveu o coronel Sonny Leggett, no Twitter.

Apesar do acordo, os taliban retomaram as suas acções terroristas contra o Exército afegão na segunda-feira. Citado pela Al-Jazeera, um porta-voz do ministério do Interior do executivo de Cabul revelou que só nas últimas 24 horas foram levados a cabo 30 ataques em 15 províncias, que mataram quatro civis, 11 soldados e 17 combatentes taliban.

Por isso mesmo, o coronel Leggett lançou um pedido e um aviso ao grupo islamista que controla partes do território do Afeganistão e que é responsável por milhares de mortes, muitas delas de civis, que ocorreram no país desde o início da guerra civil, em 2001.

“A liderança taliban prometeu à comunidade internacional que iria reduzir a violência e que não iria intensificar os ataques. Instamos os taliban a pararem os ataques desnecessários e a respeitarem os seus compromissos”, defendeu Leggett. “Tal como demonstrámos, iremos defender os nossos parceiros quando for necessário”.

Suhail Shaheen, representante dos taliban, também recorreu ao Twitter, mas para garantir que o grupo está a “implementar todos termos do acordo, um por um, para reduzir os combates”. 

E em declarações à Reuters, um dirigente taliban, próximo da liderança, disse que foi convocada uma reunião de emergência para se discutir a “enorme violação” norte-americana do acordo de Doha.

O ataque aéreo em Nahr-e Saraj surgiu poucas horas depois de o Presidente dos EUA ter tido “uma conversa muito boa” por telefone, nas palavras do próprio, com o negociador-chefe dos taliban, Mullah Abdul Ghani Baradar.

A conversa durou cerca de 35 minutos e, segundo Zabihullah Mujahid, outro porta-voz do grupo islamista, Trump disse a Baradar que o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, iria contactar brevemente o Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, para que “as barreiras às negociações” entre o Governo e os taliban “sejam removidas”.

O principal entrave às negociações directas entre o poder político e o grupo armado prende-se, neste momento, com os cerca de cinco mil combatentes presos pelas autoridades, que os taliban querem ver libertados, tendo conseguido incluir esta exigência no acordo com os norte-americanos.

O Presidente Ghani rejeita, no entanto, abrir mão dos detidos, lembrando que, apesar de aliados estratégicos, os Estados Unidos, “não têm autoridade para decidir” sobre trocas de prisioneiros. “São apenas um facilitador”, disse o chefe de Estado afegão no domingo.

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