António Costa não larga Montijo: “A localização do novo aeroporto está decidida desde 2015”

Presidente da Câmara da Moita, de maioria CDU, foi o primeiro autarca da Margem Sul a reunir-se nesta manhã com o primeiro-ministro sobre o aeroporto no Montijo.

Foto
Aeroporto só pode ser construído com parecer favorável de todas as autarquias Miguel Manso

Depois de mais de três horas de reuniões com os autarcas da Margem Sul e de Lisboa sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa, o primeiro-ministro deixou claro que a localização da nova infra-estrutura está fechada. “A localização da construção do novo aeroporto está decidida desde 2015. Há um tempo para tudo. Mal ou bem, o debate sobre a localização ficou concluído” nessa data, declarou António Costa, à saída da primeira ronda de reuniões com os autarcas durante a manhã desta quarta-feira. “No futuro alguém se interrogará como foi possível andar 60 anos a discutir a localização de um aeroporto”, notou.

A declaração de António Costa afasta o cenário em aberto apontado pelos autarcas comunistas, que ameaçam “vetar” a construção do novo aeroporto no Montijo. “Não está em causa um processo de inversão da nossa posição”, declarou Rui Garcia, o primeiro dos autarcas da Margem Sul a ser ouvido na ronda de encontros com o primeiro-ministro, na residência oficial do líder do Governo.

Para já, fica tudo igual. “Se não mudarem as circunstâncias, não muda a nossa posição”, avisou à saída da primeira reunião do dia. Por sua vez, o autarca do Seixal, Joaquim Santos, saiu mais “optimista” do encontro. Afirmou que o Governo reconheceu que o Campo de Tiro de Alcochete era uma escolha melhor (ainda que aponte Montijo como “a solução possível") e acredita que a decisão ainda não está fechada. Mas Costa parece não ter deixado espaço para essa discussão. 

“Temos de perceber que há um tempo para tudo. E o tempo para esse debate já foi encerrado”, declarou o primeiro-ministro. Haverá nova ronda de reuniões a 16 e 17 de Março, com os autarcas da Moita e do Seixal, respectivamente, para estudar “medidas para aliviar as consequências" para a população destas autarquias. 

As reuniões agendadas pelo Governo para esta manhã visavam negociar a posição do presidente da Câmara da Moita, Rui Garcia, e do presidente da Câmara do Seixal, Joaquim Santos. Os dois autarcas comunistas estão contra a construção do aeroporto do Montijo, o que bloqueia o avanço da instalação da infra-estrutura, uma vez que a lei prevê que a obra só possa avançar se reunir o parecer favorável de todos os municípios afectados.

Apesar das “posições diferentes no início e no fim”, o autarca do Seixal apontou o dedo ao “elemento invisível” da negociação, o grupo ANA - Aeroportos de Portugal. À saída do encontro, Joaquim Santos vincou que o Governo estava “amarrado” ao contrato com a accionista do projecto, que determina a construção da infra-estrutura no Montijo. Mas sublinhou que “existem condições para tomar outra opção”. O autarca do Seixal notou ainda que “Montijo é uma solução sem futuro” e que a construção do aeroporto em Alcochete permitiria a expansão do projecto a médio e longo prazo.

Foto
O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e o primeiro-ministro, António Costa, reuniram esta manhã com seis autarcas Mário Cruz/Lusa

Rui Garcia quis afastar de si a responsabilidade do bloqueio, vincando que a sua posição se baseia no estudo sobre “o vasto conjunto de consequências” que a construção do aeroporto trará para a região. “Precisamos de deixar muito claro que as nossas razões para darmos um parecer negativo são fundamentadas em relatórios sobre os impactos da localização para a população”, declarou Rui Garcia, que durou aproximadamente 45 minutos. “Só uma alteração profunda das circunstâncias é que pode justificar uma alteração da nossa posição”, concluiu.

Socialistas só falam “do que está em cima da mesa"

Já Frederico Rosa, presidente da Câmara do Barreiro, afirmou que a solução Alcochete não foi discutida na sua reunião. À saída do terceiro encontro da manhã, o autarca do PS vincou que a construção do aeroporto no Montijo trará “emprego e desenvolvimento fundamental à região”.

Também o presidente da Câmara de Alcochete, Fernando Pinto, afirmou que não discutiu a localização do aeroporto “porque essa decisão já foi tomada”.

“Qualquer infra-estrutura em Portugal é polémica. O interesse local é importante, mas superado pelo interesse nacional”, considerou Nuno Canta, autarca de Montijo. O socialista escudou-se também na necessidade de investimento a sul do Tejo e diz que só estaria em desacordo com uma solução na margem norte e não afasta uma relocalização da construção “em Alcochete ou até na Moita”. Caso o impasse se mantenha, será “muito mau para o país”.

“Qualquer estrutura aeroportuária terá impacto no ruído e na avifauna”, argumentou Nuno Canta. O socialista questionou também o sentido legal de uma autarquia bloquear “uma qualquer localização de uma obra para o país”. 

Da margem norte, o presidente da Câmara de Lisboa vincou que esta era uma decisão urgente, que se arrastava há demasiado tempo e com consequências para a economia e para o bem-estar da população. Fernando Medina diz que o país está “a pagar um preço elevado por ter adiado a decisão” e que o aeroporto de Portela “passou o limite da sobrecarga de gestão”.

Foto
O autarca do Seixal, Joaquim Santos, saiu da reunião a insistir que o novo aeroporto devia ser construído em Alcochete Mário Cruz/Lusa

Ao PÚBLICO, ainda antes do encontro com António Costa, o autarca Rui Garcia, que é também presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal, garantiu que não estava disposto a negociar contrapartidas. À saída do encontro, o presidente da Câmara da Moita afirmou que continua, para já, a defender a construção no Campo de Tiro de Alcochete (CTA).

Rui Garcia considerou que a reunião no Palacete de São Bento foi um encontro mais político e que a próxima reunião deverá ser mais técnica. No entanto, não adianta detalhes sobre o que espera ouvir por parte de António Costa e do ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos.

Na semana passada, também o presidente da Câmara do Seixal, o comunista Joaquim Santos, apontava que, até hoje, não tinha existido nenhum encontro formal com o Governo. Para o autarca, essa alteração dessas circunstâncias foi interpretado como sinal de que havia por parte do António Costa uma abertura para diálogo.

PÚBLICO -
Aumentar

Joaquim Santos afirma não compreender a “insistência” na construção da infra-estrutura no Montijo, “quando os estudos dizem que Alcochete é melhor”. “O senhor primeiro-ministro, quando era presidente da Câmara de Lisboa e quando estava no governo de José Sócrates, concordava com a opção Alcochete. Agora, como primeiro-ministro, decide ao contrário. Há-de haver uma razão forte”, considerou o autarca do Seixal, em declarações ao PÚBLICO, na véspera da reunião.

Sugerir correcção
Ler 31 comentários